Thiago Santos é a imagem da simplicidade que o futebol exige e o Palmeiras hoje quase não tem no plantel. O gol da classificação foi dele, a encarada mais quente também, e a melhor atuação, desde que entrou, idem. Quando Cuca chegou por aqui ano passado, logo o testou na zaga. Lateral ele também já foi. Menos técnico, é mais jogador que Jean, por exemplo, cuja vaidade não permite que faça um terço do que o companheiro faz. Thiago é consciente, não um lunático. Sabe o limite técnico que possui e joga futebol de um jeito contagiante, mandíbula travada, muque de peão, nada por dentro que sugira superioridade. Não tem vergonha de correr pelo craque, pelo veterano e pelo desinteressado. É preciso valorizar sua contribuição.



Com a suspensão de Felipe Melo na Libertadores, provavelmente iremos com ele no lugar. Há perda técnica, mas o futebol vai muito além disso. Thiago Santos sabe que, além de lutar pela vaga por meios técnicos e táticos, também precisa lutar contra o nome, a grife, aquela coisa inexplicável que mantém Jean no time e ainda não motivou intervenção presidencial para acabar com a surreal saga de Zé Roberto rumo à satisfação dos objetivos de seu próprio ego, algo que o deixou bastante longe de valores básicos que envolvem vergonha na cara para se retirar sozinho do futebol. Thiago Santos é a compensação merecida de termos em campo Róger Guedes, o fedelho cuja alma já está na Europa, e um elo entre o gramado e os palmeirenses meio constrangidos com esse papo de "melhor elenco do Brasil". Se não jogar o melhor futebol do Brasil, dane-se o nível do elenco. Precisamos, ontem, de um operário para passar de fase e corrigir os erros de Cuca, o medo dos imberbes e a língua dos convencidos.



Só estamos nas quartas de final graças ao gol e à ótima partida de um sujeito que não teria espaço nessa narrativa soberba. Assim como o golaço de Zé Roberto semana passada, nos acréscimos e com gol aberto, nos custou mais um banquete de arrogância do ex-jogador, o gol de Thiago Santos ontem está nos custando sabe o quê? Silêncio, simplicidade, nada de resposta altiva, dedo na cara, "sabe quem eu sou?", "não preciso provar nada a ninguém" e outras palhaçadas.



O Palmeiras precisa de Thiago Santos na medida em que o Thiago Santos sabe que precisa do Palmeiras. É a relação mais honesta deste elenco. Pelo que joga, ainda que lhe falte bola para ser um incontestável, mas também pelo que representa - um Palmeiras muito mais próximo do que deveríamos querer, que trabalha duro, é homem feito e não vive das muletas do torcedor ingênuo que interditou a pressão e a cobrança no futebol.



A classificação no Beira-Rio com futebol paupérrimo foi gigante, e tem o nome de Thiago Santos na súmula e na crônica.

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