Especial 100 anos de Palmeiras: De 1914 para a eternidade

26/8/2014 13:20

Especial 100 anos de Palmeiras: De 1914 para a eternidade

A Sociedade Esportiva Palmeiras é um dos poucos clubes de que se pode dizer ter "nascido duas vezes"

Especial 100 anos de Palmeiras: De 1914 para a eternidade

Time do Palestra Itália de 1916, que disputou o primeiro Campeonato Paulista de sua hist&oacu



A Sociedade Esportiva Palmeiras é um dos poucos clubes de que se pode dizer ter "nascido duas vezes". Não como algumas agremiações que interromperam suas atividades e retomaram com o tempo, mas como uma entidade que fez surgir, dela mesma, outra ainda mais forte, em um momento de dificuldade.



O primeiro nascimento veio em uma época em que a colônia italiana já era uma das mais numerosas e relevantes da capital paulista.



"O surgimento da Società Sportiva Palestra Italia é fruto de sonho de jovens idealistas italianos que pra cá vieram no início do século passado.



Eles sonhavam ter uma equipe de futebol que representasse toda a comunidade italiana naquele período, que era a maioria da população naquela época. Cerca de 60% da população de São Paulo era formada por imigrantes e descendentes de italianos", explicou Fernando Galuppo, historiador especialista em Palmeiras.



Esses jovens imigrantes eram Luigi Cervo, Luigi Marzo, Vincenzo Ragognetti e Ezequiel Simone (este último se tornaria o primeiro presidente da história da agremiação), que, estimulados pela excursão dos clubes Torino e Pro-Vercelli, ambos da Itália, ao Brasil, publicaram um convite para que se apresentassem todos os oriundi, como se chamavam os imigrantes daquele país, que apoiassem a criação da equipe.



Algumas reuniões foram necessárias para que se fizesse o acerto para a fundação, uma vez que a colônia italiana na cidade era dividida entre os nascidos em determinadas regiões de seu país de origem, como Nápoles e Veneza, de modo que uma unificação não seria fácil.



No dia 26 de agosto de 1914, então, um encontro realizado na região da Praça da Sé materializou o sonho dos jovens operários. A então Società Sportiva recebeu o nome de "Palestra" de um termo de origem grega, mas presente no idioma italiano, traduzido livremente por "academia onde se praticam atividades físicas". Que o termo "Academia" se tornaria apropriado e tão naturalmente ligado ao Palmeiras no seu centésimo aniversário, certamente nem os fundadores poderiam imaginar.



Fundado como uma equipe de futebol ambiciosa à grandeza e aos títulos que alcançaria posteriormente, o clube escolheu não iniciar suas atividades oficiais imediatamente, preferindo o fortalecimento de sua preparação para fazer frente a outros grandes da época, como o Corinthians e o Paulistano. Ainda em 1914, o Palestra Italia esteve próximo de um precoce encerramento de atividades, por conta da Primeira Guerra Mundial, para a qual muitos associados italianos do clube foram convocados a participar, esvaziando assim o quadro de associados recém-formado.



Desta forma, até que houvesse um número suficiente de associados, arrecadação de fundos para a compra de materiais esportivos apropriados e um número de treinamento suficientes para que a equipe entrasse forte no futebol, o Palestra Italia passou sua primeira virada de ano sem jogos realizados.



Foi só em 1915, em um amistoso contra o Savóia, na atual cidade de Votorantim, que o Palestra iniciou sua vencedora trajetória esportiva, vencendo por 2 a 0, no dia 24 de janeiro. Mas nem essa vitória nem outras ocorridas na sequência fizeram os membros da equipe adiantarem sua estreia em torneios oficiais, lembra Galuppo. "A primeira competição oficial ocorreu em 1916, a disputa do Campeonato Paulista, estreia contra o Mackenzie, empate em 1 a 1.



A partir de então, disputou diversas outras taças, troféus, amistosos e isso foi consolidando a equipe como forte candidata a vencer os títulos nos anos subsequentes". A candidatura palestrina a títulos logo em seus primeiros anos de existência fez com que uma rivalidade hoje já cotidiana dos torcedores se desenvolvesse.



