Gomes se inspira em Prass após dar a volta por cima na Premier League

Eleito por site de estatística o melhor arqueiro do último Campeonato Inglês, brasileiro usa palmeirense como exemplo pelo sonho da Seleção: "Goleiro é cargo de confiança"

Após cinco anos intercalando entre a reserva do Tottenham, a segunda divisão inglesa e uma passagem apagada pelo futebol alemão para jogar no Hoffenheim, Heurelho Gomes voltou em grande estilo à Premier League na temporada passada. O brasileiro teve participação importante na campanha que manteve o recém-promovido Watford com folga na elite e foi eleito pelo site WhoScored, especialista na Terra da Rainha em estatísticas, o melhor goleiro do último Campeonato Inglês. Uma sensação de recomeço para o experiente arqueiro mineiro de 35 anos.



- Sempre tive vontade de poder voltar à Premier League. Até por isso abracei esse projeto (do Watford). Era tudo que eu precisava novamente. Tive meu momento na segunda divisão, foi diferente. Então, eu estava aguardando por meu momento novamente na Premier League e fui importante, os números mostram isso. O trabalho continua. Eu me sento muito bem fisicamente – disse o goleiro, ainda conservando o forte sotaque mineiro, em entrevista por telefone.



A boa campanha rendeu a Gomes, o oitavo goleiro menos vazado da última Premier League, um novo contrato com o Watford, onde chegou em 2014, ainda na segunda divisão. Ele manteve o vínculo até 2018, mas ganhou um aumento salarial. O plano é “jogar por, pelo menos, mais dois ou três anos” antes de se aposentar, e um retorno ao futebol brasileiro não está descartado. Assim como o sonho da Seleção – sobretudo após Fernado Prass, outro goleiro experiente, ter sido convocado para os Jogos do Rio.



- Como eu disse, a gente ainda está bem. O treinador sempre vai estar observando. Vai depender do treinador. Goleiro é cargo de confiança. Talvez tenha um estilo que o treinador goste. Tenho sempre esperança que possa acontecer um dia. Essa posição demanda muito. As principais seleções do mundo estão jogando com goleiros acima de 30 anos. Quando se está no melhor campeonato do mundo, quem sabe pode acontecer comigo. Vou ficar muito focado no meu trabalho.



Prass foi chamado para a equipe olímpica que defenderá o Brasil no futebol masculino dos Jogos Olímpicos no mês passado. Aos 38 anos, o palmeirense foi chamado pela primeira vez para defender a camisa canarinha. Gomes já foi convocado anteriormente, inclusive com passagem pela Copa do Mundo de 2010. Por isso, diante de tal circunstância, ele reconhece que chegou a ter uma expectativa em ser lembrado na lista de Micale.



- Eu vi a convocação, ainda estava no Brasil. Olha... a partir do momento em que você é considerado um dos melhores campeonatos do mundo, a expectativa é muito grande. Estou em um dos meus melhores momentos. Claro que o Prass, além do grande momento, fez por merecer. Se não acontecer – completou.



Leicester e o exemplo para o Brasil

No ano em que voltou à Premier League, Gomes viu o Leicester surpreender o mundo da bola e faturar o primeiro Campeonato Inglês de sua história. Apesar disso, acha improvável que o Watford possa repetir o feito – assim como o Leicester – e aposta que o título ficará entre Chelsea, City, United e Tottenham.



- O futebol está muito competitivo. As possibilidades de hoje são maiores daquelas há cinco anos. Você vê Portugal, que não foi o melhor time da Euro e ganhou o título. Conhecendo o futebol inglês... é bem difícil fazer uma temporada como a do Leicester. Até pelas estruturas das outras equipes. Foi uma coisa atípica o que aconteceu. Pode voltar acontecer novamente, mas não agora. Esse ano vai ser muito mais complicado do que o ano que passou. Mesmo o Leicester pode não fazer a mesma temporada. É um ponto de interrogação. Vai depender do Manchester, do Chelsea, que estarão bem melhor. É muito difícil que o Watford ou o Leicester repita o feito da temporada passada.



Uma explicação para a façanha do Leicester foi a divisão de cotas de TV da Premier League. Na última temporada, os 20 times que a disputaram o torneio receberam 1,638 bilhão de libras referentes aos direitos de transmissão. Este valor é repassado pela liga aos clubes com base em três critérios: 50% são igualitários para todo mundo; 25% dependem do mérito esportivo, conforme a colocação na tabela na temporada anterior; e 25% obedecem o número de partidas transmitidas, com um valor mínimo assegurado até para quem teve muito menos jogos transmitidos pela TV.



Dessa forma, o Arsenal teve a maior receita com televisão do país, com 100 milhões de libras recebidas. O Aston Villa recebeu a menor, com 66 milhões de libras. Ou seja, o mais rico arrecadou apenas 50% acima do valor abocanhado pelo mais pobre, melhor proporção entre as maiores ligas de futebol do planeta. Um exemplo que pode ser seguido no futebol brasileiro, segundo o goleiro do Watford.



- O Brasil poderia seguir esse exemplo para dar competitividade ao campeonato. Mais do que isso, faz com que as equipes cumpram os contratos com os jogadores. Felizes, os jogadores podem render muito mais do que aqueles que estão com o salário atrasado. Aqui no Campeonato Inglês não temos esse problema. Mudaria muita coisa se no Brasil fosse assim – completou.