Nesta quarta-feira, o Palmeiras visita o Bolívar, às 21h30 (de Brasília), no estádio Hernando Siles, em La Paz, pela 3ª rodada do grupo B da Conmebol Libertadores, com transmissão ao vivo do FOX Sports e acompanhamento completo no ESPN.com.br.
Na partida, o Verdão entra como grande favorito, ainda mais pelo fato do rival estar fazendo sua estreia na temporada 2020/21. No entanto, o clube brasileiro terá que lutar contra o tradicional "adversário invisível" dos jogos no altiplano boliviano: a altitude de 3.640 metros de La Paz.
O ar rarefeito costuma causar muitos problemas aos atletas brasileiros, que sofrem com a falta de exigênio e a velocidade da bola, principalmente. No entanto, os efeitos de altitude são sentidos também no cérebro, podendo afetar a visão, o humor e até mesmo a memória dos atletas que vivem em menores altitudes.
É o que explica Rodrigo Aquino, professor do Centro de Educação Física e Desportos da Ufes (Universidade Federal do Espírito Santo) e coordenador do Gecif (Grupo de Estudos e Pesquisa em Ciência no Futebol).
Em entrevista à ESPN, o pesquisador em ciência do esporte explicou detalhadamente como os 3,6 mil metros de La Paz podem afetar o elenco do Palmeiras no jogo desta quarta de diversas formas.
"Nesse contexto de jogo, os brasileiros sempre enfrentam um paradigma muito debatido na ciência do esporte e na prática profissional, denominado 'live-low, training/play-high' - ou seja, morar em baixa altitude e jogar em alta altitude. Estudos mostram que os principais efeitos causados nos jogadores estão relacionados aos componentes físicos, fisiológicos e cognitivos", afirma.
"A alta altitude tem um impacto negativo no desempenho aeróbio dos jogadores, no metabolismo predominante durante um jogo de futebol e na capacidade de recuperação entre esforços de alta velocidade, que são todas atividades determinantes durante um jogo. Contudo, devido à menor resistência do ar, os jogadores podem atingir maiores velocidades máximas e a bola pode perder menos velocidade ao longo do jogo, parecendo estar mais 'rápida'", ressalta.
"Além disso, alterações psicológicas no humor, personalidade, comportamento e funcionamento cognitivo associados à alta altitude são reconhecidas há muitos anos. Mudanças psicológicas e comportamentais resultantes dos efeitos da hipóxia geralmente incluem aumento da euforia, irritabilidade, hostilidade e comprometimento das funções neuropsicológicas, como visão e memória", aponta.
Aquino salienta, porém, que cada jogador costuma responder de uma forma aos efeitos da altitude, e as consequência do jogo na altura não são sentidas da mesma forma por todos.
O professor também aponta os métodos mais eficientes de mitigar os transtornos que podem ser causados pelo ar rarefeito.
"É importante notar que parece haver grandes diferenças individuais na resposta às permanências em altitude. Geralmente as pesquisas recomendam três estratégias para minimizar estes efeitos negativos", diz.
"A primeira é viajar para um local de grande altitude com duas a três semanas de antecedência da partida, mas isso não é viável para clubes de futebol devido ao calendário competitivo. A segunda estratégia é viajar o mais perto possível da data e hora da partida e retornar logo após o jogo, conhecida como 'fly-in, fly-out'. Por fim, a terceira estratégia, ainda pouco explorada no esporte, é recorrer a utilização de tendas simuladoras de alta altitude", explica.
No caso do Palmeiras, a delegação chegou a La Paz ainda na última seguda-feira, e passou os últimos dois dias se preparando na altitude para o jogo desta quarta.
De acordo com o pesquisador, a estratégia irá ajudar bastante o desempenho mental alviverde. Os efeitos físicos, porém, ainda serão sentidos.
"O Palmeiras apostou em um período de dois dias para aclimatação. Um estudo publicado em uma revista especializada em medicina e biologia em alta altitude mostra que um dia após a aclimatação a altas altitudes, as pessoas reduzem entre 25 e 50% o desempenho cognitivo e físico durante o exercício, respectivamente. Porém, após dois dias, o desempenho cognitivo é pouco afetado, enquanto o desempenho físico ainda é comprometido pelos efeitos negativos da altitude", destaca.
"Portanto, os jogadores do Palmeiras devem ser inteligentes para 'dosar' os deslocamentos em campo, gerindo bem os espaços e apostar na organização tática e estratégica para levar vantagem na partida", finaliza.
O Verdão é o líder do grupo B, com 2 vitórias em 2 jogos e 6 pontos conquistados.
O Bolívar está em 3º, com 3 pontos, logo atrás do Guaraní, que também tem 3 pontos, mas marcou mais gols.