Vestindo terno pela primeira vez, Estêvão carrega a simplicidade no sorriso, no olhar e no sermão bíblico que ouvia do pai, Ivo, quando ainda criança, jogando nos campinhos de terra de Franca, no interior de São Paulo. "Deus tira o pobre do pó e o faz sentar com os príncipes", dizia Ivo ao filho. – Agora estou sentado entre os príncipes. Nunca esqueço da cidade que vim e acho que isso é a lição de ter meu pai pastor, que me ajudou a me blindar dos maus do mundo – conta o atacante, tentando encontrar as palavras, ao receber três prêmios no Bola de Prata, prêmio dado por Revista Placar e ESPN aos melhores do Brasileirão.

Aos 17 anos e após viver sua primeira temporada como profissional no futebol, a joia do Palmeiras compartilha sonhos de título nas Olimpíadas com a Seleção, a importância de Abel Ferreira e seus planos para 2025, quando terá seis meses no clube até se transferir ao Chelsea, na Inglaterra. – Quero evoluir como pessoa, como atleta e sei que ano que vem tem desafios ainda maiores, com mudança de um país, mas antes disso quero trazer uma versão do Estevão ainda melhor que em 2024 – afirma. Estreante na categoria, terminou a temporada com 19 gols e 12 assistências, quebrou o recorde de Neymar em número de participações decisivas no Brasileiro - com 22 contra 16 do mais velho - e passou perto de se tornar o artilheiro mais jovem da história da competição, antes de ser ultrapassado por Yuri Alberto, do Corinthians, e Alejandro, do Vitória.

Foi uma temporada, pode-se dizer, em que precisou mudar a mentalidade de menino para homem - ou ao menos quase isso. E é no suporte dessa transformação que a família virou fundamental. – Eles me blindaram, não botaram pressão e simplesmente falaram: se diverte. Não vejo como peso, vejo como forma de retribuir por tudo que fizeram por mim, de abandonar a família, a cidade, para estar vivendo o sonho meu que se tornou o sonho deles – defende. – Com 17 anos… Weverton não gosta que eu fale, mas estou no meu parque de diversões. Onde eu mais queria estar. Só quero jogar futebol que é o que mais amo. Não é um fardo, é poder dar alegria pra torcida, ao Palmeiras, minha família. – Disse o atacante.

Assim como o restante do elenco, Estêvão sai de férias agora no fim de 2024 e se reapresenta em janeiro para a temporada de 2025. Ele defenderá o Palmeiras até o Mundial de Clubes, entre junho e julho, e se despede na competição para se transferir ao Chelsea, na Inglaterra. Veja outros trechos da entrevista Balanço da temporada – Realizei muitos sonhos ein? Primeiro sonho era subir pro profissional, consegui. Consegui ser titular, consegui ajudar o Palmeiras , fui vendido e creio que esse ano foi maravilhoso, vai ficar marcado na minha carreira. Só tenho a agradecer a Deus, minha família, ao Palmeiras , meu staff, por estarem sempre comigo. Realização de um sonho que estou vivendo hoje de fruto de um trabalho. Importância de Abel Ferreira – Acho que Abel foi um cara fundamental pra mim, me ensinou a jogar taticamente, porque quando eu cumpria fui ganhando cada vez mais espaço no time e pude fazer isso da melhor forma até atingir meu objetivo que era de ser titular e ajudar o Palmeiras . Mudança de funções entre jogar por dentro ou na ponta – Como João Paulo (Sampaio, coordenador) fala na base, a gente tem sempre que estar preparado pra todas as situações. Eu fui me adequando de ponta no fim da base, no começo era meia, fui me adaptando pra ter mais contato, um contra um. Minha característica realmente é mais como meia, onde me sinto mais confortável, mas tanto uma quanto outra sei que posso dar o meu melhor. Sair protagonista já ajuda no Chelsea? E os elogios de Felipão? – Não só do Felipão, como outras pessoas aqui que encontrei e fizeram história no futebol brasileiro. É sempre bom receber conselhos dessas pessoas. Amadureci muito nesse tempo de Palmeiras no profissional. A escolha de jogar no Chelsea – Fico muito feliz com minha decisão. Tenho certeza que foi a decisão certa pelo planejamento que eles fizeram e chegando lá vou trabalhar pra tentar ter meu espaço. Vou estar sempre buscando jogar. Muito se fala sobre a promoção de jogadores da base que jogam no meio e viram pontas no profissional. Pode se ver voltando para o meio? – Com certeza esse é um objetivo meu, voltar pra posição que me sinto mais confortável. Sei que garanti meu espaço aqui como ponta, que tem muitos como meia, mas creio que daqui a alguns anos vou estar voltando pra minha posição de novo. Sonha com Olimpíada? – Com certeza também é um objetivo meu. Vi o Brasil ganhar com Neymar a primeira e tenho o objetivo também, se tiver a oportunidade de jogar. Creio que não só esse, mas todos os títulos possíveis pela Seleção. E o gol de cobrança de falta? – Cobrança de falta eu sempre bati na base, treino após os treinos. Acaba que no Palmeiras tem o Veiga como cobrador oficial, mas converso com ele ali, sempre busco isso para tentar ter o máximo de repertório possível.