Auxiliares se reinventam no futebol brasileiro e crescem no mercado de treinadores

26/6/2021 11:32

Auxiliares se reinventam no futebol brasileiro e crescem no mercado de treinadores

Assistentes ganham espaço após mudança na regra de demissões de técnicos no Brasileirão

Auxiliares se reinventam no futebol brasileiro e crescem no mercado de treinadores

Foi-se o tempo em que o auxiliar técnico era apenas um fiel escudeiro do treinador. Mesmo que ainda sem o protagonismo do chefe e o reconhecimento do torcedor em geral, os assistentes estão cada vez mais participativos no dia a dia, com mais determinações e responsabilidades dentro e fora de campo. Situação que há 20 anos era inimaginável no futebol brasileiro.







Entre os 20 clubes da Série A há vários nomes que se destacaram dentro das quatro linhas, como o chileno Maldonado (Red Bull Bragantino), Doriva (Corinthians) e Kelly (Grêmio), e que hoje são integrantes das comissões técnicas. No futebol mundial, o grande nome é Thierry Henry, ex-atacante do Arsenal e da seleção francesa e que agora se arrisca como auxiliar da Bélgica na Eurocopa.





Os estrangeiros também invadiram o cenário nacional, com as chegadas do francês Charles Hembert (Flamengo), do argentino Juan Branda (São Paulo) e do português João Martins (Palmeiras). O último até ganhou os holofotes em abril por uma confusão com o dirigente Marcos Braz, do Flamengo, na Supercopa do Brasil vencida pelo Rubro-Negro nos pênaltis.





Um dos precursores de auxiliar com mais funções no Brasil foi Paulo César Gusmão. Em 2001, acumulou as áreas de preparador de goleiro e auxiliar no Vasco e tomou gosto. Dois anos depois, teve o seu melhor trabalho com Vanderlei Luxemburgo, com quem ganhou mais tarefas e viu uma lacuna que existia no mercado.





"Antes no Brasil era assim. O cara tinha sido jogador, precisava de um trabalho, de dinheiro e era chamado para ser auxiliar porque era amigo do treinador. Mas ele não dava treino. Só ficava dando apoio, alguma opinião e escutava as coisas. Precisava ter essa afinidade, essa amizade. Mas era sempre o treinador que comandava tudo. Hoje não tem como. Se for só por amizade, o trabalho não vai dar certo", afirmou PC Gusmão.





Quem endossa a opinião é Maldonado, jogador com quem trabalhou no Cruzeiro e que diz ter poucas referências na área em relação ao período em que atuava.





"Eu tive auxiliares bem diferentes. Eu gostava do PC Gusmão, que dava os trabalhos com o Luxemburgo, e do Sylvinho e Carille, com o Tite, no Corinthians. Mas essa coisa de auxiliar é meio nova. Na minha época não tinha, talvez, porque eles não eram tão preparados. Antes o auxiliar era só para completar a comissão técnica, dar algum tipo de treino e ser um homem de confiança porque as pessoas não confiavam muito nos profissionais do clube. Agora não tem como. Tem de fazer tudo, tem de estudar, fazer cursos, tudo que o treinador faz", disse Maldonado.







Regra beneficia Auxiliares



Ex-volante de Cruzeiro, Flamengo, Santos e São Paulo, Maldonado sentia esse clima de desconfiança entre os técnicos e profissionais da casa, situação que precisou ser superada nos dias atuais. Por conta da grande instabilidade no cargo e da alta rotatividade, as diretorias dos clubes passaram a montar comissões técnicas permanentes, com maior valorização dos treinadores desde as categorias de base e expectativa de que um dia possam treinar a equipe principal.





Essa mudança de mentalidade ganhou ainda mais força neste ano com uma nova cláusula no regulamento Campeonato Brasileiro. Cada clube só pode fazer uma demissão de técnico durante o campeonato, assim como cada treinador pode pedir desligamento uma vez para poder treinar uma nova equipe.





A limitação vai reduzir o número de trocas do futebol brasileiro e dar mais respaldo a auxiliares permanentes dos clubes. Caso algum time atinja o limite de mudanças, a única alternativa será apostar em alguém da casa.





A efetivação de auxiliares já proporcionou o surgimento de grandes treinadores no país. O caso de maior destaque é Fábio Carille, auxiliar de Tite no Corinthians e que depois assumiu o alvinegro para ser campeão brasileiro em 2017 e tri do Paulistão (2017, 2018 e 2019).







Além de Carille, quem também se aproveitou da situação foi Maurício Barbieri (Flamengo), Odair Hellmann (Internacional) e Roger Machado (Grêmio). Todos eles eram membros da comissão permanente dos seus clubes antes de assumirem como treinador principal para alçar voos maiores.





Carille é grande modelo de sucesso recente, mas não foi primeiro assistente a se tornar técnico e ganhar o Brasileiro. Antes dele, Muricy Ramalho, que foi auxiliar de Telê Santana no São Paulo, e Oswaldo de Oliveira, de Vanderlei Luxemburgo, também trocaram de função e levantaram a taça do Brasileirão.





Até o momento, três clubes já tiveram trocas de treinador no Campeonato Brasileiro: América-MG, Cuiabá e Internacional. Os dois últimos decidiram pela demissão e não poderão mais repetir a ação para contratar um novo treinador. Além dessa limitação, há também a implantação da punição para treinadores quando acumulam três cartões amarelos ou são expulsos do jogo.





