A construção do craque: como Veiga se tornou ídolo do Palmeiras após ter carreira ameaçada

30/12/2023 08:32

A construção do craque: como Veiga se tornou ídolo do Palmeiras após ter carreira ameaçada

A construção do craque: como Veiga se tornou ídolo do Palmeiras após ter carreira ameaçada

Raphael Veiga chegou à Espanha na última segunda-feira, junto de Weverton e Rony, para representar o Palmeiras nos amistosos da seleção brasileira contra Guiné e Senegal . As partidas serão no sábado, dia 17, e na terça-feira que vem, dia 20.

Aos 27 anos de idade, o meia vive seu auge: é um dos principais nomes da equipe multicampeã de Abel Ferreira, enfim passou a ser convocado pela equipe nacional, empilha gols e títulos... Mas a trajetória até a formação do atual craque alviverde não foi fácil.

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Raphael Veiga vive grande momento no Palmeiras — Foto: Montagem ge

Raphael Veiga vive grande momento no Palmeiras — Foto: Montagem ge

Mesmo no Palmeiras , o primeiro ano não foi de destaque. Só a partir do empréstimo ao Athletico-PR, em 2018, que Raphael Veiga começou a despontar como um dos grandes meias do futebol brasileiro.

A consagração veio com Abel Ferreira. Tratado pelo português como o melhor camisa 10 com quem já trabalhou , o camisa 23 virou o jogador com mais gols em finais na história do Palmeiras (11) e neste início de ciclo pós-Copa do Mundo esteve nas duas convocações do Brasil (algo cobrado na era Tite).

Mas a história poderia ter sido diferente. A começar pelo primeiro teste no arquirrival Corinthians, em que tentou ser goleiro. Ou até pelo "ultimato" que deu no Coritiba antes de fazer sua estreia como profissional. Meses antes de acertar com o Verdão, sua trajetória esteve em risco.

– Ele estava preocupado, se não fosse aproveitado, preferia ir para São Paulo, onde morava a família. Na época, fazia faculdade de Educação Física e como não estava sendo usado, queria uma chance ou ser liberado. Pedi um dia para conversar com o Gilson Kleina (técnico da época). Ele então viajou para a pré-temporada e deu certo porque ele é bom jogador. Muito bom – relembrou Valdir Barbosa, diretor do Coritiba à época, ao ge .

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Primeiras defesas e chutes no arquirrival

Raphael Veiga é do Tatuapé, bairro da zona leste de São Paulo (SP), e apesar de ser palmeirense desde a infância sua primeira tentativa como jogador foi no arquirrival Corinthians, aos nove anos de idade.

Reprovado ao fazer o teste para ser goleiro no clube alvinegro, ele passou na segunda tentativa, para ser meio-campista. Foram dois anos na base corintiana até ser dispensado por ser considerado franzino demais.

Raphael é palmeirense desde pequeno, mas começou a trajetória no Corinthians — Foto: Arquivo pessoal

Raphael é palmeirense desde pequeno, mas começou a trajetória no Corinthians — Foto: Arquivo pessoal

Relações que mudaram a vida

A saída do Corinthians não encerrou o desejo do garoto de virar jogador. Ele tentou ir para Portuguesa e São Paulo, mas foi no Audax onde deu outro passo na sua formação e conviveu com técnicos importantes até hoje na sua vida: Fernando Diniz e Ricardo Catalá.

Diniz foi quem o convocou pela primeira vez para uma partida profissional, enquanto Catalá foi quem o recebeu no Audax, após a recomendação de um amigo que via o atual meia jogando futsal.

– Ele sempre foi talentoso. Eu era treinador do sub-15 e trouxemos ele para o clube, recrutamos pela relação que tínhamos no futsal. Apesar de muito técnico, era franzino, tinha dificuldade no aspecto físico, de força, porque teve a maturação mais tardia – recordou Catalá.

Raphael Veiga durante sua passagem pela base do Audax — Foto: Divulgação

Raphael Veiga durante sua passagem pela base do Audax — Foto: Divulgação

– Sempre disse ao Veiga que ele ia ser um meia, mas que íamos mudar a posição dele para estar mais próximo do gol. Usamos muito como ponta direita, mas não de drible, porque sempre foi um cara de último passe, bons domínios, finalização pesada. A gente sabia que em algum momento o nível de força ia igualar, ele não tinha pelos no rosto, na perna, era bem menino. Mas o que ele tinha ninguém ia tirar, a capacidade técnica – completou.

