Mais palmeirense do que nunca

28/7/2017 16:03

Mais palmeirense do que nunca

Mais palmeirense do que nunca

Na zona mista de algum dos estádios japoneses da Copa de 2002, um elenco argentino, incrédulo e eliminado, passa batido pelos jornalistas. A melhor seleção do Mundial não passara nem da primeira fase, e um dos que falou com a imprensa local, Simeone, disse algo interessante: "hoje sou mais argentino do que nunca". Ou seja, no momento da maior decepção possível, a resposta de alguém com caráter futebolístico é compensar com o maior engajamento possível. Solidário na maior dor de quem acreditou. É assim quando perde-se o jogo sem perder o norte, a identidade. Sabe quando seu time perde no domingo e você, de ressaca, ao invés de se disfarçar, decide vestir a camisa do clube no dia seguinte? É por aí.





Guardo este exemplo, mas não o uso como metáfora exata para a eliminação do Palmeiras na última quarta, em Belo Horizonte. Jogo o retrato argentino aqui por considerar o Palmeiras, antes de derrotado ou vencedor em um mata-mata qualquer, adoentado por algo que não se explica entre o apito inicial e o final, embora no período de um jogo a gente encontre, quando atento, os sintomas. Uma doença que a Turma das Polianas não quer ver, o Grupo dos Perseguidos não permite que se suponha, a Galera da Crucificação não permite que se analise e as células do organismo interno se negam a admitir: existe um Palmeiras se adoentando tal qual um tipo assíduo das aulas de malhação, que exibe músculos fenomenais mas recusa uma visita ao médico. Forte por fora, frágil por dentro.



Não gosto de criticar meu clube. Pessoalmente, nada ganho com isso - muito pelo contrário. Me exponho o suficiente para, como jornalista, ganhar o aposto de "palmeirense", o que há de fechar portas, sem no entando gozar da simpatia dos que no clube trabalham. Meu papel é o do antipático que faz e fez de tudo para se manter independente e capaz de tomar uma cerveja com qualquer um, do funcionário ao torcedor organizado, tipos eventualmente defendidos, ou criticados, sem necessidade de pisar em ovos para evitar melindre e sem interesse na manutenção hipócrita de relações - e, olha, tem dado certo.



Fiz amizades e fontes no clube exatamente pelas críticas e cobranças, sobre as lesões de Valdívia por exemplo, sobre o cerco à Turiassu por exemplo. Com sorrisos inofensivos, só colhi paternalismo podre. Na ESPN, tenho liberdade com meu editor, e critico a firma, que hospeda meu blog, com a mesma liberdade que dou para que meu editor cobre algo de mim. É apenas como deve ser. O pequeno desabafo pessoal deste parágrafo caminha em paralelo com o próximo.



Há mais em jogo do que ganhar ou perder campeonatos, reforçar o elenco e perder jogadores. Me cansei de bater na tecla, aqui e há anos, sobre a atenção que o momento pede de todos nós, um Palmeiras que transformou radicalmente seu terreno, suas receitas, teve em sua presidência um bilionário indialogável e agora tem uma patrocinadora que paga por um poder pra lá de discutível nos rumos do clube, que, portanto, em um período muito curto de tempo, teve de lidar com mudanças severas e estruturais em um futebol dilacerado pela representatividade nula de uma CBF que o Palmeiras apoiou, de um governo que tentou negociar dívidas que o Palmeiras não quis, de um Ministério Público que destruiu a capacidade de mobilização das arquibancadas, tudo em um cenário de precificação que detona o fator social que é missão de um clube de massa e gera desdobramentos graves na relação entre torcedor e clube, que é, afinal, o principal sintoma da doença que nos acometeu.



O palmeirense está com medo de se relacionar de verdade com seu time, a menos que seja em nome dos gols e das boas novas. Acredita na fragilidade sentimental de um elenco vaiado. Refém das dolorosas memórias das recentes vacas magras, não consegue questionar nem encarar quem ao menos engordou o gado. Dependente, carente, à espera de carinho, não quer estragar algo que sequer existe com uma vaia fora de hora. Viram-se os dedos do campo para a bancada, e já se diz mais vezes que a culpa de derrotas é da impaciência do torcedor do que da incompetência dos atletas. Ora. Nunca se apoiou tanto o Palmeiras.



Não estou nem falando dos números de público. É o time mais acostumado aos aplausos mesmo nas eliminações. Basta esforçar-se até o fim para recebê-los. Há quem se horrorize com qualquer xilique em uma arquibancada e quem, pasme, ache que um twitter (ou um blog) realmente interfere na jornada de trabalho de um clube do porte do Palmeiras. Há quem tente tapar os buracos dos vazamentos de opiniões, como se fossem de informações, na esperança vã de que isso não magoe os protagonistas das críticas - ou de que isso chegue aos olhos do amigo rival, ai, que vergonha deles.



E aí qualquer palavra vira palavrão, e todo mundo é meio vilão. Sou de 1984, caminho para meu 33º aniversário, passei a infância esperando os gols da rodada com Roberto Avallone, que segurava sozinho nesta cidade o fluxo esportivo noturno dominical que hoje é dividido entre internet, ESPN, Sportv, Fox, EI, PPV e o cacete, e sabe de uma coisa? Avallone era depravadamente palmeirense, mesmo no ar, a ponto de virar personagem de humor do (palmeirense) Marco Bianchi, cuja sátira dizia que em todos os blocos se falaria de "Palestra". Chico Lang, o corinthiano, era só o coadjuvante.



