A informação foi apurada pelo ESPN.com.br com fontes de diferentes alas da política do Palmeiras. E o próprio Mustafá não nega a informação.



"Isso é problema dos administradores que estão lá. Tenho um órgão no clube para me manifestar. Publicamente, não tenho nada a opinar. A minha opinião eu dei lá atrás, no começo do ano", disse o cartola, à reportagem.



Pouco antes de que a bomba sobre o repasse irregular de ingressos - divulgada com exclusividade pela ESPN -, Mustafá esteve com Leila Pereira na Crefisa para pedir pelo fim nos investimentos feitos pela empresa, que não paga apenas o patrocínio na camisa, mas também por reforços, reformas e melhorias de infraestrutura no clube. No entanto, não obteve sucesso.



Por diversas vezes, Mustafá também tentou colocar fim aos investimentos por meio do presidente Mauricio Galiotte, que não acatou aos pedidos - conforme apurou a reportagem, os dois estão afastados politicamente do Palmeiras.



Mustafá Contursi amanheceu na quinta-feira extremamente irritado com a derrota para o Vitória por 3 a 1 na noite desta quarta-feira. E passou a atacar ainda mais os investimentos feitos nas partes estruturais do clube, ao lado de seus diversos aliados nos bastidores alviverdes.



O ex-presidente vive, internamente, seu momento mais delicado na política palestrina nos últimos 20 anos, inclusive com acachapantes derrotas no Conselho Deliberativo. No último dia 31, o órgão se reuniu para a votação de itens para a reforma estatutária do clube, que viu seu mais conhecido cartola sofrer importantes reveses.



A polêmica dos ingressos rendeu a abertura de inquérito policial no Ministério Público, por meio do promotor Paulo Castilho. Ele prometeu chamar o ex-presidente para ser ouvido, já que ele está supostamente ligado ao escândalo que tomou conta do Palmeiras nos últimos dias.



Entenda o caso



A empresária Leila Pereira, dona da Crefisa, recebe uma carga de ingressos do Palmeiras em todas as partidas do clube por conta de acordo no pacote de patrocínio. Além da cota de permuta, ela também compra outra leva de entradas do próprio bolso direto da WTorre - que também tem sua leva de entradas - e distribui em ações sociais e outras atividades. Tais ingressos, contudo, não podem ser revendidos.



A cada jogo, a Crefisa repassava 70 ingressos para o ex-presidente Mustafá Contursi, a troco de manter um bom relacionamento com o cartola, que é o mais influente no Conselho Deliberativo alviverde.



Entretanto, Mustafá repassava as entradas para uma - segundo várias fontes distintas do clube - "protegida" do ex-presidente. Essa mulher, então, levava os ingressos para um membro de uma das principais torcidas do Palmeiras, que os revendia aos torcedores.



Só que, em determinado momento, a "protegida" de Mustafá parou de receber os ingressos. Acabou sendo ameaçada de morte pelo integrante da torcida que revendia as entradas aos organizados, em rusga que foi parar entre os conselheiros nos últimos dias.



Preocupada com sua integridade física, a mulher recorreu ao conselheiro Paulo Serdan, que é ex-presidente da principal torcida organizada alviverde. Ele, então, conversou com Seraphim Del Grande, presidente do Conselho Deliberativo, que confirmou a história à reportagem.



O presidente do Palmeiras, Mauricio Galiotte, tomou conhecimento sobre o imbróglio e está acompanhando de perto o desenrolar junto ao Conselho Deliberativo do clube.



"Recebi a carta do patrocinador e estamos vendo uma acusação. Cita o nome de uma pessoa que entregava os convites, Eliane. Quando houve um telefonema da Leila para mim falando sobre esse caso, eu imediatamente, como o Serdan é conselheiro, pedi um encontro com ele. Confirmou que teve essa conversa com essa tal Eliane e esse rapaz que vende ingressos", disse Seraphim, presidente do Conselho.



"Pedi que a Crefisa me mandasse essa situação. Mandou, e agora vamos apurar o envolvimento das pessoas, até que ponto vai, se precisa abrir uma sindicância ou não", continuou o mandatário do órgão.



A dona da Crefisa, Leila Pereira, se disse "estarrecida".



"Não tinha nenhum tipo de informação sobre essa revenda de ingressos, mas como chegou essa informação é necessário que o Palmeiras apure tudo com o devido rigor. Eu nunca soube disso e assim que soube fiquei muito chateada e estarrecida. Entendo que o Palmeiras deve fazer uma apuração rigorosa", desabafou Leila.



Já sobre o envolvimento do ex-presidente, Seraphim afirmou que a denúncia cita apenas "uma pessoa (Eliane) que tem ligações com o Mustafá, uma sócia. Achava que era funcionária da Crefisa, mas dizem que em momento algum foi funcionária de lá, apenas estava lá e que tinha relação com o Mustafá. Vamos apurar isso".



O ex-presidente Mustafá também foi procurado, mas não quis comentar sobre o assunto. "Não tenho nada a falar. Também tinha ingressos que distribuía para pessoas do clube. Mas vou aguardar os acontecimentos e não tenho nada a falar no momento sobre isso".



Após a divulgação por parte da ESPN, o promotor Paulo Castilho, do Juizado Especial Criminal, pediu abertura de inquérito por crime de cambismo no clube.



"Ao tomar conhecimento pela imprensa de que a Crefisa distribuía ingressos gratuitos que eram revendidos por R$ 250, tomei a providência que sou obrigado a tomar pelo cargo que ocupo e pedi pela abertura de inquérito para investigar crime de cambismo, que já está nas mãos do delegado Sérgio, da delegacia do torcedor", disse o promotor.

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