Craque pendurou as chuteiras no fim do ano passado, no Coritiba (Divulgação)
Queimando a roupa de jogador. É neste estágio da vida que Alex se encontra. Aposentado desde dezembro passado, o ex-meia de 38 anos entende que precisava de um tempo longe da bola para colocar em prática, no futuro, uma ideia: a de ser treinador. “Tenho tempo para passar os fins de semana com a família, consigo ver a minha filha jogar tênis”, diz Alex, que ainda divide seu tempo como comentarista dos canais ESPN e escritor de sua biografia, que será lançada nesta terça-feira, às 17h, na Livraria Cultura, do Conjunto Nacional, em São Paulo.
Nesta entrevista exclusiva, o craque de Palmeiras, Cruzeiro e Coritiba fala como enxerga o futebol, revela que teve ofertas para virar técnico ao longo deste ano, conta que fará um curso da CBF para trabalhar à beira do campo e justifica por que vários nomes consagrados no Brasil vivem momentos delicados na carreira de treinador.
BLOG_ Já faz quase um ano que você se aposentou. Arrependeu-se em algum momento de ter parado?
ALEX_ Eu parei na boa, não sinto falta de jogar. Só fico saudoso quando sai uma falta fora da área e vejo o cara batendo a bola na barreira ou longe do gol. Imagino que teria feito o gol. Falta é treino. Se não marcou, é porque não treina, treina pouco ou não tem confiança.
Dá para cravar que você se tornará treinador?
É uma possibilidade. Talvez a mais real. Mas só na hora que eu tiver qualificações e a documentação necessária. Quando anunciei que pararia, sabia que precisava tirar a roupa de futebol, fazer cursos de gestão, de treinador. No meio disso, apareceu a chance de ser comentarista na ESPN Brasil e foi bom para que eu pudesse ver o futebol sob outro prisma.
E já fez algum curso para ser técnico?
Vou começar um da CBF no ano que vem. Ele tem um ano e meio de duração e, pelo que sei, terá chancela da Uefa. Minha ideia é participar de todos os blocos, até porque eu não fiz faculdade de educação física. Foram 20 anos de prática, mas preciso dessa parte teórica.
Já teve algum convite para ser treinador?
Cinco clubes já me convidaram, todos da Série B.
Quais clubes?
Não posso dizer.
Mas não cogitou aceitar nenhum deles?
Tem vários técnicos que a gente vê por aí que só duram porque gritam muito. Ou porque são amigos de alguém. Eu não quero ser assim. Quero me sentir capacitado, com condição para ter uma carreira longa.
E quando estará pronto?
Em 2017 já vou ter capacidade. Se vou ser ou não, aí é outra coisa. Mas a parte de documentação e as coisas burocráticas estarão resolvidas.
Como tem sido a vida depois da aposentadoria?
Meu trabalho na TV é bem equilibrado, então, consigo fazer tudo o que eu nunca pude ao lado da minha família. A começar por ter o fim de semana com eles. Outro dia, passamos o sábado e o domingo no Rio, como turistas. Agora, também participo dos aniversários dos meus filhos, das atividades da escola… Tenho assistido a quase todos os jogos de tênis da Maria Eduarda (a filha de Alex tem 11 anos e é a 14ª no ranking nacional da categoria).
Como sua mulher vê a ideia de você voltar ao futebol para ser técnico?
Talvez a Daiane seja a pessoa que mais me incentive a ser treinador. Antes, quando eu falava de conceitos e táticas, ela dizia que eu tinha de pôr essas ideias no futebol. São 15 anos de casamento, mais três de namoro, então há muita parceria.
Você nunca escondeu o carinho por Coritiba, Palmeiras e Cruzeiro. Poderia começar a vida de técnico em um deles?
Eu nunca vou treinar o Coritiba. Sou apenas um torcedor do Coritiba e é assim que será. O que eu tinha para contribuir, já fiz como atleta. E os dois últimos anos foram de um desgaste que eu não quero mais ter.
Não há restrição em relação ao Palmeiras, então?
O Palmeiras, não. A diferença é que eu cresci no Coritiba, vivi boa parte da minha vida dentro do Couto Pereira. Então, é diferente. Até meus três filhos, principalmente o Felipe, são fanáticos pelo Coxa.
Mas você se emocionou, por exemplo, quando foi comentar o jogo do Palmeiras contra o Fluminense, na semifinal da Copa do Brasil.
Eu me emocionei muito, porque entrei no Allianz Parque e passou um filme na cabeça: o Palmeiras apostando em um menino, que se transformou em jogador. Então, sempre que falam de Palmeiras e aquele período (de 1997 a 2000), me emociona realmente.
Alex em um dos momentos de lazer com os três filhos (Arquivo pessoa)
Qual o maior jogo que você fez pelo Palmeiras?
Contra o River Plate, na semifinal da Libertadores de 1999. Praticamente tudo o que fiz naquele dia deu certo (o Palmeiras havia perdido na Argentina por 1 a 0 e venceu na volta por 3 a 0, com dois gols de Alex).
