Palmeiras x Santos: o clássico da vergonha

21/4/2016 16:39

Palmeiras x Santos: o clássico da vergonha

Palmeiras x Santos: o clássico da vergonha

O desenho é a fotografia de uma tarde de estádio dividido pra criança que eu fui



O gol de bicicleta é criação minha. O resto é fotografia fiel dos primeiros momentos inesquecíveis de uma vida. 1993, oito anos. O Feu, testemunha de todo o jejum, me enfiava no carro certo de que meu destino seria melhor. Não passava pela cabeça dele que o destino me reservaria a Torcida Única, assim, com maiúsculas, como instituição suja que é.



Este desenho acima retrata um Morumbi dividido, a arquibancada com gomos vazios separando as massas, a geral só com sãopaulinos, a maioria verde nas numeradas centrais. Aos oito, já míope, o outro lado da arquibancada do Morumbi era um borrão que se movia na hora do gol - e o som dos gritos só chegava dois segundos depois. Se não perdesse mais de uma vez, no campo e no gogó, para os rivais em condições de igualdade na arquibancada, eu talvez não entendesse o essencial sobre o antagonismo que alimenta o jogo e faz com que o café com leite da padaria na manhã de domingo venha junto de um "Fala Severino, é hoje heim!" - é o que diferencia seu rival local de um adversário de longe.



A julgar pelo que almas infelizes planejam para o futebol paulista, dei sorte: eu poderia nunca sequer ter entrado no Morumbi com uma camisa do Palmeiras. E este desenho, e estas memórias, nunca existiriam. E meu rival seria um alienígena, um corpo virtual que só divide espaço comigo em encontros fortuitos no metrô ou na rua.



Metrô, rua, falarei disso já já, este não é um texto doce como estou fazendo parecer.



Não existe jogo de futebol sem a possibilidade das duas torcidas assistirem. Santos x Palmeiras fingirão que haverá um jogo de futebol domingo, mas não haverá. Trata-se um não-jogo. Nenhum santista mirim presente na Vila Belmiro absorverá qualquer energia útil ou realmente marcante. Por conceito, por definição, pelo caráter que o jogo possui, domingo o futebol paulista se envenena. Não pense que é remédio.



Atribuições



Torcidas visitantes tiveram suas cargas de ingresso diminuídas em SP, pouco a pouco, ano após ano, até chegar ao zero desta ocasião. Não foi um movimento brusco, foi a gente que se habituou aos poucos. A medida é uma proposição dos órgãos de segurança em reação, alegadamente, a mais uma vítima fatal ligada a brigas entre torcidas. Medida semelhante adotada na longínqua Argentina não mudou em nada o cenário.



Aqui, assim como lá, não foi apresentado nenhum dado técnico para respaldar esta medida. Não sabemos quem estava à mesa, se especialistas foram consultados, quais casos pregressos foram objeto de estudo, nada. A medida já nasceu desmoralizada pelo mesmo vazio técnico das proibições de bandeiras mais de década atrás. Pois bem.



Presumindo que o fim da violência entre torcidas é mesmo um interesse comum entre nós torcedores e os órgãos de segurança, falarei por mim e talvez você se identifique: sem esforço, sem ir atrás, eu sei de onde sub-sedes de organizadas saem, de olhos bem abertos, em dias de clássico. Sei onde ferve e onde está tudo bem. Um amigo comenta, um colega fala que viu, um boato chega até você três vezes e vira versão possível. Você consegue entender o quão simples é mapear a violência potencial em dias de jogos?



Repito: é uma missão simples. Basta um trabalho elementar de inteligência policial e você domina o dia do jogo, ruas, metrôs, trens, estádio. Sub-sedes, e mesmo sedes de organizadas, não são esta fortaleza maquinada que querem te fazer crer. Não existem elaborações engenhosas dignas de Estado Islâmico dentro delas. É relativamente fácil para uma corporação como a Polícia Militar de SP, que por sinal ganha porcentagem da renda de todos os jogos, fazer o seu trabalho diante do cenário atual das torcidas paulistas.



