Carioca e palmeirense: o amor 'maluco' entre César e o Verdão

13/8/2014 08:30

Carioca e palmeirense: o amor 'maluco' entre César e o Verdão

Segundo maior artilheiro do clube, ex-atacante relembra passagens, provoca Corinthians e diz: "Não aceito que ninguém fale do Palmeiras"

Carioca e palmeirense: o amor 'maluco' entre César e o Verdão

César Maluco, um dos maiores ídolos da história do Palmeiras (Foto: Sergio Gandolphi)



Nascido em Niterói, no Rio de Janeiro, revelação das categorias de base do Flamengo e maior ídolo da história da... Sociedade Esportiva Palmeiras. Este é César Maluco, segundo maior artilheiro da história do Verdão, com 180 gols entre os anos de 1967 e 1974.



Ou o maior, como o próprio gosta de brincar, já que Heitor defendeu apenas as cores do Palestra Italia no início do século passado.



Talento promissor do futebol carioca, o jovem atacante desembarcou em São Paulo em 1967 para mexer com os padrões daquela formação que ficou eternizada no clube como a primeira Academia. Na época, ele mal sabia que ali era apenas o início de uma linda história de amor com o Palmeiras e que faria da capital paulista a sua casa até os dias de hoje.



– Lembrei que cheguei para treinar no Flamengo e vi a imprensa toda em cima do Ademar Pantera, que tinha deixado o Palmeiras.



Fui me trocar e mandaram eu procurar a diretoria. O administrador me comunicou que eu tinha sido emprestado. Não queria ir. Fui para casa, conversei com meu pai e ele disse que eu ia me dar bem em São Paulo. Eu retruquei falando que não iria jogar num time que tinha Valdir, Djalma Santos, Djalma Dias, Carabina, Geraldo Scotto, Ademir da Guia, Zequinha, Gildo, Servílio, Tupãzinho e Rinaldo. Mas eu vim – conta o ex-atacante, hoje conselheiro do Verdão.



– Vim emprestado e meu negócio era vencer aqui para chegar de volta ao Flamengo, todo mundo comentar que venci, e jogar lá. Mas quando eu voltei, o seu Delfino Facchina foi no Rio umas três vezes tentar me contratar de novo. O Flamengo engrossou um tempo, mas deu tudo certo – completa.



Em São Paulo, César percebeu a mudança do estilo de vida logo nos seus primeiros meses de clube. Durante a tradicional brincadeira de “bobinho” dos atletas, antes de um treinamento no Parque Antarctica, o jovem foi convidado para participar. No auge, Servílio era um dos grandes líderes do atual elenco, ao lado de Djalma Santos. Além de conselhos importantes para a carreira, o meia ouviu um recado que seria determinante para marcar a carreira do ex-flamenguista.



– Tinha uma rodinha só com as feras e eu cheguei bagunçado.



Conhecia, mas não tinha liberdade com eles. A turma pediu para eu entrar na roda. O Servílio estava na roda, a bola veio, eu dominei e ameacei jogar debaixo das pernas dele. A bola bateu, passou e todo mundo começou a tirar sarro. Ele saiu da roda depois e ficou ao meu lado. De repente ele falou: “Garoto, treina sério porque aqui não é o Flamengo”. Ele nem olhou para mim. Eu pedi desculpa e nunca mais fiz aquilo. Esse era o comportamento do time. Era lindo, muito profissional. O Palmeiras não é um time de brincadeira, é um clube sério, vencedor – recorda o ex-jogador, com detalhes de quem ainda mantém diálogos importantes na memória.



– O Servílio me chamou e disse que quando ele pegasse na bola era para eu correr. E que quando ele subisse para disputar de cabeça era para se adiantar porque ele ia ganhar. Eu era o mais novo da Academia e acreditei nos meus amigos. Um dia, depois de uma derrota para o Bahia no Robertão, eu estava no fundo, quieto, e o Servílio disse que eu chutava forte, mas pediu para que eu dosasse na força quando estivesse dentro da área. Comecei a ouvir e fazer muito gol. Aí estourei (risos) – completa.