E o título mais saboroso?
O desta mesma Libertadores.
A maior decepção?
A perda do bicampeonato da Libertadores, em 2000. Fizemos uma campanha muito legal, mas fomos assaltados por um paraguaio (Epifánio Gonzalez) na final contra o Boca Juniors. Aquele dia foi muito triste, porque o Felipão havia refeito o time inteiro. Começamos 2000 muito questionados e ganhamos do Peñarol-URU, do Atlas-MEX e do Corinthians numa semifinal memorável.
Quem foi seu grande parceiro dos tempos de Palestra Itália?
O Arce. Dividíamos quarto e havia uma relação muito forte entre as famílias. Ele passou um perrengue porque o filho dele nasceu antes da hora, ficou internado no Einstein. Aí, fui descobrir que ele pôs meu nome no menino, apesar de nem existir na língua dele.
Alguém com quem jogou batia faltas melhor do que você?
O Arce era muito melhor do que eu. Umas dez vezes melhor. Está certamente entre os melhores que vi bater na bola.
Qual o atleta mais inteligente que viu jogar?
O Evair. Era um absurdo acompanhar o raciocínio dele. Dificílimo, de tão rápido.
E como seria o Alex treinando o Palmeiras?
Eu nunca me imaginei treinando nenhum clube. O que às vezes eu faço é me imaginar em algumas situações: como escalaria o time, como reagiria na entrevista se perdesse… A vida de treinador é muito isolada.
Talvez o que ajude a combater esse isolamento é o auxiliar técnico. Já tem o seu?
Se eu virasse treinador hoje, falaria com o Mozart. Ele é auxiliar do sub-20 do Coritiba, está iniciando a carreira e é um dos grandes amigos que eu fiz no futebol.
Seu estilo como técnico terá influência de qual comandante?
Aprendi alguma coisa com todos. Mas aquilo que o treinador falava em 1997 e 1998 e não vale mais em 2015. Acho que esse é o grande problema de vários treinadores consagrados no Brasil. Não que eles estejam ultrapassados, porque conhecem muito, mas tudo mudou. A começar pela sociedade.
Explique melhor.
Se um técnico me xingasse, eu assimilaria de uma forma diferente na comparação com o jogador de hoje. Antes, o cara era um empregado do clube. Hoje, ele é um produto e sabe disso. O empresário dele, também.
Se não terá referências do passado, quais valores suas equipes terão?
Vou tentar montar um time que marque bem, se defenda bem e, com a bola, saia para jogar. Vou querer pressionar o adversário e ter condição de dominar o jogo. Gosto de times que propõem o jogo, mas depende dos jogadores que você tem na mão, também.
Qual treinador você admira?
Gosto de vários. Não tem como não admirar o Mourinho. Ele é defensivo, mas vencedor. Põe o time atrás e vence. O Ancelotti, também. Estou muito curioso para ver o (Jurgen) Klopp dirigindo o Liverpool. Ele chegou dizendo que vai precisar de uns anos para brigar por títulos e não sei se ele terá esse tempão.
Os técnicos brasileiros estão ultrapassados?
Não acredito muito nisso. O que se joga na Itália não se joga na Alemanha, na Turquia, em Portugal… E o que se joga no Brasil também é diferente de tudo. Acontece que até a cultura do nosso futebol foi deixada um pouco de lado, mas não é culpa só do treinador. É que, para defender o emprego, ele defende o resultado.
O Tite é o brasileiro mais moderno do país?
O Corinthians é o time mais compacto do Brasil. Mas, se o Tite sai, ele vai precisar de um tempinho para fazer essa engrenagem correr de novo. Assim como o Levir (Culpi), que joga com uma marcação em linha alta. Não é do dia para noite. Não existe vara de condão, mas trabalho e tempo.
Qual o time que você mais gosta de ver jogar?
O Santos. O Dorival (Júnior) achou uma forma de correr poucos riscos e agredir o rival sempre. Em termos de plasticidade, é muito mais bonito ver o Santos do que o Corinthians.
Falando de seleção: o Brasil se classifica para a Copa do Mundo de 2018?
Sim, se classifica. E, como sempre foi, com perrengues normais das Eliminatórias. De 1994 para cá, o Brasil enfrentou dificuldade em todas as edições. Vamos ver o que será da guerra na Argentina.
Tem algum injustiçado nas convocações do Dunga?
O Jadson, pelo ano que faz, já merecia ser convocado. E acho que daqui a pouco ele vai aparecer. O Vitor e o Fábio sempre estiverem bem, mas aí é a preferência do treinador.
O Dunga seria o seu técnico da seleção?
Eu teria escolhido o Tite. Ficaram com o Dunga porque ele fez um bom trabalho da vez passada. E a não aceitação ao Dunga não é pelo time que ele coloca em campo, mas por como ele lida com a imprensa e como homem público. A maneira hostil reverte contra ele.
27834 visitas - Fonte: Blog do Jorge Nicola