Nobre avareza: Presidente do Palmeiras explica situação do clube

6/9/2014 14:55

Nobre avareza: Presidente do Palmeiras explica situação do clube

Em meio à cobrança por reforços, por patrocínio e pela Arena, o presidente Paulo Nobre rebate os críticos

Nobre avareza: Presidente do Palmeiras explica situação do clube

Paulo Nobre, presidente do Palmeiras | Crédito: Alexandre Battibugli



Política. O aliado Mustafá Contursi e o opositor Luiz Gonzaga Belluzzo. As polêmicas saídas de Henrique e Alan Kardec. A decisão de contratar seguranças particulares. A mania de sair apagando as luzes na Academia. As difculdades com o patrocínio máster e Arena. Na estrevista à PLACAR, o presidente do Palmeiras falou de muitas coisas. Quase todas as suas respostas, porém, permearam um mesmo assunto: responsabilidade financeira. Para Paulo Nobre, está claro, o tema é quase uma obsessão.



Muitos dos dirigentes que vieram de outras áreas para o futebol saíram decepcionados com esse meio ou não conseguiram vingar. Você vem encontrando difculdades?



Quando era garoto, tinha o sonho de ser jogador do Palmeiras e imaginava que um dia poderia ser o presidente do clube. Acabei virando sócio do Palmeiras pelas mãos do Marco Polo Del Nero [presidente eleito da CBF] — eu estudava na classe da filha dele. Mas eu frequentava o clube só por causa do futebol. Já adulto, comecei a ver o lado político e tive vontade de ser conselheiro. Fiz um comitê com meia dúzia de amigos e consegui me eleger, em 1997. Fui diretor social, depois candidato a presidente do conselho. E em 2005 lancei minha candidatura independente à presidência. A terceira via, na época. E aí quem eram meus concorrentes?



Mustafá e Belluzzo...



Só o Belluzzo e o Mustafá. Foi interessante porque acabei tendo 44 votos, contra 47 do Belluzzo e 160 do Mustafá. Saí com uma vitória por ter lançado uma semente nova. Dois anos depois fui convidado a ser candidato a vice, e me elegi. E fiquei próximo do futebol. Tudo isso para dizer que sempre estive perto desse esporte, então não tem surpresa. Se você se surpreendeu, é porque não se preparou. O futebol é uma ilha no mundo: tem tribunal próprio, regras próprias, uma lógica diferente, e tem um lado de vaidade gigantesco — porque você mexe com poder, dinheiro, visibilidade. É um meio individualista. A gente busca unidade entre os clubes, porque unidos eles são fortes. Quando alguém se acha mais esperto e quer dar um passa-moleque, está atirando no pé. Porque pode levar uma vantagem momentânea, mas, na frente, todo mundo se enfraquece.



Para conseguir gerir o palmeiras, você precisa se aliar com pessoas com ideias diferentes? Para muitos, do ponto de vista da preparação, você parece ter mais a ver com o [Luiz Gonzaga] Belluzzo [opositor] do que com o Mustafá [Contursi, aliado].



Talvez por não conhecer bem o Belluzzo, o Mustafá e não me conhecer bem. A expectativa que se criou em cima do Belluzzo, ele não tem culpa. Porque no afã de quem queria elegê-lo, no afã de fazer propaganda, endeusavam o Belluzzo. A decepção foi grande porque criaram uma expectativa grande. Mas o que ele já administrou? O que fez de sucesso para pegar um gigante como o Palmeiras e sentar aqui, 14 horas por dia, para administrar tudo? É uma pessoa renomada. E, quando eleito, foi um orgulho para todo palmeirense, porque é um intelectual, uma pessoa que tem respeitabilidade na política etc. No mercado financeiro não muita, mas na política, no meio acadêmico, súper. Esperavam que ele tivesse feito uma presidência completamente diferenciada.



Mas há hoje com o Mustafá uma aliança de ideias, ou é uma aliança para lhe permitir gerir o clube?



