Sangue de barata

11/11/2015 08:26

Sangue de barata

Sangue de barata

A rodada de domingo do Brasileiro é passado, mas condutas idênticas sugerem reflexão. Palmeiras e São Paulo jogaram mal, perderam e se complicaram na luta por vaga na Libertadores. As torcidas ficaram indignadas, vaiaram, cobraram. Mas as declarações de jogadores foram as de praxe: estamos aborrecidos, ainda temos chance, a galera está certa de cobrar, vamos levantar a cabeça e coisas do gênero.



Quer dizer, o papo furado e vazio de sempre, com exceções cada vez mais raras. O boleiro sai de campo, sem ter cumprido bem a atividade que lhe cabe, e dá explicações costumeiras, insossas quanto o desempenho deles, e tão antigas como o futebol. Falam por falar, enquanto outros perguntam por perguntar, sem questionamento pra valer. E assim vai.



Não se pede que o atleta se descabele, chore diante de microfones ou câmeras, se ajoelhe, fique confinado em casa e de lá saia apenas para os treinos. Não se deseja que sejam perseguidos, apedrejados e xingados como relés foras da lei. Nada de atitudes incivilizadas, e já há ignorância demais por aí.



Mas, caramba!, o que se espera é reação digna, de quem tem consciência da repercussão do trabalho que exerce. Jogar bola é profissão com peculiaridades incomuns, pois lida com a paixão de milhões de pessoas, mexe com sentimentos, altera rotinas. Não é coisinha à toa, além de movimentar grana alta.



Não deveria haver espaço para quem age com displicência, descaso, insolência. Discussão à parte, a respeito de origem social e formação cultural dos jogadores, resta atributo que vale para qualquer trabalhador: a seriedade na conduta. Soam como insultos entrevistas apressadas, impacientes e desprovidas de bom senso. Incomoda ver rapazes a se comportarem como seres superiores, que não têm de prestar contas dos atos e se amofinam com o público.



Eis o ponto: os jogadores hoje vivem num mundo paralelo, numa redoma, cercados de cuidados exagerados. Todos já vimos milhares de casos de “máscara” (e não só no esporte), de quem se deslumbra com fama repentina e os benefícios que ela traz. Feio, porém normal, ver esnobismo de celebridades ou aprendizes de famosos. Alguns amadurecem com o tempo; outros somem, como cometinhas de brilho fugaz.



O problema é a disseminação desse modo de agir. Os moços parecem distantes da realidade, desde as categorias de base. Vejam na chegada aos estádios: é um desfile de fones de ouvidos ou celulares, olhar à frente, como se não existisse nada ao redor. Passam como semideuses que vão dignar-se a dar uma palhinha dos poderes aos mortais.



O desdém entra no gramado. A cena é banal: a turma das arquibancadas a esgoelar-se, a roer as unhas, a indignar-se e o time a jogar com uma sem-cerimônia espantosa. O adversário aperta, a derrota se desenha e o ritmo não se altera. Ganhar ou perder hoje em dia não muda quase nada para muito jogador. Como se nada o atingisse. Se não estiverem satisfeitos com a produção dele, pega as coisas e se manda.



A conversa também. Note como se abusa de linguagem fechada: nós, jogadores, sabemos das dificuldades; nós, jogadores, mais do que ninguém queremos vencer; nós, jogadores, queremos ganhar para nós mesmos. Ou, quando a situação do time está complicada, com ameaça de rebaixamento: não quero ficar marcado pelo descenso, não quero entrar na história como derrotado.



Calma lá, alguém tem de falar para esses jovens que “nós, jogadores”, vivem do quê? Do dinheiro que recebem por atuar em clubes populares, que têm visibilidade. Quem joga pra si mesmo é turma de time de empresa, em peladas de fim de semana. Se jogadores têm contrato com agremiações tradicionais, o compromisso é com os seguidores. E quem cai é o clube, não “nós, jogadores”.



Não se desejam gladiadores – besteira, porque esporte não é guerra. Também não há quem goste de bancar o otário de ver gente indolente. Pode não resolver os males do futebol brasileiro, mas ter mais vontade e menos sangue de barata ajuda.



Muito jogador vive realidade paralela e não tem noção da influência do próprio trabalho.



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5292 visitas - Fonte: Estadão

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