Pressão do Palmeiras sobre Figueira tem aval do STJD: 'Ninguém pode servir 2 senhores'

Volante Renato em ação pelo Figueirense contra o Coritiba, prévio ao jogo com o Palmeiras





Antes mesmo de a bola rolar para Figueirense x Palmeiras, no Orlando Scarpelli, no último domingo, a polêmica estava armada: o volante Renato, emprestado ao time catarinense pelo líder do Brasileirão, não entrou em campo por conta de uma "pressão" da diretoria alviverde para que ele ficasse de fora.



Em janeiro de 2015, a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) determinou que um clube não poderia mais evitar que um jogador cedido por empréstimo lhe enfrentasse. Isso valeria a partir dos contratos assinados de maio do último ano em diante.



A pressão palmeirense, então, foi equivocada?



Para um auditor do Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD), não.



Em setembro de 2015, Washington Rodrigues de Oliveira foi o responsável por redigir o acórdão do julgamento contra Palmeiras, Goiás, Atlético-MG, Vasco, Internacional, Coritiba, Cruzeiro, Sport, Flamengo, Corinthians, Grêmio e São Paulo por "deixar de cumprir, ou dificultar o cumprimento de regulamento, geral ou especial, de competição", no caso relativo a atletas emprestados a outros clubes.



No parecer, o auditor - que divergiu do relator do processo, Felipe Bevilacqua, hoje procurador-geral do STJD - começa assim: "De antemão, há que se assinalar que não se pode aqui assinalar que o nominado 'acordo de cavalheiros' infrinja a ética desportiva. Se tal disposição foi aceita por anos, não se pode agora, apenas e tão somente depois que foi tipificada como infração, querer repudiá-la como se fosse um ato que merecesse uma punição exemplar".



Washington Rodrigues, então, busca as regras da Federação Portuguesa de Futebol (FPF) para defender que atletas não atuem contra os times donos de seus direitos.



Então, cita a Bíblia para corroborar sua explicação.



"Creio que tal dispositivo esteja, igualmente, em consonância com os ensinamentos bíblicos disposto no evangelho de Mateus, capítulo 6, versículo 24, pela qual: 'Ninguém pode servir a dois senhores; pois odiará um e amará o outro, ou será leal a um e desprezará o outro. Não podeis servir a Deus e a Mâmon (anticristo). Descanso na providência divina'", escreve.



"Tal questão servirá, apenas e tão somente para os defensores das teorias conspiratórias, colocando em julgamento não apenas o atleta, mas igualmente o clube cedente a própria entidade de administração do desporto", continua o auditor.



Todos os clubes citados receberam apenas multa pelo descumprimento.



Antes do duelo em Florianópolis, o tetracampeão Branco, assessor da presidência do Figueirense, reclamou da pressão do Palmeiras sobre o volante Renato.



"O Cícero (Souza), que é gerente de futebol, ligou para ele. É uma situação chata e extremamente desconfortável. O futebol envolve muitas coisas. A gente fez promoção e a torcida está comparecendo e queríamos colocar os melhores, mas o menino está fora do jogo. Não tem como ele ter cabeça para jogar depois disso", afirmou.



"Isso aconteceu ontem (sábado). Fiquei sabendo e conversei com o Marquinhos (Santos, treinador) e o Wilfredo (Brilinger, presidente). Decidimos que o correto é deixar ele fora. Esses caras (diretoria do Palmeias) não são fáceis. É guerra, mas o Figueirense vai estar de olho em todos os jogos", prosseguiu.



Em campo, vitória alviverde por 2 a 1 e liderança ampliada no Campeonato Brasileiro sobre o Flamengo, seu principal perseguidor (64 a 60).