A primeira experiência de Maldonado como técnico foi dessa maneira em um duelo contra o Palmeiras, quando Maurício Barbieri estava suspenso. Foram três anos desde o primeiro trabalho no Colo Colo-CHI como auxiliar. No ano passado, ele retornou ao Brasil e se juntou à comissão técnica de Maurício Barbieri no CSA, com quem seguiu para o Bragantino, uma situação que foge da usual por ser o chileno mais conhecido no futebol que o chefe e também por não ser uma amizade tão antiga como outros da área.





"A gente se conheceu num curso da CBF e aí ele me fez o convite para trabalhar no CSA. Fiquei feliz porque eu escutava coisas boas sobre ele. É um estilo que eu gosto, um modelo que eu gosto de jogo. Foi isso que me interessou porque procuramos coisas novas. É uma parceria que encaixou", definiu o ex-jogador que ainda não memorizou o nome de toda a família Barbieri.





"Ainda não sei o nome de todos filhos (risos). Só alguns. Ele tem quatro filhos. Existe uma amizade, mas não somos de falar o tempo inteiro, só quando precisa mesmo. Deixamos para falar as coisas no clube sobre o que precisamos fazer. Quando temos um tempo livre é mais para aproveitar a família".





Lealdade



Mesmo com todas as transformações da função, uma característica segue intacta. É a lealdade. Mais do que qualquer conhecimento, o auxiliar ainda precisa ser o filtro do treinador, lição que Odair Hellmann aprendeu logo no início quando trabalhou com Dunga, no Internacional em 2013.





"Quando o Dunga chegou, ele me disse: "Odair, você é o auxiliar da casa, talvez as pessoas, o presidente e diretores se sintam mais à vontade para falar contigo. Eu peço que tenha personalidade e clareza. O que você falar para eles precisa ser o mesmo que você vai me passar. Não fale uma coisa para o presidente e outra para mim". Acho que é isso. O treinador precisa ter essa lealdade, como o Dunga me ensinou lá atrás. Sou grato ao Dunga porque ele teve essa transparência comigo", disse o treinador, que complementou sobre o auxiliar também precisar ser um apaziguador de vestiário.







"O trabalho do auxiliar também é esse filtro porque a pressão em cima do treinador no Brasil é enorme. Então ele precisa ser o cara mais próximo, entender. Ele precisa ter um equilíbrio muito grande. Às vezes você está pilhado, louco para matar todo mundo, mas o auxiliar tem de ter a sensibilidade para fazer o jogo e não explodir junto. Tem de ser o contraponto do treinador".





Odair Hellmann é um exemplo para clubes que apostam em comissão técnica permanente. No Internacional desde o fim de 2009, ele passou pela base do clube e se tornou auxiliar em 2012. Após ser assistente no Internacional e seleção olímpica, o gaúcho assumiu o colorado e entrou no ranking do clube como o sexto técnico com mais jogos. Foram 116 partidas entre 20017 e 2019.





Atualmente no Al-Wasl, nos Emirados Árabes, Odair tem em Maurício Dulac seu fiel escudeiro, estudioso renomado e que se tornou um ponto de apoio e equilíbrio nos jogos.





"Hoje o Maurício me conhece só pelo meu movimento e eu sei como ele está só pela cor do rosto dele no jogo. A gente não precisa nem falar para entender o outro porque temos essa intimidade já. Acho que eu converso mais com ele que com a minha família. Acaba o treino, a gente ainda liga para o outro mais umas cinco vezes por dia e fala por uma hora ou mais quando chega em casa".





Quem conhece o chefe bem é Matheus Bachi. Filho de Tite, ele começou a trabalhar com o pai de forma oficial em 2015 no Corinthians. Antes atuava mais como um conselheiro familiar, como a indicação para a contratação de Paolo Guerrero pelo alvinegro, enquanto tentava a sorte como jogador na segunda divisão do Campeonato Gaúcho ou estudando nos Estados Unidos até dar início ao trabalho como auxiliar no Caxias, com estágio no Shakhtar Donetsk e cursos no Brasil e Europa.





Na seleção brasileira, a função é dividida com Cléber Xavier, parceiro histórico de Tite desde 2000, no Caxias, e também do próprio Matheus.





"O Clebinho sempre foi muito leal desde a época do Grêmio quando ele me acobertava matando aula. Eu pedia: "Não me entrega para o pai". E ele segurava", revelou com bom humor o filho do técnico da seleção brasileira.







Além de Cléber Xavier e Matheus, o Brasil também conta com César Sampaio entre os auxiliares na comissão técnica. Apesar do ambiente familiar e amistoso, Matheus garante que nem sempre a convivência é de total harmonia, principalmente em período de convocação.





"Semana antes da convocação é certeza que vai dar algum "arranca rabo". A gente começa a lista com todos os últimos convocados, adiciona 25, 27 atletas para analisar e vamos cortando. Nessa última das Eliminatórias, a gente chegou na última semana com 32 atletas e aí tinha de reduzir para 23. Aí é discussão com todo mundo. Auxiliar, treinador, preparador físico e analista. Mas é uma briga na intenção de buscar o melhor. Depois de duas horas está tudo bem porque os atletas, nem o entorno, podem perceber esses atritos".





Por conhecer tão bem o treinador da seleção brasileira, Matheus também ressalta a importância do auxiliar ter um tom mais pacífico para que a pressão não respingue ainda mais no comandante.







"Eu já fui um pouco mais explosivo, mas hoje eu me controlo. Não posso ficar nervoso e passar o terror porque isso passa para o treinador e também para os jogadores dentro de campo. Hoje nós sabemos bem quando é hora para tudo, até mesmo para passar uma orientação. Tem o momento que o Tite vira para trás e aí nós passamos a informação. Mas quando o problema é bem recorrente e o ajuste precisa ser feito urgente, nós não podemos esperar".





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