Futebol nos tempos do golpe: Como estava o esporte há 50 anos

O que acontecia no futebol nacional durante a instalação do golpe

Uma das principais publicações esportivas da época, a Gazeta Esportiva Ilustrada trazia o lateral palmeirense, Geraldo Scotto na capa | Crédito: Gazeta Press





No dia 1° de abril de 1964, instalou-se a Ditadura Militar no Brasil. O regime que duraria 21 anos, no entanto, não paralisou o futebol no País.



No período do golpe, tantos os estaduais quanto a Taça Brasil, o Campeonato Brasileiro da época, criado em 1959, estavam paralisados. Os clubes viviam uma espécie de pré-temporada, jogando amistosos e um dos torneios mais importantes da época, o Torneio Rio-São Paulo.



Naquele ano de 1964, o Rio-São Paulo teve seu início no dia 14 de março, com o jogo entre Portuguesa e São Paulo, vencido pelos lusitanos por 3 x 1. O torneio foi disputado por 10 equipes (cinco de cada estado), e seria decidido nos pontos corridos. Bangu, Botafogo, Flamengo, Fluminense e Vasco representavam o Rio. Corinthians, Palmeiras, Portuguesa, Santos e São Paulo eram os paulistas.



O futebol brasileiro era o bicampeão do mundo, e já tinha vaga garantida para a Copa do Mundo da Inglaterra, dali a dois anos.



No entanto, a CBD (Confederação Brasileira de Desportos) ainda não havia uma boa organização. Os principais torneios ainda eram os estaduais, enquanto a Taça Brasil ganhava força.



O Rio-São Paulo tinha força por reunir as melhores equipes dos dois estaduais mais fortes do Brasil.



O torneio contava com o Santos, atual bicampeão da Libertadores e vencedor de quatro dos últimos seis Campeonatos Paulista.



O atual campeão estadual era o Palmeiras, que também tinha uma equipe muito forte. No Rio de Janeiro, que deixara de ser capital do País recentemente, o Flamengo era o atual campeão, após o bicampeonato do Botafogo.



No dia seguinte ao golpe, em 1° de abril, o líder do torneio era o Santos, com seis pontos (3 vitórias em 3 jogos), seguidos de Palmeiras, Flamengo e Botafogo, com quatro pontos cada. Portuguesa, Bangu e Corinthians tinham dois; Fluminense e Vasco tinham um; e o São Paulo nenhum ponto.



A Folha de S.Paulo de 1° de abril de 1964 destacava a goleada do Palmeiras contra o Náutico, em série de amistosos no Recife. O Verdão vencera por 4 x 0.



Além dos clubes do eixo Rio-São Paulo, o Bahia era outro time brasileiro que está em destaque no Brasil. O clube estrearia ali dois dias na Copa Libertadores da América, em casa, contra o Deportivo Itália, da Venezuela.



Em casa, o Bahia não sairia do empate em 0 x 0 com a equipe campeã venezuelana. No dia oito de abril, na Venezuela, o Bahia seria eliminado com derrota de 2 x 1.



O Rio-São Paulo, por sua vez, só terminaria em dezembro, com Santos e Botafogo empatados em primeiro lugar, com 14 pontos. Por isso, as equipes ainda disputariam dois jogos-extra em 1965. O Botafogo venceria no Rio por 3 x 2, mas, sem tempo para a segunda partida, os dois times foram considerados os campeões do torneio.



Em Minas Gerais



Um ano após o golpe, seria inaugurado o principal palco do futebol mineiro, o estádio do Mineirão, em amistoso da seleção Mineira, que venceu o River Plate por 1 x 0.



O estádio foi batizado com o nome do então governador do estado das Minas Gerais, e um dos principais personagens do golpe, Magalhães Pinto, que ainda se tornaria um dos signatários do AI-5, durante o período.



No Rio Grande do Sul



O futebol do Rio Grande do Sul acabou ficando um pouco de lado, devido à importância do Estado na resistência ao golpe. O antigo governador do Rio Grande do Sul, e defensor do governo brasileiro, Leonel Brizola, ajudou o presidente deposto, João Goulart, dando-o asilo político no local, até seu exílio no Uruguai.



No período, o Grêmio fazia amistosos no Estado, aguardando o inicio do Campeonato Gaúcho. O último jogo antes do golpe, dia 29 de março, foi com uma vitória de 2 x 1 sobre o Aimoré. O primeiro após foi no dia 8 de abril, em vitória de 3 x 2 sobre o Floriano.



O Inter, no mesmo período, também disputava jogos amistosos no Rio Grande do Sul. Antes do golpe, o último jogo da equipe fora um empate em 0 x 0 com o Aimoré. No pós-golpe, o primeiro jogo foi uma vitória de 4 x 2 sobre o Rio Grande.



Seleção brasileira



Antes do golpe, o Brasil não disputou partida alguma no ano de 1964. O primeiro jogo viria apenas no dia 30 de maio, no Maracanã, em clássico contra a Inglaterra, que viria a ser campeã do mundo dois anos depois.



Com Vicente Feola no comando, o Brasil entrou em campo com Gylmar; Carlos Alberto Torres, Britto, Joel Camargo e Rildo; Roberto Dias, Gérson e Julinho; Vavá, Pelé e Rinaldo. A vitória foi do Brasil por 5 x 1, com gols de Rinaldo (2), Pelé, Julinho e Roberto Dias.



Como terminaram os principais torneios do Brasil em 1964



Copa Libertadores: Independiente (ARG) campeão, Nacional (URU) vice; Santos (semifinalistas), Bahia (eliminado na primeira fase)

Taça Brasil: Santos campeão, Flamengo vice

Torneio Rio-São Paulo: Santos e Botafogo campeões

Campeonato Paulista: Santos campeão, Palmeiras vice

Campeonato Carioca: Fluminense campeão, Bangu vice

Campeonato Gaúcho: Grêmio campeão (Tri), Internacional vice

Campeonato Mineiro: Siderúrgica campeão, América vice



Jogos da seleção brasileira:



30/05 - Brasil 5 x 1 Inglaterra (Amistoso) - Maracanã

03/06 - Brasil 0 x 3 Argentina (Taça das Nações) - Pacaembu

07/06 - Brasil 4 x 1 Portugal (Taça das Nações) - Maracanã