Ele não apoiaria quem não tivesse convergência de filosofia. Onde converge a minha filosofia com a do Mustafá? Na esponsabilidade financeira. Desde que eu saí da diretoria [na gestão de Mustafá], muitos falaram que ele ia me perseguir. Até hoje ele fala: “Eu te persegui?” Não, nunca. Quando ele me procurou para essa candidatura, as pessoas falaram: “O que você deu? Diretoria, vice-presidência? ”Eu falo: “Você acha que o Mustafá está preocupado em ter uma diretoria? O cara foi presidente por 12 anos!”. Ele só me disse o seguinte: “Eu tenho 75 votos, que estarão com você se você tiver

ocompromisso de não brincar com o dinheiro do clube”. Você não se interessaria mais com o resultado do futebol do que ele? Para muitos, o Mustafá nunca esteve preocupado com o futebol. Não posso responder como o Mustafá sente o futebol. Eu sou um fanático. Uma das grandes dificuldades que tenho é administrar meu fanatismo ao tomar as decisões. Mas tenho plena consciência de que não posso meter os pés pelas mãos, que o Palmeiras é uma caixa-d’água onde há muito tempo sai mais água do que entra. Aquilo que eu criticava eu agora posso fazer? Não existe dinheiro, não adianta tomar a mesma atitude que os meus antecessores: me deixaram no meu primeiro ano de gestão com 25% da receita e, no segundo, com 70%. Cacete! Se você juntar os dois anos, eu não tenho um: dá 95%! O que a gente está tentando fazer é um super alongamento da dívida, para dez ou 15 anos. Esse trabalho não é para ter um Palmeiras forte da minha gestão. É para ter um Palmeiras forte e campeão sempre! Agora, para ter esse tipo de solidez não é com passe de mágica, você precisa plantar para um dia colher. As pessoas são muito imediatistas.



Qual a expectativa em relação à utilização da Arena este ano? O imbróglio é consequência de má-fé ou de um contrato mal redigido?



Eu não vejo a hora de jogar na Arena. Agora, como dirigente, não posso viver em cima de expectativas. Tenho que viver de fatos para um planejamento concreto, não ilusório. Mas, se não acontecer este ano, isso já está dentro do nosso planejamento.



Se você tivesse que dar um percentual...



Ah, difícil. Acredito que a gente vai acabar jogando este ano porque sou otimista. Sobre o imbróglio, eu seria leviano se dissesse que foi fruto de má-fé. Talvez um pouco de despreparo de quem tomou a decisão fnal e assinou. Não posso falar se leu ou não leu porque eu não estava lá, mas houve despreparo. O que foi assinado não foi o combinado com o Conselho. E qualquer mudança deveria ter sido passada ao Conselho. Como presidente, tenho responsabilidade com os próximos 30 anos. Inaugurar a Arena na minha gestão ou não tanto faz. Se você tem um desvio pequeno no início, em 30 anos ele estará enorme. E aí estarei prejudicando o Palmeiras, em nome de ter inaugurado na minha gestão.



Sua resposta dá a impressão de que a WTorre está na dela no embate. Você acha que há tentativa de se aproveitar do contrato mal redigido?



Difícil dizer o que se passa na cabeça deles. O que eu posso dizer é que o que foi assinado não foi o combinado. E não é que falavam-se dois e colocaram-se três, falam-se cinco e colocam-se nove. É que muita coisa fcou sujeita a interpretações. Coisas tão claras que tinham que estar no contrato. Como ficou genérico, está sujeito a interpretações, e as do clube e da construtora são confitantes.



Sobre as polêmicas saídas de Barcos, Henrique e Kardec. Olhando para a postura dos jogadores e seus empresários, qual te chateou mais?



Quando você é presidente — e eu vou falar na teoria, porque não sei se consigo seguir o que vou falar —, não pode ficar chateado. Você tem que avaliar quem é sério e cortar quem não é do seu relacionamento. Com o Barcos, eu tive pouco contato. Com o Henrique, me surpreendeu o amor todo que ele sentia pelo Palmeiras, sendo que ele estava acionando o clube para sair de graça e declarando na mídia que só sairia se fosse obrigado. A postura de sentar com o presidente para conversar e no meio do diálogo sair de férias e acionar o clube para sair, de graça, falando que amava o clube, me surpreendeu.



E o Kardec?



Com relação ao Kardec, talvez tenha doído mais, por um simples motivo: ele foi educado, trabalhador, sério. Um jogador com uma superqualidade e que estava jogado, juntando pó no Benfca B, no completo ostracismo. Aí você o traz de graça. Quando ele veio, sabe quando você sente que foi o teu jogador? Eu fui para Portugal só para tratar disso, me envolvi muito. Então, quando ele pula o muro e aí fala: “Pô, mas o Palmeiras, por uma diferença pequena...”. Vamos analisar por outro ângulo: ele também, por uma diferença pequena, não quis ficar! Foi envenenado pelo empresário, que teve uma postura desprezível. Não tenho raiva do Kardec, mas fiquei chateado, porque esperava uma consideração que não veio.



