Fernandão comemora gol pelo Fenerbahce: artilheiro implacável na Turquia
Quando o Fenerbahce, da Turquia, anunciou a contratação do atacante holandês Robin van Persie, ex-Arsenal e Manchester United, todos imaginaram que ele fosse ser titular absoluto e artilheiro da equipe de Istambul. Só que o atacante não esperava encontrar José Fernando Viana de Santana pela sua frente.
Trata-se do atacante Fernandão, que no Brasil passou por Palmeiras, Atlético-PR e Bahia, entre outros clubes. Jogando na Turquia desde 2014, quando transferiu-se para o Bursaspor, ele foi artilheiro do campeonato local em 2014/15, sendo contratado pelo Fener na sequência. A fase é tão boa que não teve jeito para Van Persie: virou banco do carioca de 28 anos.
Na última quinta-feira, aliás, foi do centroavante brasileiro o tento da vitória por 1 a 0 sobre o Ajax, pela Liga Europa, que colocou a equipe aurinegra na vice-liderança do grupo A. Dessa vez, Fernandão começou entre os reservas, mas entrou no lugar do inoperante Van Persie e, quase nos acréscimos, anotou de cabeça para dar o triunfo ao seu time.
Feliz da vida, ele conversou com o ESPN.com.br logo após a partida e celebrou aquele que definiu como o melhor momento de sua carreira, que começou em 2007, no América-RJ.
"É o melhor momento da minha carreira, desde que estava no Bahia e cheguei à Turquia. Tudo isso é fruto do meu trabalho. sempre me dedicando ao máximo no treinamento de forma muito séria. E está dando tudo certo! Era o meu sonho atuar na Europa. Vim para Turquia para chegar a um dos grandes, trabalhei muito para isso e conquistei. Agora é continuar com o foco e poder conquistar títulos aqui, é o que mais quero", discursa.
"O gol de hoje [ontem] foi importante, mas a vitória foi muito mas, precisávamos disso porque vínhamos de um empate. Foi muito difícil o jogo contra o Ajax, mas o time pegou ainda mais confiança agora", completa.
Sobre o fato de ter colocado Van Persie, astro internacional e com três Copas do Mundo no currículo, na reserva, o próprio brasileiro admite surpresa. No entanto, Fernandão exalta o trabalho do técnico português Vítor Pereira, que, de acordo com o camisa 9, não escala jogador pelo nome.
"Todo sabem o que ele [Van Persie] é capaz e do currículo, mas isso me motiva ainda mais para atuar ao lado dele. Quero treinar mais e me dedicar sempre mais, porque sei que tenho condições de jogar não porque tenho nome mais ou menos nome que ele, mas porque estou bem", brada.
"(Quem começa jogando) É opção do treinador, e temos sempre que respeitar isso. Eu respeito quando vou para o banco, assim como o Van Persie me respeita quando eu estou de titular. Quem ganha com isso tudo é time, a gente precisa de ambos sempre bem para estar bem", acrescenta, sem rivalizar com o holandês.
Com 8 gols marcados até agora na temporada 2015/16, o centroavante tem um objetivo ambicioso: ser um ídolo no Fenerbahce na mesma proporção do ex-meia Alex, que é considerado um dos maiores atletas da história do tradicional clube turco.
"O Alex é um dos grandes ídolos por aqui, e sonho um dia em poder fazer história e conquistar títulos cmo ele conseguiu. Se chegar um pocuo perto do que ele fez, estará ótimo! Quero ser ídolo um dia também", sonha.
Passagem pelo Palmeiras
Revelado pelo América-RJ, Fernandão rodou por várias equipes, como Volta Redonda, Macaé e Paysandu até chegar ao Guarani, em 2011, clube no qual despontou. Depois de um bom Paulistão, reforçou o Palmeiras, então comandado pelo técnico Luiz Felipe Scolari, por empréstimo, e, logo de cara deixou uma excelente impressão.
Fernandão não emplacou no Palmeiras
"Eu estreei fazendo o gol da vitória por 2 a 1 em um clássico contra o Corinthians, em Presidente Prudente. Foi muito importante para mim, porque com isso tive sequência no time. Eu fiz bastante jogos, mas, infelizmente, não fiz muitos gols. Até hoje lembro certinho do Assunção cruzando, eu me posicionando, matando no peito e completando para o gol. A torcida sempre me lembra pelo gol e pela vitória, isso é muito bacana", lembra.