E você acha que eu cresci achando que o Palmeiras era perseguido pela imprensa? Mais: quantos de vocês aceitariam, sem insultos, um "Mauro Beting sãopaulino"? Mauro, ao escancarar o clube que torce, criou em parte dos palmeirenses uma relação quase psicótica na qual o leitor encara como obrigação do escriba achar sempre, sem hesitação, que foi pênalti para o Palmeiras e nunca contra o Palmeiras, que sempre foi gol do Palmeias e que sempre o Palmeiras jogou melhor e é melhor. Pedem imparcialidade dos outros, mas cobram parcialidade dos seus. E eu?



Eu só cobro um Palmeiras que se repense para 2018, independente dos resultados daqui pra frente, considerando que mata-mata de Libertadores pode acabar em surpresa. Esta temporada, sete meses depois de começada, não deu certo. Não andou bem. A gente precisa detectar onde estão os problemas, e se, por exemplo, detectarmos que o problema está no Mattos mas a Leila disser que sem o Mattos ela para de injetar dinheiro, dane-se, faça-se o que precisa ser feito, assuma-se os prejuízos disso para ter também o bônus das coisas certas, sem chantagem nem faca no pescoço, sem dar jeitinho, sem concessões para a gambiarra, sem ajustar para caber. Em campo e fora dele.



É rara a oportunidade de contar com tantos recursos e o Palmeiras tem, por isso, o dever de buscar obsessivamente o bom futebol, a montagem orgânica do elenco considerando a base e os veteranos, a ideia de jogo condizente com nossa história e que definitivamente não será Cuca o homem que vai construí-la, a relação com nosso torcedor suburbano, interiorano, nordestino e Avanti, organizado e comum, o ambiente, os Michéis Bastos que são "ofertas" de ocasião e não escolhas convictas, os Borjas que não foram corretamente observados, os Omares Feitosas e Mustafázes. O Palmeiras de 2017 não é um lugar saudável, e na doença eu faço como o atleta argentino e digo que sou mais palmeirense do que nunca - e serei até que veja muita coisa mudando. O Palmeiras é uma construção muito maior.



Então, se na hora do aperto a ideia for criar uma agenda positiva, não contem comigo, até porque sempre haverá alguém para dizer "por que não disse isso antes, seu oportunista?" ou "dê tempo para as coisas acontecerem, seu oportunista". Para alguns nunca é a hora certa de se discutir coisas inconvenientes. O Botafogo tinha Camilo e Montillo, os mais técnicos do time, perdeu ambos e se reinventou, tendo Roger, que a gente viu jogar aqui e não sente saudades, como artilheiro. Qual o real problema de, tendo parâmetros de sucesso e ideais de desempenho, cobrar frontalmente Cuca por não encontrar o caminho do time? Que medo é esse do que acreditam ser uma corneta? Felipão não se alimentava dos amendoins? O cargo e o salário estratorférico permitem cobrança dura.



Se o problema é ambiente - e eu acho que é também, mas não só -, resolva este problema. Se há pouco tempo para treinar, opte por um sistema mais simples de marcação. Se a base não fornece um lateral-esquerdo nota 5 que seja, cobre de quem manda na base, e, se fornece, banque-o, sem fazer a opção mais fácil. Se os problemas são reais, não venha me vender soluções alegóricas. Nada pessoal, nada sobre calças vinho. É a relação como ela tem que ser.



E a gente, que gosta mesmo do clube e o banca emocionalmente, cuida do resto. Cuida de brigar para o Palmeiras reencontrar um fio de meada perdido a respeito do próprio, vamos colocar assim, "palmeirismo", escamoteado pelo ódio aos alvos errados e pelo desgastante esforço para vencer as batalhas erradas. Um Palmeiras que trama jogadas e é solidário em campo e joga futebol médio acima da média do país é só o último e mais prazeroso passo. Antes disso, é bom cuidar da saúde do todo. E eu só escrevo tudo isso porque acredito que dá para o Palmeiras se tornar o grande time do país na próxima década - assim como dá para, nessa empáfia irrefletida, se tornar o time mais arrogante do Brasil, na cidade mais careta do futebol, ilhado pelas próprias teorias de perseguição.



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5877 visitas - Fonte: ESPN FC

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A verdade nua e crua. Mais uma vez parabéns.

sempre Palmeiras

aqui palmeiras porra vencendo ou perde ndo

palmeiras ate o fim

sou palmeirense na vitoria e na derrota
e visto minha camisa tambem quando nao ganhamos
palmeiras ate o fim

Parabéns. Texto muito inteligente e elaborado

boa analogia pars reflexão de alguém que parece conheder e saber o que está falando, concordo com tudo não por simplesmente ser um torcedor leigo e estar de fora mas por ser coerente nas colocações.

sou palmeirense ate a morte

Realmente um belo texto. Só gostaria de saber quem é o autor.

elimado pelo cruzeiro com elenco deste
.e merda sim .vai cagar.. ninguem e modinha 5

Fica ai A Dica pros Torcedor Modinha,
Que pra Eles o Palmeiras só é time pra se torcer quando se esta ganhando.
e quando nao esta perdem o seu tempo pensando em como meter o pau no time.

aff que texto chato...

falou tudo

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