CÉSAR, O MALUCO



Além dos 180 gols e dos diversos títulos, César conquistou os palmeirenses por seu estilo de jogo. Raçudo e brigador, às vezes até demais, o centroavante mostrou um talento para fazer gol e um de decisão que dificilmente será superado por outro atleta no clube. E na hora do gol, fazia questão de sentir o calor do povo e, por diversas vezes, subiu o alambrado para festejar ao lado dos palmeirenses.



A explosão de alegria lhe rendeu um apelido que não era muito bem aceito no começo. O César Lemos da primeira Academia, jovem e inexperiente que havia chegado para atuar ao lado de diversos craques, deu lugar para o eterno César Maluco dos torcedores.

– O Geraldo José de Almeida que falava isso: “Olha lá o maluco”. Isso porque eu subia no alambrado para comemorar e tal. Mas quando eu jogava não gostava não. Ele viu que eu estava agitando muito, brigando, subindo no alambrado. Ele falou isso e a torcida pegou. Mas eu não aceitava – admite.



– Depois que eu parei, eu fui num programa de rádio e avisei que se me chamassem de Maluco eu ia me retirar, que meu nome era César Lemos. Eles começaram a falar da minha vida e pediram para eu ouvir uma gravação. Tinham feito uma entrevista na minha casa sem eu saber. Aí meu neto mandou um beijo para o vovô César Maluco. Aí caiu a casa. Hoje eu adoro esse apelido (risos) – completa.



AS ACADEMIAS



César foi um dos poucos atletas que tiveram o privilégio de fazer parte de dois dos momentos mais marcantes da centenária história alviverde: as Academias. Depois de desembarcar no clube, em 1967, o atacante fez parte daquele time que ficou eternizado anos antes pelo argentino Filpo Nuñez como a primeira Academia.





César Maluco é o o terceiro agachado , na segunda Academia do Palmeiras (Foto: Arquivo / Agência Estado)



Já com Aymoré Moreira no comando, e iniciando a transição para a segunda Academia da década de 1970, o atacante mostrou que seria peça fundamental ao time com os dois gols diante do Grêmio na vitória por 2 a 1 na partida em que o Verdão confirmou o título do Torneio Roberto Gomes Pedrosa de 1967. Depois, conquistou a Taça Brasil de 1967, novamente o Robertão de 1969, o Campeonato Brasileiro em 1972 e 1973 e o Campeonato Paulista de 1972 e 1974.



– Aquele era um time disciplinado, vencedor, que não brincava. Se o treino tivesse duas horas, eram duas horas de trabalho. O nosso objetivo era vencer apenas. Tive a sorte de jogar na primeira Academia. Não participei daquele time que jogou pelo Brasil em Minas. Mas era um time que tinha muitos jogadores de nome. E a diretoria transmitia isso para gente, vitória e só vitória – afirma.



O time era conhecido por ter pelo menos dois bons jogadores por posição, e o artilheiro recorda das brincadeiras do grupo e da grande disputa interna por uma chance entre os titulares do Palmeiras.



– Era uma briga porque quem era titular não gostava de sair. Quem ficava gripado queria se curar logo para não sair do time. Tanto é que o apelido do Valdir é manco até hoje, porque até mancando ele jogava (risos). Tinha o Maidana para entrar no lugar dele – brinca.



CAPÍTULO CORINTHIANS



Assim como quando deixou o Flamengo, César teve de encarar uma transferência indesejada no fim de 1974. Após uma briga com Oswaldo Brandão durante a disputa do Torneio Ramon de Carranza, na Espanha, o atacante perdeu espaço no time e acabou sendo negociado com o Corinthians. Tanto que nem participou da decisão do Campeonato Paulista de 1974.



Quarenta anos depois, o ex-atacante ainda guarda mágoa pela maneira como deixou o clube e aponta dois culpados pela negociação com o maior rival: o técnico Oswaldo Brandão e o diretor Nelson Duque.



– Em 1974, nós ganhamos o Ramon de Carranza na Espanha, e o Real Madrid queria me contratar por US$ 320 mil. Era uma boa grana na época. Mas voltamos e chegamos para a disputa do Campeonato Paulista. Saí para tomar um vinho com um amigo espanhol, mas o Brandão não queria deixar porque viajaríamos no dia seguinte para Madri. Eu assumi que fui na frente de todos os jogadores, e ele disse que eu não jogaria mais com ele – recorda.



