28/12/2016 15:51

Palmeiras: o ano em que fomos inalcançáveis

Escravos de uma obsessão em um Allianz Parque lotado, decretamos, mutuamente, alforria da América em 2016. Fechamos um acordo para, 10 dias depois, começarmos mais uma parte do ano sob gritos de "eliminado", nas vozes de quem insiste em ter a audácia de subestimar a força de um gigante. Coitados daqueles que acham que a gente desiste. Mas, como toda epopeia Palmeirense, bastou um único minuto para o nosso herói fazer dois gols e a mesma quantidade de tempo para se tornar um vilão. A gente não tá acostumado com essa coisa de sorte. Colocar Rafael Marques e Barrios na linha do pênalti foi abraçar o que chamamos de zica*.



*zica, no vocabulário palmeirense, pode significar: gritar gol antes da hora; apostar em um jogador que geralmente não performa bem e acabou de gastar todo seu futebol nos últimos minutos; mudar de lugar na arquibancada; usar preto em dia de jogo; vestir outra camisa além daquela que só vê vitórias no estádio e entre outras manias que você pode acrescentar nos comentários.



Doeu do jeito que estamos acostumados. Poderia ser no 2x0, mas a gente precisava sentir mais. Precisava faltar o ar e sobrar palpitação. Tinha que doer. Ao chegar no ápice da alegria, para entrar em total declínio da empolgação, os polos palmeirenses nunca estiveram tão bem representados em poucos minutos. O roteiro havia sido desenhado para percebemos que o técnico que invadiu o campo para comemorar era um de nós. Que o futebol que faltou no coletivo, sobrou na coragem. E que não era o fim. Era o apito inicial de uma história sendo reescrita.



Vimos um craque nascer, vovô-garoto atingir o auge de sua maturidade e categoria aos 42 anos, desconhecidos se tornarem estrelas e uma noite de Copa do Brasil, protagonizada por um argentino, praticamente perder a importância. Assistimos a um ídolo se retirar para que a estrela de um outro, espero que no futuro, brilhar. Nosso meio campo abriu caminhos, nossa defesa teve pés, cabeças e muito peito. Nomeamos uma jogada, fizemos bonito nos campos adversários e sobrou camisa. Transbordou Cuca. No fim de tudo, fecharam as ruas. Mas abriram ainda mais os nossos corações.



Todos nós tivemos oportunidades de viver por tabelas as lendas contadas durante os almoços de domingo, reuniões em bares e esquinas do bairro verde sobre bons tempos que pareciam não voltar. Agora as novas histórias saem de nós, para as próximas gerações, seja a partir da nossa, merecida, apologia ao campeonato que o Zé Roberto ganhou na linha do gol, o renascimento de um arqueiro que precisava de apenas uma chance para se provar do tamanho da nossa história ou na explosão de um gol decisivo que saiu dos pés de uma estrela para a cabeça de um capitão gigante.



Holofotes verdes e o nosso futebol, na imprensa, foi para além dos 90 minutos. Não importava o que dissessem, desde que continuassem. A cidade ficou verde, o aeroporto lotado e as paredes pintadas. Quando chegou a hora, ai ai, o cheiro enfraqueceu. Porque os "P" que colocaram nos semáforos da cidade só nos indicavam uma coisa: sigamos em frente.

Pelas cervejas que brindamos, os abraços trocados, olhares cruzados (porém desconfiados) de quem tinha a certeza de um futuro bom e, claro, pelas tantas vezes em que nos encontramos neste blog: aqui está o meu "até o ano que vem" para vocês. E para a América.



Sabe, poucos minutos antes de acabar Palmeiras x Chapecoense eu me desliguei do estádio e revivi mentalmente o ano, ainda olhando para o campo. Sem ver o apito final que culminava os 22 anos, só voltei quando fui tomada em um abraço, com o libertador grito de "acabou".



Mas só começou.



Que passem os anos, os campeonatos e os jogadores. O amor é o nosso grito de resistência.

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4002 visitas - Fonte: ESPN FC

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