Torço, de coração, para que Tchê Tchê seja mais do que foi Bececê no início dos anos 60, no Palmeiras. Rima que seja solução. E será ótimo reforço.
E que Tchê Tchê seja no meio-campo mais do que Tinga e Makelelê – não será tão difícil como a rima. E mais feliz que Tiago Real, Pedro Carmona, Felipe Menezes e outros nomes jurídicos que tentaram dar aula no meio-campo palmeirense.
Um dos males deste século é a “juridicização'' do futebol brasileiro. Não, não é a Janaína Pascoal dando piti de perua-gira em palanque – ainda bem. É a escalação cada vez mais suntuosa e jactante de nossos craques e alguns bagres.
Saudade não só da bola, mas dos tempos de Gols do Fantástico. Da época em que Leo Batista chamava pelo nome artilheiros como Jorge Demolidor, Chico Explosão, Roberto Biônico. E não Thiago Medeiros, Rafael Fonseca, Gabriel Junqueira e outros nomes e sobrenomes que parecem disputar a artilharia dos jogos jurídicos. É o caso do Goteira, goleador do Primavera na Copa São Paulo. Contratado pelo Internacional, foi rebatizado como Leo Ávila. É o futebol cartorialmente correto.
Mas ainda resistem nomes para guardar. Atacante do Campinense poderia se chamar Miranda. Miranda da Rocha. Rocha Neto (nome de radialista). Mas ele vem a campo em nome do pai e do avô: Adalgiso.
E não é só um Adalgiso comum. É Adalgiso Pitbull. Como se fosse preciso distinguir de outro. No máximo de outra: Adalgisa Colombo, nossa quase miss Universo, em 1958. Mas mulher não precisa nem de sobrenome. Gisele. Ivete. Xuxa. Dilma. É outra classe. No Dia das Mães, nas finais estaduais, muitos nomes delas estavam escritos nas camisas dos filhos. Marias, Lívias, Helenas, Aparecidas. Nenhuma Shardeyllane, Dieneffer, Hashtag Pamela. Mulheres são finas.
Ou os pais são mais cuidadosos com o nome delas. Minha família não tem muita moral. Sou Mauro Alexandre… Filho de Joelmir José… Sobrinho de Jusler. Juracilde. Jurluci. Não é fácil. Mas é menos complicado do que ser Maicosuel. E poderia ter sido pior. A mãe dele queria mesmo que o Mago se chamasse…
MAICONRRONCIO.
O brasileiro é criativo. Para o mal ou para o pior. Mudar nomes de atletas não é prática nova.
A dupla Pelé e Garrincha começou como Gasolina e Gualicho. Para felicidade do Edson, virou Pelé mesmo. Imagine o tempo que levaria pra fazer todos os autógrafos que dá assinando como Gasolina.
E o tanto de comercial Dele que não daria certo. Café Gasolina? Teria sido o primeiro aditivo energético do mercado. Rei Gasolina? O Maradona é o novo Gasolina. Esse cara é o Gasolina dos corretores de imóvel.
Melhor mesmo Pelé. E melhor mesmo que Edson. Ou Edson Nascimento, se surgisse hoje na Vila vencedora de Vítor Bueno e Ronaldo Mendes. E de Gabigol.
Poderia ser Pelégol. Ou Gasolinagol. Ou Peléshow. Gasolinashow.
Pelé. É o Pelé dos nomes.
Melhor que o apelido de um bom atacante do São Bento. Filpo Núñez não gostava do nome dele, no final dos anos 1970: TITICA. Preferia Oliveira. Não pegou em Sorocaba.
Ditinho, lateral do Palmeiras, também tentaram mudar no clube, nos 80. Seria Oliveira. Quem sabe Toninho. Seguiu Ditinho. E depois ainda viria Ditinho Souza para a ponta.
Há quase 10 anos, Eurico Miranda conseguiu mudar o apelido de Micão, no Vasco. Virou o nome de batismo: Madson.
Eu era mais Micão.
Outra tentativa frustrada aconteceu no Corinthians, em 1972. Emprestado pelo Atlético Paranaense, o treinador alvinegro Yustrich quis mudar o nome do excelente meia Sicupira.
– É o meu sobrenome, professor. Não é apelido.
– Então qual é o seu primeiro nome, Sicupira?
– Barcímio.
(Longa pausa)
– Segue como Sicupira!
Bem-vindo, Tchê Tchê.
Volta, Goteira.
(P.S: Wesley Safadão tem bola e tem nome de craque de qualquer época. Música é outra história).
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