– Fiz parte daquele título de 1974, mas eu já tinha começado a me despedir do Palmeiras. Existia um acordo entre Vicente Matheus e Nelson Duque para eu não jogar a final. Foi uma sacanagem que o Nelson Duque fez. Eu não queria ir embora, mas ele me disse que já estava vendido – completa.



Quando esteve dentro de campo, César foi um terror para a defesa corintiana. Prova disso é o seu ótimo retrospecto no clássico – foram 14 gols em 24 partidas. A confiança era tanta que ele garante: se a Academia ainda estivesse em atividade, o Corinthians teria permanecido na fila até hoje.



– Durante a minha carreira, se nós perdemos duas ou três vezes para eles foi muito. Como um dos maiores goleadores da história do Palmeiras, eu entrava em campo sempre com a certeza de que faria um gol no Corinthians pelo menos. Com todo respeito ao meu neto corintiano, mas se eu estivesse jogando hoje, se a nossa turma estivesse jogando, o Corinthians ainda estaria na fila. Que me desculpem os corintianos, mas o Palmeiras dominava. Era só fazer um gol que eles ficavam apavorados – recorda.



O coração alviverde o fez ter problemas no maior rival com a torcida. E bastaram apenas 15 dias em seu novo clube para saber que seu lugar na capital paulista era no lado mais verde. Porém, os diversos pedidos para retornar ao Palmeiras não foram suficientes para sensibilizar os dirigentes da época.



– Quando fui para o Corinthians, fui maltratado moralmente lá. Depois de 15 dias no Corinthians eu voltei a falar com o Nelson Duque que queria voltar, só a troco da premiação mesmo. Ele falou que o negócio estava feito e não dava para desfazer. Eu vim umas três vezes ao Palmeiras para pedir para voltar, mas tive de ficar quieto – completa.



AMOR ETERNO



Carioca, César conseguiu uma rápida identificação com o Palmeiras. Além de vestir a camisa alviverde em 324 partidas, o ex-jogador se mantém vivo nos bastidores do clube como conselheiro eleito pelos associados.



Hoje apresentador de um programa de TV, ele não esconde de ninguém o seu desejo de participar mais ativamente do Verdão. Em sua última oportunidade, como diretor da base no fim da gestão do presidente Luiz Gonzaga Belluzzo, o ex-atacante cobrou melhorias.



– Eu sempre quis trabalhar no futebol. Aí me colocaram para trabalhar no departamento amador. Cheguei e vi que estava tudo errado. Na época, se não me engano, tinham dez jogadores ou mais que estavam lá só como vitrine, 100% de empresários. Tinha um jogador que teve uma má formação, principalmente na parte disciplinar. Chamei para uma conversa, dei uma dura e mandei multar, para o bem dele, mas os demais diretores não cumpriram as minhas ordens. Fiquei 15 dias e parei. Tem muitas pedras preciosas lá, é só lapidar e fazer o básico. Mas eles não jogaram bola. Então deveriam tomar conta das empresas deles e deixar essa instituição linda – diz.



Defensor público das cores verde e branca, César se transformou em um patrimônio da história palmeirense. Figurinha carimbada nas tradicionais alamedas do clube, o ex-jogador sempre é parado por torcedores para distribuir autógrafos, posar para fotos e relembrar os seus grandes momentos de atleta.



– O Palmeiras não é brincadeira, é um clube sério e vencedor. Ele representa a minha glória. Se não fosse o Palmeiras, jamais teria esse carinho da torcida, não teria oportunidades que eu tenho até hoje, não teria conhecido amigos, não teria esse respeito dos torcedores. E isso é verdadeiro porque eu não faço média com ninguém. A torcida do Palmeiras pode acreditar que sempre terá um palmeirense guerreiro como eu na vida do clube – afirma.



– Eu ficava torcendo para chegar quarta, sábado e domingo, louco para vestir essa camisa. E eu não trocava com ninguém. Sonhava que ia fazer dois ou três gols, que o Palmeiras ia ganhar. Tenho um amor muito grande por essa instituição, um respeito muito grande por esse manto sagrado que é a camisa do Palmeiras. Não aceito que nem diretor, nem presidente, nem torcedor fale do clube. Só quem pode falar é quem vestiu a camisa. Eu, como espírita, sinto uma sensação boa ao vestir essa camisa – finaliza.



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