Sua crítica maior é ao empresário dele ou ao pai, que deu entrevista justificando a escolha?



O pai defende os interesses do filho. Estava morrendo de medo que ele voltasse para o Benfica — diz que foi a pior época da vida dele etc. O pai ficou chateado porque eu não sentei na mesa para negociar, o que eu acho estranho porque tenho uma das pessoas mais renomadas do Brasil, que é o Brunoro, e fazia tudo. Eu sempre entro no final.



Qual a autonomia do Brunoro, já que ele tem um cargo alto e, segundo o pai do Kardec, por um valor pequeno precisou te consultar.



Primeiro, não existe valor pequeno no futebol. Uma pessoa, por mais rica que seja, se começar a desperdiçar 1 real um milhão de vezes, perdeu 1 milhão. Dinheiro é dinheiro.





Caso Kardec: Nobre esperava uma consideração que não veio | Crédito: Alexandre Battibugli



Você pode dizer qual é esse valor?



Posso te falar depois, em off, mas eu não gosto de expor números de jogadores. É que, neste caso, ele próprio expôs... Sim, mas não expôs qual o contrato que ele tinha. Falou só de uma eventual diferença. Vou te falar o que houve: quando eu faço um contrato, tenho que me preocupar com o que estou me comprometendo, o que vou pagar. O contrato tem três partes: a luva, o salário fixo e a produtividade, que é a pessoa estar em campo [explica então toda a operação, os percentuais e os desentendimentos sobre a contabilização ou não da produtividade na previsão de pagamento]. Quando eu fui encontrar com ele [Kardec pai], expliquei isso, e ele falou: “Paulo, mas não sei se na produtividade ele vai ganhar, porque ele pode se contundir”. Então eu disse: “Eu tenho responsabilidade. Se me comprometo de pagar isso de luva e isso de produtividade, tenho que me preparar. Então, a produtividade, que o senhor está falando que não conta, eu tenho que contar. Porque eu vou pagar”.



Mas em que momento houve essa discussão? Esse papo todo de que o Brunoro...



O Brunoro tinha que me consultar porque era um valor relevante. No futebol, não tem pouca porcaria! Ainda mais numa gestão de responsabilidade financeira. Sabe o que eu faço quando saio daqui às 23h30? Saio apagando as luzes! Puto da vida quando deixam luzes acesas! Na renovação de salários de funcionários, arredondavam. E eu falava: “Arredondou por quê? Não era IGP-M? Isso que você está tirando aqui é 5%. Pouco? Tira 5% de tudo e você vai ver o que vai dar!” Não quero reacender a discussão com o Alan Kardec, depois de tudo eu fiquei decepcionado porque esperava uma consideração que não veio. Mas não é que não veio do Kardec: é uma consideração que não existe no futebol.



Sobre a outra ponta desse imbróglio, você rompeu relações com a diretoria do São Paulo. Como disse o Oberdan nos anos 40: “O São Paulo é inimigo; e o Corinthians, adversário”?



Tenho profundo respeito pela instituição São Paulo. Tem uma rivalidade grande com o Palmeiras, desde 1942, com todo fato histórico, tentativa de tomada do Palestra Itália. Quem viveu 42 odeia o São Paulo. Eu não vivi. Isso está no ar, essa má relação. Na época de Palestra, a gente até ajudou eles, e muito. Como o Corinthians. O que o presidente do São Paulo fez foi de uma falta de ética gigantesca. Aí, com a declaração dele, irônica e desrespeitosa com o Palmeiras, eu digo: com a gestão dele eu não me relaciono mais. Institucionalmente, o Palmeiras pode se relacionar com o São Paulo. Mas é meramente institucional.



Falando de relações cortadas, recentemente o portal UOL publicou uma notícia dizendo que você está andando com seguranças por causa do rompimento com as torcidas organizadas.



O UOL, desde o início da minha gestão, não sei se por ânsia de cliques, começou com um... ouviu o galo cantar e não sabe onde, consulta a gente e não publica, a gente nega e eles publicam como verdade. Não coloco em dúvida a integridade da instituição, mas digo: palmeirense, cuidado ao ler notícias no UOL. Teve também jornalista de TV que não soube se comportar com o clube, então a gente não se relaciona. Eu ando com seguranças porque começaram a falar absurdos como que eu era dono do Banco Itaú. Se eu fosse dono do Itaú, você acha que o Palmeiras ia ter alguma dívida?! O Messi estaria aqui se eu fosse dono do Itaú!



