O caso aconteceu na Rua Padre Antônio Tomás, ao lado do Allianz Parque, antes do jogo entre Palmeiras e Flamengo, pelo Campeonato Brasileiro. Grupos de palmeirenses e flamenguistas entraram em confronto, separados por um portão, antes do jogo do dia 8 de julho. Vários objetos foram atirados, entre eles algumas garrafas. Uma delas se espatifou, e estilhaços atingiram a jugular de Gabriela. Ela foi levada ao Hospital Santa Casa, na Vila Buarque, mas sofreu duas paradas cardíacas e morreu dois dias depois.

De acordo com as investigações do Departamento Estadual de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP), câmeras de reconhecimento facial do estádio do Palmeiras ajudaram a identificar Jonathan Messias Santos da Silva como o autor da garrafa lançada. A informação constou no pedido de prisão feito pelo Ministério Público de São Paulo. – Era um cara de barba, ele entra no estádio logo depois, é identificado pelo reconhecimento facial que tem no estádio, era a mesma pessoa – afirmou na ocasião Ivalda Aleixo, delegada do DHPP, que comandou as investigações.

A perícia identificou ainda o som da garrafa se quebrando no instante em que Gabriela é atingida. – A gente separou os ruídos de quando a garrafa bate, tem estilhaço e, em um segundo, atinge a Gabriela. Tem imagem dele pegando uma garrafa no chão. Ele se levanta, joga. Não tinha mais nenhum objeto naquela direção que fosse causar o ferimento que causou na Gabriela – disse a delegada.

Segundo ela, uma outra garrafa lançada por um palmeirense em direção aos torcedores do Flamengo ocorreu depois que Gabriela já estava com a mão no pescoço. Os investigadores afirmaram que o laudo necroscópico indicou que a lesão fatal causou um corte de 3cm e provocou grave hemorragia.

Defesa alega inocência. Jonathan Messias, preso preventivamente desde agosto de 2023, é servidor público na cidade do Rio de Janeiro. Ele é concursado para o cargo de professor do ensino fundamental, mas atuava como diretor da Escola Municipal Almirante Saldanha da Gama, em Campo Grande, na zona oeste da capital fluminense. Seu advogado, José Victor Moraes Barros, afirma que o cliente é inocente. – Não tem como eles comprovarem que a garrafa (que se quebrou e atingiu Gabriela) foi a do Jonathan. Ele faz o lançamento da garrafa e tudo mais, mas não foi a garrafa dele. Inclusive as testemunhas, os guardas municipais (que estavam no local) atestam que não sabem informar se foi a garrafa dele ou não – afirma o advogado de defesa José Victor Moraes Barros.

Os advogados da família de Gabriela Anelli defendem os resultados da investigação. – As provas falam, são muito claras, e o que a gente vai demonstrar no júri é o que está no processo. Existem perícias feitas com última tecnologia, o DHPP trabalhou muito bem. Então, temos certeza de que efetivamente a garrafa que atingiu a Gabriella foi a garrafa arremessada pelo Jonathan, réu desse caso – diz o advogado Yohann Sade.

Os pais de Gabriela Anelli passaram a morar em Curitiba no fim do ano passado, com o filho, a nora e os dois netos. Viajaram a São Paulo para acompanhar o julgamento. A família é toda palmeirense. Eles contam que pela primeira vez os três estavam indo ao estádio juntos. – Ela foi antes com o namorado, que era da TUP. Ela não era de nenhuma torcida organizada, mas conhecia quase todo mundo, se dava bem com todos – diz a mãe Dilcilene Prado Anelli.

- Eu estacionei a moto no posto de gasolina perto do estádio e mandei mensagem pra ela. Ela respondeu que estava indo ajudar o pessoal a carregar o material da torcida. Marcamos de nos encontrar mais tarde, mas começou a demorar muito e nada de ela chegar – diz o pai, Ettore Marchiano Neto. O jogo começou, o sinal do celular sumiu e os pais não conseguiram encontrar a filha no estádio.

E só ficaram sabendo depois da partida que Gabriela estava no hospital, ferida por estilhaços de uma garrafa. Quase dois anos depois da tragédia, os dois afirmam que estão fazendo tratamento psiquiátrico contra depressão. Têm crises constantes de pânico e ansiedade. – Não sei o que vai ser da gente. A gente não tem mais vontade de viver. No ano passado, eu tentei autoextermínio, fiquei uma semana internada, e pensava “minha filha lutou tanto pra viver, eu não posso tirar minha vida”. Mas não existe cura pra uma dor dessa, só vai passar quando a gente se for – diz a mãe Dilcilene.

- A gente quer que seja feita Justiça, pra que não aconteça mais com nenhum pai nenhuma mãe. Você não pode ir pra um lugar pra se divertir e enterrar a filha dois dias depois. – Não se paga sangue com sangue, eu sei. Eu particularmente não quero saber dele (do réu) nem da família dele. Sentimento por ele é nada, nulo, zero, só quero que ele pague pelo crime que ele cometeu. A vida da família dele também está revirada, mas ele está vivo, né. A minha filha não – afirma Ettore.