Apesar dos boatos, o Palestra Italia não nasceu de uma dissidência do rival Corinthians, mas as origens de ambas as equipes se assemelham. O historiador reforça que a criação do time alviverde - que à época, também dava certo destaque ao vermelho, cores italianas - praticamente selou esse distanciamento com os alvinegros.



"A rivalidade entre Palmeiras e Corinthians já nasce no DNA das duas instituições. O Corinthians fundado em setembro de 1910, um clube de operários, imigrantes, à margem da elite. Quatro anos depois surge o Palestra Italia e isso já criou um antagonismo das massas.



Tanto Corinthians quanto o Palestra já nascem com a vocação de 'clube popular' e isso já faz um embate. Isso se polariza a partir de 1917, quando aconteceu o primeiro confronto em Campeonato Paulista". A vitória palestrina por 3 a 0 foi marcante por se tratar de um confronto de uma equipe com menos de três anos de existência - e pouco mais de dois de atividade - contra uma supostamente mais estruturada, pois tinha mais que o dobro do tempo de vida.



Sendo uma espécie de "clube estrangeiro", por tudo que cercou sua origem, o Palestra Italia nem sempre foi bem aceito pelos outros clubes de São Paulo, resultando até mesmo no desligamento do clube, como resposta aos adversários, do Campeonato Paulista de 1918. "O processo de afastamento do Palestra Itália foi pelo fato dele ser encarado pelas pessoas que comandavam a Liga como um intruso. Para se ter uma ideia, eram usados termos pejorativos como 'italianinho', 'carcamano'". O retorno, segundo Galuppo, se deu por conta de um acordo. "A saída do Palestra causou um enfraquecimento brutal da popularidade trazida pelo clube e seus torcedores ao Campeonato Paulista".



1920: Título e estádio



O início da década de 1920 não poderia ter sido melhor para o Palestra Italia. A equipe conquistou naquele ano seu primeiro título paulista, contra o então tetracampeão consecutivo Paulistano, e realizou ainda, com o aporte da Companhia Matarazzo, a compra do terreno em que hoje se encontra seu estádio. O Allianz Parque, nome a ser utilizado pela arena palmeirense nessa nova fase, passaria a ser uma das grandes forças do clube.



Foi no então estádio Palestra Italia que o clube obteve a maior vitória de sua história centenária, um estarrecedor placar de 11 a 0 sobre o já extinto time do Internacional-SP. Outras glórias, como a inédita Taça Libertadores, em 1999, também aconteceram na casa alviverde.



Palestra 'abrasileirado'



Qualquer torcedor do clube sabe que o nome original da agremiação foi modificado em algum ponto da história, no caso, em 1942. Mas o que a maioria não sabe é que o novo nascimento do que viria a ser o Palmeiras não se fez de uma hora para outra. "A questão de nome da mudança de nome de Palestra Italia para Palmeiras começa a surgir em 1938. Já havia uma sinalização do governo Vargas no sentido de 'abrasileirar' nomenclaturas, instituições, a própria política, semântica, então já havia uma inclinação para que houvesse essa disposição". Mais uma vez, conta o especialista, um período de guerra punha em risco a plena existência palestrina. O governo de Getúlio Vargas pretendia reprimir qualquer ligação de instituições nacionais com países do Eixo, na Segunda Guerra (Alemanha, Japão e, claro, Itália). "A partir disso começou uma pressão velada, o que culminou em 1942 um decreto por lei, como uma forma mais impositiva".



Esse 'boicote' às instituições com origens vistas como inimigas quase tiraram o estádio do Palmeiras. "Foi feita uma pressão para que se aprovasse a perda de qualquer propriedade ligada aos países do Eixo, e outros clubes viram aí uma oportunidade de tirar o Parque da Antárctica (primeiro nome da propriedade) do Palestra e levá-lo à leilão", explica Galuppo.



De fato, então, em 1942, em meio à disputa do Campeonato Paulista, o Palestra se vê obrigado a ceder às pressões do governo e também dos adversários. Então líder, o time muda seu nome antes de uma partida decisiva contra um dos seus maiores rivais, o São Paulo. "O clube entra nessa partida contra o São Paulo extremamente pressionado, mas acima de tudo ele tinha um foco muito claro no objetivo que era obter mais uma conquista sobre um grande rival, sobre uma equipe que tinha feito o maior investimento até então. Era falado pela imprensa como o favorito.