Sob o comando de Catalá, Veiga viu muitos vídeos de grandes equipes da Europa, como o Barcelona de Pep Guardiola. A equipe catalã era um exemplo no processo de formação do Audax (antigo Pão de Açúcar), e o treinador falava muito sobre modelo de jogo com seus atletas.

Ele insistia com Raphael Veiga sobre a necessidade de chegar à área. O técnico usava uma frase com frequência:

– Meia que não faz gol, não fica rico.

O risco de largar a carreira

Depois do Audax, Veiga foi dar sequência à formação no Coritiba. Ainda que tivesse tido bons momentos na equipe coxa-branca, ele tinha 20 anos e ainda não havia estreado como profissional.

No começo de 2016, a ideia era emprestar o jogador para outra equipe, e enquanto isto não acontecia, Veiga treinava em horários alternativos. Até que veio a conversa com o diretor Valdir Barbosa, que então debateu com Gilson Kleina, técnico da época, o que fazer com o armador.

– O Veiga não estava na relação para a pré-temporada em Foz do Iguaçu. Íamos sair no domingo, e sábado o Valdir disse que queria conversar comigo. Ele me contou que o Veiga pediu uma oportunidade – relatou Kleina.

Raphael Veiga em 2016, seu primeiro ano como profissional, no Coritiba — Foto: Divulgação/Coritiba

Raphael Veiga em 2016, seu primeiro ano como profissional, no Coritiba — Foto: Divulgação/Coritiba

– Naquele momento estava surgindo o Zé Rafael (outro que hoje está no Palmeiras ), era um meia, também. Mas levamos ele, incluímos na pré-temporada e chegando lá começou a ter um destaque absurdo – acrescentou.

Enfim, veio a estreia como profissional: 10 de março de 2016, quando entrou no segundo tempo da vitória do Coritiba por 3 a 0 sobre o Avaí, na Primeira Liga. Mas o primeiro jogo como titular viria só em julho, contra o Santa Cruz, pelo Brasileirão.

Chapéu em rival e sonho realizado

Três meses depois do primeiro jogo como titular em uma equipe profissional, Raphael Veiga acertava sua transferência para o Palmeiras . Alexandre Mattos, diretor do Verdão na época, buscou o jogador que estava na mira do São Paulo.

– Ele jogava demais, mas não estava pronto. É um menino que tiramos do rival, para fazer ele ser o camisa 10 do Palmeiras . Mas tinha que preparar, é difícil achar um camisa 10. Quando o empresário me viu ligando muito, deu a dica que o avô era muito palmeirense. Ali eu fui dentro e deu certo – contou Mattos, ano passado.

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O meia, assim, realizou o sonho de seu avô, que era palmeirense e pediu antes de morrer para que o neto jogasse no Verdão, se tivesse oportunidade.

O ano de 2017 não foi bom para o Palmeiras , que acabou sem taças. Raphael Veiga jogou 22 partidas, fez dois gols e duas assistências. No começo de 2018, acabou emprestado ao Athletico-PR.

"Vou voltar para o Palmeiras e vencer lá"

A temporada no Furacão era até então a melhor de Veiga como profissional: 48 jogos, nove gols e oito assistências. Comandado por Fernando Diniz e Tiago Nunes, participou da conquista da Copa Sul-Americana.

– Não era um momento fácil, ele vinha de empréstimo do Palmeiras , tinha identificação com o Coritiba, chegou a ser vaiado em alguns jogos, principalmente na Sul-Americana, me lembro contra o Peñarol, em que errou um pênalti. Mas mostrou resiliência mental e emocional, que o fez ser um dos expoentes do time – contou Tiago Nunes, seu técnico na conquista da Sul-Americana.

Raphael Veiga durante a passagem pelo Athletico-PR, em 2018 — Foto: Albari Rosa/Gazeta do Povo

Raphael Veiga durante a passagem pelo Athletico-PR, em 2018 — Foto: Albari Rosa/Gazeta do Povo

– O Raphael Veiga vinha sendo titular da equipe, jogando como ala, segundo volante e na mudança com a minha chegada, eu o coloquei como um jogador de referência de criação, para a bola passar mais vezes por ele. Sempre o enxerguei com muito potencial técnico, jogador com grande batida na bola, excelente visão de jogo. Ele se adaptou muito bem, crescemos juntos – complementou.

