Gabriel Menino está prestes a dar mais um ? na lista de realizações de um ano inesquecível. Depois de estrear profissionalmente, se firmar como titular do Palmeiras e ser convocado pela primeira vez para a seleção brasileira, o jovem de 19 anos vai, em breve, transformar em realidade o sonho de conhecer um ídolo.
Quando se apresentar a Tite para a estreia nas Eliminatórias, ele vai encontrar pela primeira vez com Neymar. É verdade que ele já chegou "perto" do craque do PSG uma vez, mas o contexto era bem diferente.
A reportagem exibida no EPTV1 desta sexta-feira mostra os primeiros passos no futebol do menino (sem trocadilho) de Morungaba, cidade de aproximadamente 13 mil habitantes no interior de São Paulo.
De dez para 11 anos, Gabriel ainda dava os primeiros passos no futebol quando Neymar já era sensação no Santos, que jogaria em Bragança Paulista. Ao lado dos pais e de mais dois amigos, ele viajou 45 quilômetros de kombi, em uma noite chuvosa, para "tietar" o atacante.
"Ele queria ver o Neymar. Então pegamos nossa kombi e fomos para Bragança. Ele ficou grudado no alambrando gritando pelo Neymar", conta o pai Paulo Antônio Menino.
"Eu era fã do Neymar. Aí ele foi trocar a chuteira que estava apertada bem na minha frente. Eu gritava: "Neymar, Neymar, Neymar", pedindo a chuteira. Ele ainda olhou para mim e sorriu. Eu era criança e ganhei o dia ali. Agora vou estar pertinho dele e realizar mais esse sonho, de conhecer meu ídolo", lembra Gabriel.
Nos passos do primeiro professor
Gabriel é o segundo filho ilustre de Morungaba a chegar à Seleção. O primeiro foi o ex-meia Renato, que leva o nome da cidade quase como sobrenome. Campeão brasileiro pelo Guarani em 1978 e também ídolo do São Paulo, além de passagens por Botafogo e Atlético-MG, Renato Morungaba vestiu a amarelinha 25 vezes, entre 1979 e 1987.
Agora, 33 anos depois, Renato vê a história se repetir com alguém que contribuiu lá no início da trajetória. Foi na escolinha do ex-jogador em Itatiba, a 16 quilômetros de Morungaba, que Gabriel deu, aos oito anos, os primeiros toques na bola graças ao esforço da mãe Silvana e da ajuda de Renato, com algumas caronas depois dos treinos.
"Eu trabalhava a semana inteira, das 7h às 17h, não tinha como levar. O pai também trabalhava. Então eu levava aos sábados. O treino começava às 9h, mas, para não perder o horário, a gente pegava o ônibus das 6h. Aí a gente fica no ponto em frente à escolinha esperando e levava algo para tomar café. O rapaz do restaurante chegava um pouco mais cedo, umas 8h, o Gabriel já entreva, pegava a bola e ia jogar. Depois do treino também tínhamos de esperar um tempo para o ônibus passar. Ele chegou um a ir um tempo de quarta-feira com o Renato ou com a mulher dele, mas aí só voltava quando eles fechavam a escolinha", conta a mãe Silvana Aparecida Teixeira.
Orgulhoso de ver o sucesso do pupilo, Renato garante que Gabriel já era diferente desde cedo:
"Ele era muito acima para a idade dele, então treinava com os mais velhos, de 11, 12 anos. Ele tinha muita força física, usava bem o corpo e finalizava forte. Já era diferenciado. Tem tudo para ser um grande jogador no futebol brasileiro. Acaba sendo uma honra, mais um jogador que vai levar o nome de Morungaba. Teve o Renato, agora tem o Gabriel".
Os dois voltariam a se encontrar nas categorias de base do Guarani, onde Renato chegou a treinar Gabriel e também dava caronas para o conterrâneo. Oportunidade e tempo para ouvir conselhos de quem brilhou nos gramados?
"O Renato fala pouco, o Gabriel também. Então, quando ele chegava, eu perguntava o que eles tinham conversado, e muitas vezes o Gabriel respondia: 'Nada, mãe, eu dormi'", revela Silvana.
Fome de bola
Entre a escolinha em Itatiba e passagem pela base do Guarani, Gabriel teve a importante participação de Júlio César de Moraes, mais conhecido como Júlio "do Vadu". Chegou uma hora em que pesou o fato de os treinos acontecerem em Itatiba. Neste momento, Renato indicou a escolinha de Júlio, que tinha acabado de ser inaugurada em Morungaba.
"Podia estar frio, sol chuva, vento... ele não faltava. E já tinha uma liderança natural também. Você passava o exercício, ele era o primeiro da fila. Às vezes até exagerava na força do chute nos treinos de finalização. Sempre foi muito dedicado".
Júlio conta que Gabriel era o primeiro a entrar e o último a sair do campo. Com exceção de uma vez:
"Era verão, janeiro, se eu não me engano. Começou a escurecer e a chover pesado. Mas sem trovão ou relâmpago. Falei que era melhor parar, mas ele falou que queria continuar. Logo depois deu um relâmpago que ele pegou e saiu correndo de campo na hora. Hoje a gente dá risada, mas no dia foi assustador também".
"A escolinha do Júlio virou o quintal dele. Ele chegava da escola, tomava banho, pegava a bicicleta dele e ficava lá. O problema era buscar à noite. Se não fosse buscar para jantar, ele não voltava. E às vezes ele jantava e escapava de volta para jogar lá de novo", diz o pai.
Júlio também foi o responsável por levar Gabriel para o Guarani. Como tinha uma franquia do "Projeto Bugrinho", ele selecionou cinco garotos e indicou para uma semana de testes. Todos passaram no primeiro momento, mas aos poucos foram saindo até restar apenas o Gabriel Menino.
Garoto de família boa, esperamos que não se perca nas festas como muitos já fizeram