380 jogos por ano: em painel, Palmeiras monitora tudo da Série B, 'pontua' destaques e 'descartou' até Gustagol

De malas prontas para a Fiorentina-ITA, Vitor Hugo renderá 8 milhões de euros (R$ 27 milhões) a serem divididos entre Palmeiras, a patrocinadora Crefisa, que bancou a compra de 50% de seus direitos econômicos, e a Tombense-MG, detentora da outra fatia.



O zagueiro de 25 anos é um caso de sucesso no clube.



Não apenas pelo lucro que rendeu em tão pouco tempo, mas por ter sido descoberto ainda na segunda divisão do Brasileiro, defendendo o América-MG em 2014. Não por acaso, o time alviverde mantém hoje o 'projeto Série B': na sala de seu departamento de análise de desempenho, existe um painel com os nomes dos jogadores de cada clube acompanhados por suas pontuações.



Conforme se destacam, elas mudam de cor.



Foi assim que, por exemplo, a equipe viu surgir o centroavante Gustagol pelo Criciúma em 2016, mas descartou uma possível investida. Ele acabou indo parar no Corinthians e atualmente está emprestado ao Bahia.



Entre as atribuições do setor, que cresceu a partir de 2015, estiveram acompanhar todas as partidas da Segundona na última temporada.



O que isso significa? 380 jogos, no total.



"No Palmeiras, a gente tentou nesses últimos dois anos minimizar ao máximo o que a gente fala de 'queimar cartucho'. Então, às vezes, tem um jogador bom, como muitas vezes teve jogadores bons que a gente teve opção de ir atrás, mas não foi porque quando olhava para o plantel sabia que não ia jogar", explicou o analista Rafael Costa, no evento Conafut, 1ª Conferência Nacional de Futebol, em São Paulo.



"Não é que ele é ruim. Era bom. No ano passado, a gente fez e tem até hoje o 'projeto Série B'. Em 2016, assistimos os 380 jogos. Todos. Então, temos um painel enorme em nossa sala com todos atletas da Série B e os que vão se destacando vão mudando de cor", continuou.



"Gustavo, que foi para o Corinthians, Luidy Viegas (ex-CRB e que teve o mesmo destino), Jean Carlos (ex-Vila Nova-GO e que se transferiu para o São Paulo), a maioria das revelações a gente sabia antes quem eram. Só que elas não se enquadravam no perfil do time do Palmeiras até pelo momento", completou.



O número de reforços trazidos na era Alexandre Mattos é contestado, porém, o departamento faz de tudo, como prega, para evitar "queimar cartucho" no mercado.



"Lembro que, no Paulista, o Rafael Longuine se destacou (em 2015 pelo Osasco Audax) e a gente ponderou se valia a pena ir atrás dele. Será que vai jogar aqui? Não, ele não vai jogar. Não que ele não tenha a capacidade. Só que tinham jogadores que estavam à frente. Não adiantava ir atrás, trazer um cara com potencial e deixar ele no banco. Ia queimar esse jogador, um talento, então, a gente tenta minimizar ao máximo", afirmou Rafael.



Sem Felipe Melo, suspenso na Libertadores, o técnico Cuca destacou a confiança no volante Thiago Santos como eventual substituto.



A exemplo de Vitor Hugo, ele também teve o América-MG como origem.



A sua indicação foi fruto da base de dados que os analistas de desempenho palmeirenses mantêm da Série B e podem 'socorrer' o clube como naquele agosto de 2015.



"Quando o Gabriel (Girotto, hoje no Corinthians) se machucou, ele tinha uma média de desarmes que estava entre as melhores do Brasileiro. A gente estava numa fase que não tinha como contratar ninguém com mais que sete jogos, Série A não poderia, tinha de olhar se tinha feito mais de duas transferências. Pensamos: 'ferrou'. A diretoria, como confia muito na gente, falou assim: 'olha, vocês precisam achar um atleta para amanhã'. Era noite e tínhamos que vir com um nome no outro dia. E aí a gente foi atrás do Thiago Santos, na verdade, da Série B, e percebemos que ele tinha uma média de 4,1 desarmes por jogo, maior que a do Gabriel na A. 'Esse cara é interessante'", contou Rafael Costa.



"Chegamos na diretoria, mostramos o jogador, havia uma pressa muito grande. E aí falo que a gente não contrata, porque deixamos com eles, se sentaram com a comissão técnica e viram. A gente deixou não só ele, mas um monte de atletas, inclusive, Jean, volante que estava no Paraná (hoje no Vasco), média alta de desarmes também", prosseguiu.



"Queriam jogador com a característica do Gabriel. Chegaram no acordo, vamos trazer ele. Trouxeram, manteve a média dele, terminou com quase quatro (desarmes por jogo) e supriu a necessidade. Tanto a diretoria quanto a comissão confiaram na análise que a gente passou. Tem que ter a engrenagem entre os dois para o negócio funcionar", finalizou.



Ele ressalta que a análise não se baseia, claro, apenas em números. Outras ferramentas são levadas em conta.



"Peguei o final da época de quando chegava DVD (no clube). Chegava o DVD (do atleta) e você colocava. E uma vez o Cesar Sampaio, que era gerente do Palmeiras, pegou e falou para mim: 'você já sabe, né? Chegou DVD de zagueiro e o primeiro lance é gol dele, você dá stop e joga fora. Por quê? Porque não é o que você busca em zagueiro", brincou o analista alviverde para exemplificar.