Você pode atribuir o fracasso dos órgãos de segurança nesta empreitada ao despreparo ou ao desinteresse. Escolha o que te fizer mais sentido.



Máquinário e lei estão à mão deles. Câmeras de segurança registram quase todo confronto. Sobram em suas mesas contatos e ocorrências anteriores, milhares de dados para cruzar e comparar, pistas, evidências, depoimentos. Sedes de organizadas possuem cadastros de associados e obrigação colaborativa vinculada a isso. Se criminosos estão soltos, quem tem de ser cobrado e pressionado por isso é o órgão incumbido de prendê-los. É a textura judicial, que serve de ferramenta prática a este órgão, que deve ser questionada. Trata-se de manobra maliciosa criar ainda mais demanda fiscalizadora às torcidas.



Este que escreve acredita que, há mais de duas décadas, a busca pela redução da violência no futebol paulista é um fingimento, um teatro. Querem mais é que as torcidas se queimem e se matem, mas, bem, este é um assunto com mais de 100 anos de vida, torcedor é visto com nariz torcido desde que começaram a chutar bola de futebol neste país, torcedor nunca teve a chance de se enxergar como classe, e o assunto renderia um livro, não um post.



O Palmeiras



Paulo Nobre: “Você tem que economizar o dinheiro público. Não faz o menor sentido a polícia ter que escoltar 2 mil torcedores no caminho a um estádio de futebol enquanto ela poderia estar fazendo bem à sociedade. E também tem o fator econômico do time mandante. No nosso caso, são pelo menos 6 mil lugares inutilizados”. A matéria, aqui. (nota: não se trata de economia de dinheiro público, presidente: a PM em SP recebe parte da renda para pensar e executar a segurança em jogos, 99% deles de risco zero [LINK])



Paulo Nobre: "O Palmeiras não tem a liberdade de falar como cada pai tem que educar seu filho, mas temos um conceito. Se o pai quer levar o filho em campo, não podemos proibir, mas não vamos incentivar (...) Sei que esse assunto gera discussão, mas o Palmeiras não cresce com torcedores de estádio". Aqui, a notícia.



Paulo Nobre tem o mérito de ser absolutamente claro em seus deploráveis propósitos. Desde o primeiro derby no estádio novo, em 2015, tentou aplicar a aberrativa Torcida Única. Na ocasião, foi humilhado pelo presidente corinthiano, um tipo populista e demagôgo, mas que defendeu com correção a sua torcida e a nossa inteligência. Pouco depois deste episódio, pela semifinal estadual, no Itaquerão, nossa torcida, graças ao presidente deles, não o nosso, estava no estádio deles e fez a bonita festa de classificação, abraçando Valdívia e tudo mais. Irônico.



Tento poupar Paulo Nobre de julgamentos que envolvam exercícios intelectuais mais sofisticados. Não é o forte dele. Dominado pelo espírito vingativo de um jeito que só as mentes mais limitadas ficam, está colecionando embaraços públicos e já passou do limite do constrangimento faz um bom tempo. Excêntrico, sabe que só tem mais seis meses de relevância jornalística, e que deixará de ser procurado em breve. Dinheiro não lhe falta, e sua angústia existencial envolve a sensação de poder. Ele vai torcer este tubo de pasta de dente até o final. Depois, será só um grande credor do clube implodindo o pequeno poder em busca de flashes melancólicos de um tempo em que os absurdos que pensava sobre futebol eram levados a sério.



Triste. Será um domingo triste. Faltará a torcida do Palmeiras justo contra o Santos, o time que perdeu a Copa do Brasil não para o Palmeiras, mas para a torcida do Palmeiras.



Contudo, o camarote da presidência do time visitante não foi vetado. Paulo Nobre, portanto, irá ao jogo. Finalmente ele realizará o sonho de ser o torcedor número 1, aquilo que não conseguiu nos tempos de Inferno Verde.



Vai ver é isso: ele sempre quis ser Paulinho Serdan.



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9630 visitas - Fonte: ESPN FC

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