Durante a temporada no Athletico-PR, o amigo Ricardo Catalá foi acompanhar um pouco da rotina do Furacão e bateu um papo com seu ex-comandado. O futuro de Veiga ainda era incerto, mas na sua cabeça a decisão já estava tomada.

– Professor, vou voltar para o Palmeiras , vou jogar lá e vou vencer lá.

– O Tiago queria manter ele, saímos um dia para jantar e eu falei que ele era determinante para um clube que jogaria a Libertadores. O Palmeiras tinha o Lucas Lima, caras de nome e ele não teria nenhuma certeza. Mas ele mostrou uma convicção e maturidade que poucos têm – disse Catalá.

– Todos ao redor falavam para ele ficar, mas ele bancou. Tem um mérito muito grande do que viveu em casa, com a educação boa que os pais deram. É o desafio de vencer, da confiança mental.

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A briga com Diniz

Raphael Veiga é sempre elogioso quando relembra da convivência com Fernando Diniz, mas foi uma briga com o treinador que lhe fez criar o hábito de fazer acompanhamento psicológico.

Os dois bateram boca em um treino no Furacão, pois Veiga discordou por ser escalado fora de posição. O treinador o ligou para que se encontrassem após a atividade. O meia contou à ESPN que relutou, mas foi até o técnico, que o levou até uma psicóloga, sem que o jogador soubesse antes.

Raphael Veiga, do Palmeiras, fala da importância de fazer acompanhamento com psicólogo

– É um negócio importante, que ajuda. Eu gosto e continuo fazendo. (...) O povo acha que é só quem está com problema (que precisa de psicólogo), mas temos que encarar o negócio da mente como lavamos o rosto, a boca – explicou Veiga, à TV Palmeiras .

Quais os diferenciais de Veiga?

Além do óbvio talento, Raphael Veiga é visto como alguém muito resiliente. Para Ricardo Catalá, a criação de sua família fez dele um jogador de personalidade.

Aqueles que convivem com o camisa 23 veem nele um bom ouvinte. Seja de grandes ídolos, como o ex-meia Alex, com quem conviveu no Coritiba, mas também de amigos e colegas de clube. E os cuidados não param quando ele deixa a Academia de Futebol.

Raphael Veiga e Zé Rafael ao lado de Alex em conversa no treino do Palmeiras — Foto: Cesar Greco/Palmeiras

Raphael Veiga e Zé Rafael ao lado de Alex em conversa no treino do Palmeiras — Foto: Cesar Greco/Palmeiras

– Ele é muito disciplinado na parte que vocês não conseguem ver. Antes do jogo, depois do jogo. Não é de sair, alimentação regrada, final de ano a gente nas festas e ele se cuidando, tratando lesão. Muita disciplina, tem que aparecer resultado – afirmou Rubens, pai do jogador.

Desde que voltou ao Palmeiras , em 2019, Raphael Veiga conquistou: três Paulistas (2020, 2022 e 2023), uma Copa do Brasil (2020), uma Recopa Sul-Americana (2022), uma Supercopa do Brasil (2023), um Brasileiro (2022) e duas Libertadores (2020 e 2021). São nove taças.

Os 75 gols em 237 jogos fazem dele, também, o segundo maior artilheiro do clube no século, atrás apenas de Dudu (87).

Raphael Veiga, Weverton e Rony durante treino da seleção brasileira — Foto: Rafael Ribeiro/CBF

Raphael Veiga, Weverton e Rony durante treino da seleção brasileira — Foto: Rafael Ribeiro/CBF

Um dos jogadores mais decisivos sob o comando de Abel, fez sua estreia pela seleção brasileira em março, no amistoso contra Marrocos, treinado pelo interino Ramon Menezes.

Novamente chamado para representar a equipe nacional, o meia viajou para a Europa como o maior artilheiro (11 gols) e maior assistente (9) do Palmeiras na temporada.

O bom desempenho faz com que a cada janela o nome de Veiga seja citado como um possível alvo do mercado internacional, mas a presidente Leila Pereira está decidida: não abrirá mão daquele que antes era apenas um torcedor e pode terminar como um dos maiores meias da história do Verdão.

– O Palmeiras potencializou ainda mais o futebol dele. O Veiga tem tudo para ser o nosso 10 da seleção. Nacionalmente, é o nosso 10. O futebol brasileiro merece uma sequência na seleção, por tudo que tem conquistado. É um meia que faz gol, bate pênalti, constrói jogo, tem bola parada. É muito completo – definiu Kleina.

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