O Palmeiras e a eterna terceirização da culpa

Prass suou para compensar as falhas cometidas pela torcida no Couto Pereira



Não foi a torcida que não conseguiu afastar a bola direito depois do enésimo cruzamento para a área, tampouco foi a torcida que deixou Leandro (justo o Leandro) livre para finalizar da boca da meia-lua aos 51 minutos do segundo tempo.



Não foi a torcida que perdeu a concentração por causa de uma paralisação e achou que o jogo já estava encerrado e ganho. Também não foi a torcida que perdeu por displicência várias chances de marcar o terceiro gol e matar a partida. Me parece que também não foi a torcida que fez um péssimo primeiro tempo e obrigou o Fernando Prass a trabalhar por três.



Também não me consta que tenha sido a torcida a recuar demais e abdicar do jogo depois dos 40 minutos do segundo tempo. Nem foi a torcida que trocou um atacante por um zagueiro, na substituição mais chama-zica que pode existir no futebol.



Quando se discute os maus resultados da Seleção Brasileira, uma das críticas feitas em qualquer fórum é que "os jogadores são um bando de mimados que não querem nada com nada". Pois bem: ao terceirizar para a torcida a culpa por um mau resultado que é 100% dos jogadores que estavam em campo e não fizeram seu trabalho direito, jogadores que ganham em três meses o que muitos dos torcedores não ganharão durante uma vida, o que a gente faz é justamente... mimá-los.



Está na bíblia: a César o que é de César, a Deus o que é de Deus. A atitude da torcida com os sinalizadores pode até ter atrapalhado. A culpa pelo empate sofrido aos 51 minutos do segundo tempo, a responsabilidade por dois pontos jogados na lata do lixo que podem fazer uma falta desgraçada no fim do ano, é exclusivamente da comissão técnica e dos jogadores do Palmeiras.



Um hábito de mais de uma década



Há muitos anos, 16 para ser mais exato, que no Palmeiras se costuma terceirizar a culpa. Foram anos reclamando do Mustafá; depois que o Mustafá saiu, a culpa era da herança maldita do Mustafá. Belluzzo e Tirone foram agregados à lista de culpados nos últimos anos, junto com Cipullo, Palaia, Pescarmona, Frizzo - mas sempre as pessoas físicas, e nunca o Palmeiras que os elegeu por meio do Conselho.



O juiz também tem culpa quase sempre - e a gente esgotou tanto essa reclamação que, agora que estamos sendo verdadeiramente prejudicados em quase todos os jogos, inclusive no lance contestado e que virou culpa da torcida, viramos o molequinho da fábula do "olha o lobo" em quem ninguém mais acredita. No mais, mantenho a opinião de antes: time que quer título ganha do adversário e do juiz ruim e/ou ladrão.



Vamos voltar aos últimos dois domingos. Contra Flamengo e SCCP, o Palmeiras também vencia até os minutos finais, também desperdiçou um caminhão de chances de ampliar a vantagem e também foi pressionado por um chuveirinho na última bola. A diferença é que, em Brasília, o cara do Flamengo cruzou na mão do Prass, e no dérbi houve o impedimento e a discutível falta. Três bobeadas não poderiam ser perdoadas. Não se pode perder chances de matar o jogo. Não se pode deixar três jogadores diferentes do time adversário tocarem a bola em linha de passe na entrada da área aos 51 minutos do segundo tempo.



É inadmissível que um time cheio de jogadores experientes, com excelentes salários pagos em dia, culpe a desconcentração provocada pela torcida que forçou uma paralisação por causa de uma droga de uma vela que faz uma fumacinha de merda. Quem quer ser campeão só pisca depois do apito final. De novo: a culpa é do Palmeiras, comissão técnica e jogadores. Jogar essa culpa para a torcida é passar a mão na cabeça de marmanjo milionário, que me desculpe o colega do blog ao lado.



A torcida já paga ingresso caro, sócio-torcedor caro, camisa cara, já não pode levar instrumento, bandeira, faixa, leva a culpa de forma coletiva pelos crimes cometidos por meia dúzia. Não é justo jogar mais essa nas costas dela. A César..., já disse.



Sobre leis idiotas e desobediência civil



Que bela droga de sociedade que virou o Brasil em 2016, que proíbe que os estádios possam ser coloridos por um apetrecho tão perigoso quanto uma vela de bolo de aniversário. E a quem diga: "Ah, a lei é idiota, mas é lei. Então vamos cumpri-la enquanto tentamos que ela mude", eu só respondo que ainda bem que a Rosa Parks não pensou assim ao descumprir aquela lei idiota que dizia que os negros tinham que dar lugar aos brancos no busão.