Mas, então, o que deu errado?
"Acho que faltou experiência e mais dedicação da minha parte. Não culpo ninguém, culpo a mim mesmo. O jogador só depende dele para as coisas acontecerem. Lógico que não era o meu momento, mas precisamos sempre estar bem e saber aonde queremos chegar. O mais importante é consegui dar a volta por cima e hoje estar bem", salienta, humilde.
Dos tempos de Palestra Itália, guardou o carinho dos companheiros e algumas amizades. Até hoje, se lembra das gargalhas que dava ao lado do também atacante Maikon Leite.
"Uma vez, durante um treino, o Maikon ficou enchendo o nosso saco e nos perturbando sem parar, ele era uma 'mala' (risos). Então, armamos uma pegadinha pra ele. Quando acabou o treino, agarramos o coitado, amarramos e o jogamos na lata do lixo dentro do armário. Ele é muito folgado, mereceu (risos)", gargalha.
Sem emplacar, Fernandão caiu no ostracismo no Palestra Itália e ficou esquentando o banco, enquanto Ricardo Bueno jogava como titular. Sem chances, foi contratado pelo Atlético-PR em definitivo no ano seguinte do Tombense-MG, equipe que possuia seus direitos.
Seleção turca?
Fernandão chamou a atenção do Bursaspor em 2013, quando fez excelente Brasileirão pelo Bahia (emprestado pelo Atlético-PR) e ganhou o apelido de Fernandowski, em referência ao polonês Robert Lewandowski, e também de Soldado Tricolor, por comemorar seus gols batendo continência para a torcida.
"Eu estava muito bem no Bahia e aí surgiu o convite para jogar na Turquia. O Bahia é um clube que possibilitou o grande salto da minha carreira. As coisas mudaram demais por lá, e guardo especialmente a torcida com bastante carinho", ressalta.
Ficou no radar do clube turco, que o contratou em 2014, quando o artilheiro tinha acabado de voltar ao Atlético-PR. O sucesso em Bursa foi imediato, com 39 gols em 63 partidas, o que rapidamente fez com que o Fener corresse atrás do matador.
A fase do centroavante é tão boa que a própria imprensa do país já está fazendo lobby para que Fernandão se naturalize turco, para que seja convocado pela seleção - vale lembrar que a equipe já está classificada para a Eurocopa de 2016, na França.
E aí, topa?
"Olha... Eu penso em conquistar títulos aqui e acho que estou bem. Não sei se é a minha hora, e não sou eu quem decide. Já escutei algumas conversas aqui sobre a seleção turca, e deixei bem claro que, se houver esse interesse, eu aceitaria com o maior prazer", diz.
"Mas tem que ser bem pensado, porque não sabemos o dia de amanhã, até mesmo na seleção brasileira... Prefiro manter meu foco, jogar bem e esperar a oportunidade", afirma.
A vida em Istambul, aliás, fez bem ao jogador, que já se considera plenamente adaptado aos costumes turcos. O que ajudou bastante na aclimatação foi o emprego que Fernandão teve antes de virar atacante.
Fernandão é cumprimentado pelo técnico Vítor Pereira
"Eu trabalhei com muitas coisas na vida. Eu vendia tapete, morava já com a minha esposa e precisávamos ganhar dinheiro, tinha que me virar e ter uma boa lábia para isso, né? Minha sogra fazia o tapete e a gente vendia, tinha correr atrás. Eu entendo bem ainda disso! Aqui na Turquia, eles têm o famoso tapete persa. O que eu vendia custava R$ 15, mas os daqui custam uns R$ 15 mil (risos)", sorri.
"Eu fui nos mercados e é engraçado que eles querem sempre negociar tudo, mas eu entendo disso e não deixo me enganarem! Tem os paralelos que são mais baratinhos, custam R$ 100. Minha mãe sempre pede alguma coisa daqui nas viagens, eu levo umas coisas pra ela, mas o tapete persa original não dá, né? Tá doido! (risos)", brinca.
Mas, do jeito que as coisas andam, não deve demorar para o novo sultão da Turquia ganhar um belo tapete persa de um dos milhares de fãs do Fenerbahce.
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