3/8/2016 17:41

Venda de Jesus reforça discussão sobre a saída de Neymar do Santos

Palmeiras ganhará mais dinheiro do City do que o Barça já pagou ao clube da Vila Belmiro, que ainda tem valores a receber e uma série de pendências a resolver

Neymar e Gabriel Jesus em treino da seleção olímpica (Foto: Ag. Estado)



Quando deixou o Santos a caminho do Barcelona, em maio de 2013, Neymar, aos 21 anos, já era uma estrela consolidada do futebol mundial, campeão da Libertadores e principal nome da Seleção. Gabriel Jesus se apresentará ao Manchester City em janeiro, com 19 anos e currículo mais modesto do que o do colega do time olímpico brasileiro. Mesmo assim, o Palmeiras ganhará mais do que o clube da Vila Belmiro já recebeu com a venda de sua revelação.



É preciso fazer uma série de ressalvas, afinal, a complexa transferência de Neymar ainda é alvo de questionamentos nas Justiças do Brasil, da Espanha e na Fifa.



A cadeia de negócios paralelos feitos pelo Barcelona com o Santos e com as empresas da família do atacante fazem os valores saltarem muitos milhões de euros, que foram parar em diferentes mãos, de acordo com os critérios de avaliação.



Além disso, os santistas ainda têm dinheiro a receber dos catalães, o que pode fazer a balança pender novamente ao ex-clube de Neymar contra os rivais palmeirenses. São cenários ainda nebulosos, dependentes de ações judiciais que envolvem muitos personagens.



Mas, primeiro, os números das transferências: o City pagará 32,75 milhões de euros (cerca de R$ 121,1 milhões no câmbio atual) por Jesus, enquanto o Barcelona pagou 17,1 milhões de euros (R$ 56,5 milhões, à época) por Neymar. O Palmeiras era dono de 30% dos direitos de Gabriel Jesus, enquanto o Santos detinha 55% dos direitos de Neymar.



Nessa conta, o Santos ficou com R$ 31,1 milhões em 2013 por seus 55% de Neymar, e o Palmeiras ficaria com R$ 35,5 milhões hoje pelos 30% de Jesus – o euro valorizou cerca de 31% no período. A diretoria alviverde, porém, endureceu na negociação e exigiu ganhar bem mais do que os 30%.



Para isso, três situações pesaram: a saúde financeira do Palmeiras é melhor do que a do Santos há três anos, o tempo de contrato era diferente (Jesus tinha mais três anos, Neymar tinha apenas mais um) e a cláusula que diminuía a multa do palmeirense de 40 milhões de euros para 24 milhões de euros para cinco clubes europeus não incluía o City – o time eleito pelo garoto, seduzido por Pep Guardiola.



Para conseguirem a liberação, os donos dos outros 70% dos direitos econômicos de Jesus abriram mão de parte do que receberiam. Assim, o Palmeiras ficou com R$ 76,6 milhões – cerca de R$ 41 milhões a mais do que teria direito originalmente.



O Santos, entretanto, assinou contratos paralelos e independentes, em tese, aos da transferência de Neymar em 2013 – os fundos de investimento DIS e Teisa, sócios nos direitos econômicos do jogador, acusam o clube de firmar esses acordos para esconder o valor real do negócio e aumentar o lucro com a venda. Ambos acionaram o Santos e/ou Neymar na Justiça.

Anúncio da contratação de Gabriel Jesus publicada no site do Manchester City, nesta quarta (Foto: reprodução)



Um desses acertos, pela preferência por três atletas (Gabriel, Victor Andrade e Giva), rendeu 7,9 milhões de euros (R$ 26,1 milhões). Somado isso ao que foi pago pela transferência, o Santos já recebeu R$ 57,2 milhões.



São os outros dois acordos que podem fazer com que os alvinegros ultrapassem o montante que Gabriel Jesus rendeu ao Palmeiras. A ênfase no "podem" é importante: eles dependem de liberações judiciais, do câmbio na data de pagamento, e até se serão pagos, de fato.



Por Neymar ter sido um dos três melhores do mundo na temporada passada, o Barcelona teria que pagar 2 milhões de euros (R$ 7,3 milhões, hoje) ao Santos. O dinheiro, porém, está bloqueado até que a Fifa julgue ação dos brasileiros contra os catalães e o próprio Neymar – não há data para decisão, que pode ser levada ao CAS (Corte Arbitral do Esporte).



O processo é referente às negociações secretas entre o clube espanhol e a família do jogador, que recebeu cerca de R$ 193 milhões por acordos que ignoraram o Santos. Esses contratos são alvos de denúncias de fraude, sonegação e falsidade ideológica em tribunais de Santos, São Paulo e Madri.



Além disso, ainda está pendente a realização de um amistoso entre Santos e Barcelona, no Brasil. O acordo prevê que os alvinegros fiquem com toda a receita (direitos de transmissão, patrocínios, bilheteria, etc.) desta partida, que precisa ser disputada enquanto Neymar tiver vínculo com os catalães – ele renovou contrato recentemente até 2021. Caso isso não aconteça, o Barcelona terá que indenizar o Santos em 4,5 milhões de euros (R$ 16,3 milhões).



Nessa hipótese, o Santos elevaria seus ganhos com a venda de Neymar para o Barcelona para cerca de R$ 81 milhões. Uma margem pequena sobre a venda de Gabriel Jesus que amplia a discussão se forem considerados os percentuais de direitos econômicos dos clubes e o status de cada atleta no momento da venda. Ou mesmo os honorários de advogados.

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