Símbolo do novo Palmeiras, Mattos cumpre desafio e busca missão maior

Após completar sonho proposto por Paulo Nobre, diretor retoma "Projeto Mundial" e tenta recolocar o Verdão no topo da América; "Mittos" renovou por duas temporadas

Diretor foi contratado por Paulo Nobre e apresentado como reforço (Foto: Cesar Greco/Ag Palmeiras/Divulgação)



O fim de 2014 representou um alívio, mas também ligou um sinal de alerta no Palmeiras. Após se livrar do terceiro rebaixamento na história do Brasileirão, em empate com o Atlético-PR em casa, na última rodada, o presidente Paulo Nobre notou: o Verdão precisava de uma mudança drástica, urgente, no departamento de futebol. E o ponto de partida era Alexandre Mattos, que estava a aproximadamente 600 quilômetros de São Paulo, na cidade de Belo Horizonte.



Mattos comandou o futebol do Cruzeiro nas duas temporadas em que o time mineiro ganhou o Campeonato Brasileiro com sobras, em 2013 e 2014. Montou o elenco orquestrado pelo técnico Marcelo Oliveira e conquistou um status maior do que os dirigentes costumam ter. Ganhou o apelido de "Mittos" pelo trabalho desenvolvido nos bastidores.



Antes mesmo de assinar com o Palmeiras, Mattos começou a trabalhar para remontar o elenco. Com credibilidade e abertura em meio a empresários e pessoas influentes do futebol brasileiro, atraiu atletas com salários abaixo do que ganhavam os jogadores do time quase rebaixado em 2014. Buscou empréstimos, agiu com rapidez. Mudou a imagem do clube no mercado.



– Agora tudo é definido muito rápido. Nem parece o Palmeiras! Antigamente as coisas se arrastavam, com um monte de gente que não mandava nada. Agora vem o Alexandre, e tudo é definido rapidamente – definiu um empresário à época.



Com que dinheiro? Com o do próprio clube. Paulo Nobre passou seu primeiro mandato lamentando a falta de caixa, já que todas as receitas haviam sido antecipadas pelos seus antecessores. Ele mesmo precisou pegar dinheiro emprestado no seu próprio nome para pagar dívidas (foram mais de R$ 100 milhões, a serem devolvidos a ele em dez anos).



Desde o início, Mattos bateu na tecla da solidez financeira. Chegou anunciando o afastamento de seis atletas e deixando claro seu objetivo principal: fazer com que o Palmeiras "bebesse água limpa" em um momento de grande crise financeira para os outros clubes do país.



Nos bastidores, após ser apresentado, ouviu do próprio Nobre uma pergunta complicada de se responder. Um desafio imposto não só pelo presidente do Palmeiras, mas por um torcedor fervoroso do clube, personificado na principal figura política alviverde.



– Você consegue fazer o Palmeiras campeão brasileiro em dois anos?



Mattos topou o desafio. Eram 22 anos de tabu pela frente. Alertou Nobre que precisaria de confiança, porque as críticas viriam. O caminho teria obstáculos e torcedores desconfiados. Formar um time campeão, lembrou ele, passa também por dar oportunidades de um lado e deixar gente descontente de outro. O amadorismo de anos anteriores precisava ser encerrado.



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Em sua sala na Academia de Futebol, diretor tem camisa com o apelido "Mittos" (Foto: Reprodução/Twitter)



O presidente palmeirense deu carta branca para Mattos comandar o departamento de futebol ao lado de Cícero Souza, gerente também contratado para reformular o trabalho. No primeiro ano de, saíram muitos atletas, 25 foram contratados. Alguns deram muito certo, como o experiente lateral Zé Roberto. Outros foram um fiasco, como o meia Ryder Matos.



Como o próprio diretor previa, os questionamentos vieram. Membros do Conselho de Orientação Fiscal, sempre atentos às questões do futebol, pressionaram Nobre em momentos de instabilidade da equipe. A campanha começou com o vice do Paulistão – derrota para o Santos, nos pênaltis. O rival da Baixada seria justamente a vítima da redenção no fim do ano.



Entre altos e baixos no Brasileiro, o Palmeiras firmou a força de sua arena, que vivia o primeiro "ano cheio" de atividade – após ser inaugurada no fim de 2014. Na Copa do Brasil, ganhou todos os jogos decisivos no estádio. O torneio eliminatório era apenas o início da retomada do maior campeão nacional.



O título brasileiro deste ano foi a consagração do diretor, de estilo midiático e alvo da admiração dos torcedores. Na véspera do jogo do título, com 2 mil palmeirenses em frente à Academia de Futebol para estimular a equipe, passou de carro em meio à massa de alviverdes, cumprimentando com acenos.



Após a vitória por 1 a 0 sobre a Chapecoense, no caminhão em que a delegação comemorava o título na Avenida Paulista, pegou o microfone diversas vezes. Brincou, gritou, provocou rivais... E deixou no ar a possibilidade de continuar o trabalho na próxima temporada.



Agora de contrato renovado por duas temporadas, Mattos tem uma missão ainda maior pela frente. Com a queda na primeira fase da Taça Libertadores de 2016, ele ganha novo desafio do próximo presidente, Maurício Galiotte, e da torcida: recolocar o Palmeiras no topo da América.



O "Projeto Mundial" já começou...



De camiseta verde, atrás dos jogadores, Mattos comemora a conquista do Brasileirão (Foto: Marcos Ribolli)