Ser avalista de empréstimos para o Palmeiras faz parte de uma gestão profissional?



É tudo na contramão do que penso. Pessoas às vezes me aplaudem, me dizem: “Você é um grande palmeirense”. E eu falo para você: tenho vergonha de, na minha gestão, ter acontecido isso. Só que, se isso não tivesse acontecido, o clube ia parar. Os clubes de futebol têm credibilidade tão baixa no mercado que, para tomar dinheiro, ou não conseguem ou tomam com taxas absurdas. Como eu aplico dinheiro — e sou agressivo nos meus investimentos —, consegui captar dinheiro a menos da metade do que o Palmeiras pagaria. Mas não me sinto honrado, me sinto envergonhado. Quero que o Palmeiras devolva isso em dez ou 15 anos porque, se tiver que devolver num período mais curto, vai pegar tanto da sua receita anual que o clube vai ter que começar a tomar empréstimo para me pagar. E não é esse o objetivo.



Você falou que, como investidor, é agressivo. Sua gestão é criticada por não ser agressiva. Não é necessário investir para ter retorno no futebol? Se contratar bons jogadores, você enche estádios, aumenta as vendas...



É tudo uma engrenagem. Eu sou muito agressivo com meu dinheiro, mas se eu perder eu não devo satisfação a ninguém. Com o Palmeiras eu não posso ser tão agressivo, não tenho esse direito. Porque, se a coisa não der certo, como é que fica o Palmeiras? Não posso dar um passo maior que a perna. E, se a caixa está vazia, não tem como sair água. “Abra os cofres, presidente!” Mas eu cheguei com os cofres abertos e não tinha nada!



Mas, quando investe agressivamente, você se vale da sua competência, de acreditar que não está investindo para perder...



Quanto mais agressivo você é, maior o seu retorno e maior ainda é seu risco. E eu não posso fazer isso com o Palmeiras. Agora, eu concordo com você: você tem que fazer uma engrenagem que faça girar o círculo virtuoso. Então ter um bom time, mais renda, melhor administração etc. Mas você não consegue ir de 0 a 100 em um décimo de segundo. Para a roda girar, você precisa iniciar devagar para acelerar, precisa ter um crescimento sustentável. Bolha não serve, parece tudo lindo, aí alguém faz um furinho e puf... Não tem sacanagem aqui! Eu sou criticado. Não era muito mais legal eu ser enaltecido, trazer esse e aquele jogador? Nego promete uma luva impagável, e não paga! O outro dá aumento, e não paga, mas promete com data retroativa na gestão dos outros. Tem certas negociações aqui que são verdadeiros estupros financeiros no clube. Agora, vai perguntar se o torcedor ficou feliz? Claro. Toda dificuldade que a gente encontra é porque limparam tudo. Limparam tudo que eles tinham e o que não tinham.



Uma das críticas mais fortes à sua gestão é a falta do patrocínio máster. E você chegou a falar, em 2013, que estava próximo de conseguir. O que houve?



O ano de 2014, para o palmeirense, é o mais importante porque é nosso centenário. Só que, para o resto, 2014 é o ano da Copa do Mundo. Assim como para todo patrocinador com apetite para fazer um máster — porque máster por 25% do que a gente está acostumado não é máster. Todo mundo investiu na Copa, porque era o que dava visibilidade. Se uma instituição financeira não tivesse entrado no meio do futebol, muitos times estariam sem patrocínio. Que patrocínio novo surgiu nestes dois anos? Tirando essa instituição financeira, não tem patrocínio!



Falou-se que a própria caixa [Econômica Federal, instituição à qual Nobre se referiu] seria o patrocinador do Palmeiras.



Só que foi tanta gente pedindo patrocínio para a Caixa que eles decidiram: se a gente atender um e não atender outro, a gente vai se queimar. Então não vamos atender ninguém, vamos só manter o que já existe. Foi a resposta que recebemos. Mas tenho certeza que agora, no pós-Copa, os patrocinadores vão voltar a procurar as grandes instituições. A coisa ficou tão minguada que um patrocinador acostumado a patrocinar times de terceira linha teve a audácia de fazer uma proposta para colocar uma tarja vermelha na nossa camisa, por uma ninharia. Tipo 25 mil reais por jogo. Em outras épocas teriam vergonha. É porque não tem patrocínio.



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