Quanto vale ser cartola no Brasil?

Quanto vale ser cartola no Brasil? Será pelo salário milionário que é pago àqueles que se dispõem a administrar as paixões nacionais? Será pela honra de gerenciar um time de futebol? Será para marcar o seu nome na história do clube do coração? Será que há outros motivos escusos que levam a isso? A resposta varia de pessoa para pessoa e é possível que alguém seja capaz até de alegar que é por tudo isso.



Atualmente, existem dois tipos de cartola: os profissionais e os amadores, diferenciados aqui tão somente no quesito remuneração, pois existem cargos em clubes de futebol profissional que não são remunerados.



Dirigentes profissionais são aquelas pessoas que ocupam cargos remunerados dentro de certos clubes em razão do seu alto conhecimento, geralmente advindo de cursos específicos para a área. São os casos de Rodrigo Caetano, no Vasco, e de Felipe Ximenes, no Flamengo, responsáveis por gerenciar o futebol das respectivas agremiações. Já os dirigentes amadores, por sua vez, são as pessoas que ocupam cargos de direção nas associações esportivas muito mais por questões políticas do que propriamente em razão de sua especialização. Esse é o caso de presidentes e vice-presidentes, estatutariamente vedados no que tange à percepção de remuneração.



Sendo assim, se um cargo de presidente de time de futebol no Brasil não gera retorno financeiro através de salário, por que muitas pessoas fazem esforços hercúleos para ocupar esse cargo? Possivelmente, a honra e o desejo de fazer história podem ser apontados como explicações plausíveis, embora, no mundo em que vivemos, é possível acreditar que haja outros motivos por trás disso.



O caso do Vasco da Gama



Em 2014, um dos bastidores políticos mais comentados no Brasil é o do Clube de Regatas Vasco da Gama, em razão das eleições presidenciais que se realizarão este ano (em 6 de agosto ou em 11 de novembro). A sucessão de Roberto Dinamite tem sido motivo de intensas discussões na Colina e, internamente, a eleição já começou no ano passado.



Em 2013, não custa lembrar, explodiu na imprensa o escândalo conhecido por “Mensalão Vascaíno”, que consistiu no cadastramento de irregular de sócios no clube, a fim de favorecer um ou mais candidatos nas próximas eleições. O caso, que está sob investigação policial e do Ministério Público, ajudou a adiar o pleito originalmente marcado para o próximo dia 6 de agosto e tem como principais suspeitos dois dos candidatos à presidência do Vasco: Eurico Miranda, do grupo Casaca, e Roberto Monteiro, do grupo Identidade Vasco.



Até aí nada muito fora do comum ou mesmo conclusivo, já que há apenas acusações não provadas em torno dos elegíveis. Contudo, eis que os dois se uniram nos bastidores vascaíno para ir à Justiça recorrer da decisão tomada em Assembleia Geral que mudou a data das eleições.



O que vale arriscar para ser presidente de um clube de futebol?



Assim, será mesmo que vale a pena a imagem pessoal dessas pessoas ser maculada por acusações de crime eleitoral para ocupar um cargo que sequer prevê remuneração financeira? Será possível entrar para a história de maneira positiva ao conseguir algo que jamais será visto como idôneo, pois mesmo que as investigações concluam que não houve “mensalão”, qualquer um que ganhar terá para sempre sobre si a suspeita de ter vencido de forma irregular?



A resposta para essas perguntas não são claras, o que nos ajuda a refletir sobre quanto vale ser um cartola no Brasil: se não há salário, se a honra de administrar um clube às vezes custa macular a imagem do próprio indivíduo e se entrar para a história como salvador da pátria é impossível em um cenário tão minado, por que se arriscar tanto? Talvez, haja motivos escondidos que expliquem o inexplicável.