4/8/2016 08:10

Atacante abandonou Palmeiras, foi trabalhar em igreja, mas virou Hulk da Série C

Pedro era uma das promessas do Palmeiras



O atacante Pedro Hulk tem só 21 anos, mas já viu o quanto o mundo dá voltas. Em um dia, era companheiro de clube de Gabriel Jesus, que deixará o Palmeiras e se juntará ao Manchester City no início de 2017. No outro, estava trabalhando bem longe do futebol. É por isso que agora ele busca aproveitar ao máximo a segunda chance que recebeu.



Mais do que se firmar no elenco do Guarani em meio à disputa da Série C, a entrega de boas atuações ao longo da temporada com o clube de Campinas o permitiria conviver melhor com o passado e enterrar alguns fantasmas que apareceram pelo caminho.



"Tinha vezes que me doía muito. Ouvia alguns comentários de gente da minha cidade que dizia: 'Ele jogou no Palmeiras, olha onde está hoje'. Era como se eu fosse um sinônimo de fracasso, de alguém que não soube aproveitar as oportunidades", conta Pedro Hulk ao ESPN.com.br.



Para entender melhor tudo isso, é preciso voltar a quando essa história começou. Em 2010, o grande sonho do então adolescente era virar jogador profissional de futsal, mas os planos foram mudando aos poucos. Depois de participar de campeonatos amadores, ele foi chamado no ano seguinte para fazer um teste no Palmeiras. Passou e juntou-se em definitivo ao clube paulista em 2012. Mas não demorou muito para que as coisas começassem a sair dos trilhos.

Pedro Hulk está no Guarani desde o começo do ano



"Virei profissional lá, mas tive muitos problemas extracampo. Eu me iludi com a vida que tinha em São Paulo, com muitos falsos amigos. Passei um ano e quatro meses no Palmeiras. Joguei com Matheus Salles, João Pedro, Nathan, Gabriel Dias, João Denoni, Luiz Gustavo, Victor Luiz e também com o Gabriel Jesus", lembra.



A falta de paciência para esperar uma chance no time principal o levou a deixar o Palmeiras no meio de 2013. "Tinha contrato de três anos e com multa, mas preferi fazer a rescisão e sair para tentar jogar. Também tive problemas com lesões", diz.



O destino foi o Nacional, de São Paulo. Mas não foi uma trajetória que durou muito. "Tive problemas com a diretoria por causa de salários e voltei para a minha cidade no fim de 2014", afirma o atacante, natural de Campo Grande (MS). "Ia jogar o estadual do Mato Grosso do Sul de 2015, mas precisei operar apendicite e me decepcionei. Achei que não era para jogar mesmo e não queria mais."



APELIDO DE HULK



A passagem pelo Nacional foi breve, mas deu tempo de ele ganhar o apelido que acompanha o seu nome como jogador de futebol até hoje. O fato de ser canhoto e o chute forte despertaram comparações com o atacante que hoje joga no futebol chinês e que fez parte da seleção brasileira que disputou a Copa do Mundo de 2014.



"O pessoal dizia que eu era o Hulkinho, e o apelido pegou", conta. Pedro admite que gostou disso na hora. Mas nem todo mundo pensou da mesma maneira.



"Quando fui disputar o Estadual de 2015 em Mato Grosso do Sul, meu empresário na época não queria que eu usasse Hulk no meu nome. Mas eu não me importo, gosto do apelido. Sou muito fã dele, quero muito conhecê-lo um dia", confessa

Pedro trabalhou em escolinha de futebol



LARGOU O FUTEBOL



A saída do Nacional no início de 2015 era para ser o ponto final na trajetória no futebol. Pelo menos foi isso o que ele pensava na época, tanto que entendeu que deveria fazer uma faculdade. Mas como o curso de Educação Física só teria início no segundo semestre, teve de correr atrás de um trabalho. Foi assim que acabou sendo secretário da paróquia da cidade. "Fazia de tudo. Cuidava de documentos e do patrimônio da igreja, contava quantas cadeiras tinham e pensava onde colocá-las", recorda-se.



Depois que começou a estudar, passou a dar aulas de futsal para crianças. Voltar a jogar futebol profissionalmente não era uma ideia que o seduzia, mas ela começou a ganhar força através do doutor Alisson, seu dentista, que era amigo de Ivan Rocha, zagueiro que defendeu o São Paulo entre o final dos anos 1980 e o início dos 1990.

Pedro foi resgatado por Ivan no torneio amador de Bonito-MS



O retorno ficou um pouco mais perto no mês de outubro, quando Alisson o convenceu a participar de um campeonato de futebol que aconteceu na cidade de Bonito. Pedro Hulk admite que foi para lá sem expectativas, motivado apenas pelo fato de que a participação no torneio o renderia algum dinheiro. Lá, ele caiu no mesmo time de Ivan. Quando se machucou, ouviu o ex-zagueiro do São Paulo prometer que o ajudaria.



"Não levei muita fé, mas em novembro eu o procurei, e ele me arrumou um teste no Guarani. Comecei a chorar e abracei a minha mãe. Foi uma emoção gigante. Ela ficou toda feliz. Fui tentar a sorte de novo. Aí tive de trancar a faculdade", explica.



UMA NOVA CHANCE



Após um mês de testes, o atacante assinou contrato em janeiro deste ano. Passou o Campeonato Paulista todo só treinando, sem ser utilizado, e estava prestes a ser mandado embora na Série C. Mas o técnico Marcelo Chamusca chegou em abril e assegurou que lhe daria uma oportunidade.



Foi o que de fato aconteceu. Em 22 de maio, Pedro Hulk saiu do banco e atuou na reta final da goleada do Guarani por 4 a 0 sobre o Guaratinguetá pela Série C. "Foi uma euforia muito grande, um recomeço", reflete. Alguns dias antes disso, ele balançou as redes em um jogo treino que o time de Campinas fez contra o Palmeiras.

Pedro é atacante do Guarani na Série C



É verdade que o gol foi pouco para evitar a derrota por 6 a 2 da equipe que defende hoje, mas isso não o impediu de se sentir bastante emocionado pelo o que aconteceu. Afinal de contas, do outro lado estava o clube que ele decidiu abandonar em um passado não tão distante assim.



"Se tivesse cabeça estava lá, mas tudo na vida serve de aprendizado. Hoje dou muito mais valor do que antes porque conheço o outro lado do futebol. Não me iludo com mais nada, sou realista e não me empolgo com nada. Sei que tudo no futebol é passageiro e não podemos cair na ilusão. Agora preciso me esforçar para ir melhorando etapa por etapa na minha vida. Um dia de cada vez", reforça o atacante.



Além daquela vitória sobre o Guaratinguetá, Pedro Hulk entrou em campo outras três vezes pelo Guarani na Série C. Ao todo, foi relacionado para nove partidas. Está claro que se trata de um atleta que ainda busca se firmar no clube em meio à concorrência no elenco.



Mas a experiência que acumulou neste início de carreira serve de combustível para seguir em busca do sucesso. "Toda vez que fraquejo eu lembro do que passei e ganho mais forças. Hoje valorizo tudo o que tenho", diz.

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