Paulo Ricardo Gomes da Silva, de 26 anos, foi atingido pelo vaso, e teve traumatismo craniano
Pensei como eu explicaria para alguns amigos ingleses e italianos que duas privadas foram arrancadas do banheiro de um estádio de futebol e arremessadas contra a torcida rival do mandante do jogo, como aconteceu no Estádio do Arruda, que vitimou um torcedor do Sport de nome Paulo Ricardo Gomes da Silva.
Pensei, pensei e decidi que o melhor seria falar a verdade. Contar do jeito que foi. ‘Meus amigos, vocês viram o que aconteceu no Recife? Torcedores do Santa Cruz arrancaram dois vasos sanitários do banheiro feminino do Estádio do Arruda, caminharam com os objetos por cerca de 100 metros e os atiraram na cabeça de quem estava embaixo, sabendo que passava ali torcedores do Paraná, o time adversário.”
Terminaria dizendo aos gringos que isso não era piada. Era trágico. Primeiro porque mostrava a situação de barbárie que o torcedor brasileiro se encontra nesse momento, em pleno século 21.
Segundo porque o torcedor brasileiro ainda não entendeu que ser rival não é ser inimigo mortal. E mortal não tem mais nada a ver com sentido figurado. Terminaria dizendo aos amigos a minha vergonha.
Pois foi exatamente isso o que aconteceu sexta-feira.
Continuo defendendo o envolvimento dos clubes nessas ações de segurança nos estádios e brigas de torcidas.
Enquanto os clubes não forem responsáveis e responsabilizados por ações dessa natureza, nada vai mudar. O futebol brasileiro já se vale de jogos sem torcida como punição.
Deveria usar mais isso e anunciar penas mais pesadas, como perda de mando e de pontos. A Portuguesa foi rebaixada porque escalou um jogador irregular no Brasileirão de 2013.
E se os times cujas torcidas arrumassem confusões e brigas nos estádios e nos seus arredores fossem punidos com a perda de pontos, numa escala de reincidência? Será que isso não faria com que os torcedores desses times pensassem duas vezes antes de qualquer infração?
O Estádio do Arruda foi fechado, interditado. E daí? O que isso vai mudar no comportamento da massa se o seu time continua disputando jogos normalmente? Há de se ressaltar que os arruaceiros estão sendo mais facilmente identificados e acusados, mas será que isso deixará o torcedor detido? Precisamos resolver esse problema de uma vez por todas, sem paliativos.
É preciso parar de se enganar. Gente está morrendo no futebol. Mães choram a perda de seus filhos, que cá entre nós não são santos, mas que também não merecem morrer em estádios.
Semana passada, a presidente Dilma Rousseff disse que os clubes querem o perdão de suas dívidas sem dar nada em troca. Por que então não oferecem o controle de suas organizadas, de modo a assumir esse trabalho de educação de seu torcedor, de conscientização mesmo, afinal, tudo não passa de um jogo de futebol.
O clube controlaria as brigas de seus torcedores como uma empresa controla os acidentes em sua dependência: ‘Estamos a 100 rodadas sem confusão’. E aí o futebol limpo teria um ranking e as dívidas seriam perdoadas em função desse ranking.
O fato é que, com essa história das privadas atiradas contra rivais, chegamos ao fundo do poço. Isso tem de mudar.
4176 visitas - Fonte: Estadão