Ex-Palmeiras já ficou um ano desempregado e vendeu Havaianas, mas hoje está na Europa

Foto: Gazeta Press



O volante Washington, ex-Palmeiras, conheceu o lado mais difícil do futebol quando ficou um ano desempregado depois de sair do Figueirense, em 2011. Sem opções, ele precisou colocar seus sonhos em segundo plano para trazer o sustento para casa.



"Não tinha um real no bolso para comprar pão para a família. Eu gostava de fazer o supermercado e ir ao sacolão comprar frutas. Isso marcou muito a minha vida. Para sair desta situação precisei vender muitas Havaianas por aí", contou o jogador, atualmente no Nacional-POR, ao ESPN.com.br.



O meia saía com a esposa, que bordava os chinelos, pelos salões de beleza dos bairros da zona norte de São Paulo em busca de fregueses. Além disso, o meio-campista fazia bicos como ajudante de pedreiro para complementar a renda.



"Não aparecia clube e quando vinha a proposta era tão baixa que não compensava. Não queria ficar muito longe da família sem ao menos ter um salário digno. Corria ainda o risco de não receber em dia".



No período em que não jogou, a maior tristeza de Washington era assistir jogos de futebol. "Quando passava os meus amigos na TV eu pensava: 'Era para eu estar aí'. Chorava muito e às vezes até evitava ver as partidas dos meus ex-times. Quando via meus amigos jogando me batia uma saudade e os olhos enchiam de lágrimas".



Mesmo com as dificuldades, a fé foi fundamental para que o volante não desistisse da carreira. "Me batia aquele desespero e achava que não ia dar certo. Depois desse ano parado, pedi para Deus: 'O que o Senhor quer para mim? Preciso de uma resposta, tenho esse dom de jogar futebol'. Foi então que as coisas começaram a melhorar".



DISPENSA NO CORINTHIANS E FRIO NA SÉRVIA



Washington Santana da Silva foi aprovado no Corinthians aos 14 anos, mas um ano e meio depois acabou dispensado. "Fiquei pouco tempo sem clube e com 16 anos fui para o Força Sindical já como profissional para jogar a Série B do Paulista (quarta divisão) Consegui ter destaque e surgiu uma boa oportunidade na Europa".



Com apenas 18 anos, ele passou em um teste no time B do Partizan Belgrado, da Sérvia. O jovem permaneceu por mais de um ano e meio atuando pela segunda divisão local.



"Foi complicado porque eu não dominava o idioma e falava só um pouco de inglês. As maiores dificuldades eram com alimentação e o frio, que chegava a 10 graus negativos. Os dedos congelavam e o gramado sintético ficava todo coberto de neve. Depois que acostumei foi tudo certo. Me receberam muito bem e gostei demais".



Ao retornar ao Brasil, ele se destacou pelo Botafogo-SP no Campeonato Paulista de 2010 ao lado de Wéverton, Augusto Recife e Xuxa. Com isso, foi para Figueirense por uma temporada antes de ficar sem clube.



Depois de mais de um ano longe dos gramados, ele retomou sua carreira no Crac-GO por meio de conhecidos do Força Sindical que trabalhavam no time goiano.



"Fiz contrato de um ano e deu uma estabilidade muito boa. As portas se abriram de novo para mim. Fui chamado para jogar pelo Penapolense e fomos até a semifinal do Paulista. Depois, acertei com o Joinville para jogar a Série B do Brasileiro de 2014".



PASSAGEM NO PALMEIRAS E FELICIDADE NA EUROPA



Quando estava na 25ª rodada da competição, Washington recebeu uma oferta tentadora do Palmeiras, que estava na elite nacional.



"Em questão de dois anos eu saí de vendedor de chinelos para o Palmeiras. A equipe estava em uma situação muito difícil, em antepenúltimo lugar. Eu só perdi um jogo de todos que entrei em campo. Fui muito bem recebido pelo [técnico] Dorival Jr. que pediu minha contratação. Ele já chegou falando que precisava de mim".



Ele participou de cinco partidas na campanha que salvou o Palmeiras da queda apenas na última rodada.



"A melhor recordação foi a recuperação que tivemos no campeonato. Uns 90% já consideravam o time rebaixado, mas a gente deu a volta por cima. Isso ficou para o resto da minha vida. Foi a realização de um sonho depois de tudo o que passei".



Com a saída de Dorival Jr. e chegada de Oswaldo de Oliveira, o volante voltou ao Penapolense. Jogou mais um Paulista e o começo da Série B pelo Paraná antes de ir ao Nacional, de Portugal, o meio do ano passado.



"Eu tinha aquela vontade de voltar para a Europa e minha esposa queria conhecer outros lugares. Quando fui chamado não pensei duas vezes".



O jogador firmou contato por quatro anos na equipe da Ilha da Madeira e não poderia estar mais feliz. "Eu adoro morar em Portugal e a cidade é muito boa e tranquila. É um lugar maravilhoso e muito bonito de se viver".