Mas a partir do momento em que o General Adalberto Mendes, ladeado por Oberdan Cattani, que já era um ídolo em afirmação, e pelo capitão Junqueira, entram com o pavilhão nacional no estádio do Pacaembu, antes do início daquela grande decisão, onde o clima era de hostilidade com os palestrinos, aquilo se quebra, e toda aquela energia negativa se reverte em confiança para aquilo que é chamado de Arrancada Heroica".



Se sentindo prejudicado durante a parcial derrota por 3 a 1, o São Paulo abandona o campo de jogo e o recém-renascido Palmeiras (nome dado para homenagear a Associação Atlética das Palmeiras, um clube aliado do Palestra e que já estava extinto) se sagra campeão. "A Arrancada está presente nos corações de todas as gerações de palmeirenses, esse é o nosso legado, ali se mostrou o verdadeiro significado daquela instituição", se orgulha o historiador.



De fato, é campeão



Um dos assuntos mais controversos da história do Palmeiras é ter ou não um título mundial conquistado. A pauta da discussão é a Copa Rio de 1951, nome pelo qual ficou conhecido o Torneio Internacional de Clubes Campeões, que foi a primeira competição oficial de futebol do planeta a por frente a frente clubes campeões de diferentes continentes, no caso, a Europa e a América do Sul. O formato é um precursor da disputa da Taça Intercontinental, que se convencionou chamar de "Mundial de Clubes", na ausência de outro campeonato do mesmo porte, mas que depois foi "desautorizado" pela Fifa.



Para Fernando Galuppo, o assunto não tem nada de controverso. "O simples fato de a Fifa ter idealizado, através de membros como Jules Rimet, uma competição de clubes que representassem um Mundial, congregando as principais equipes campeãs de seus respectivos continentes, faz com que esta se torne o embrião de tudo o que a entidade idealizou, não de 2000 para frente, mas desde os anos 1930, quando o sonho maior nem era montar um torneio de seleções, mas de clubes". De acordo com o especialista, fatores impeditivos como logística e gastos gerais impediram a ideia de tomar forma já na primeira metade do século passado.



A volta da Copa do Mundo de seleções, no período pós-Segunda Guerra, no Brasil, em 1950, também incentivou a Fifa e a Confederação Brasileira de Desportos, precursora da CBF, a articularem o então novo torneio de clubes. Para Galuppo, ao não incluir o Palmeiras como seu primeiro campeão mundial oficialmente, a entidade máxima do futebol "reconsidera sua própria história". A visão de que o confronto decisivo entre o Verdão e a Juventus-ITA, no Maracanã, funcionaria como uma nova chance de o Brasil ser campeão do mundo após o fracasso do ano anterior, fez até mesmo com que os mais de 100 mil espectadores incentivassem o Palmeiras gritando "Brasil", e não o nome da equipe.



"O Palmeiras, no dia anterior, faz um pedido formal à Fifa e à CBD por uma chancela que permitisse à equipe disputar aquela partida com o uniforme da seleção, mas não consegue a permissão, já que as entidades consideravam aquela uma competição oficial de ambas". Em 1965, a própria CBD nomeia o Palmeiras para representá-la em um confronto amistoso contra o Uruguai, vencido pelo Palmeiras/Brasil por 3 a 0. "O Palmeiras entra em campo empunhando a bandeira do Brasil e com este símbolo bordado sobre o escudo da equipe, indicando que representava não a si mesmo, mas ao país". Galuppo considera o não reconhecimento como um "desserviço" da Fifa à própria história, e vê uma possível indicação de um Mundial de Clubes de 1951 como um "passo à frente" da entidade.



A saída do Palmeiras nos braços do povo brasileiro após o empate em 2 a 2 com os italianos e as manchetes de jornal do dia seguinte indicando "Palmeiras Campeão do Mundo" corroboram com o historiador, mas mais que isso, poderiam confirmar o que o hino do clube já prega e seus torcedores, apesar dos momentos difíceis, sabem. Que o clube, Sociedade Esportiva Palmeiras, de fato, é campeão.



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