FOTO: César Greco
Nada atormenta mais um grande clube que o jejum de títulos. Forjada pelas conquistas, a grandeza gera como efeito colateral justamente o que a pavimentou: a necessidade de novas glórias. Por isso, palmeirenses e gremistas terminam o ano aliviados pelo exorcismo da fila. O Palmeiras voltou a conquistar o Brasileirão depois de 22 anos. O título da Copa do Brasil encerrou espera de 15 anos dos torcedores gaúchos por uma taça nacional. O fim da seca extermina a angústia e os pesos que ela carrega a reboque, como a sensação de que tudo dá errado, que o acaso age como carrasco e coisas do gênero. Entrarão em 2017 com novas aspirações e muito mais leves.
Curiosamente, os dois clubes voltaram ao topo sob o comando de técnicos com os quais têm identidade. Isso deu mais capricho ainda ao roteiro. Cuca foi jogador do Palmeiras em anos do maior dos jejuns, o geral. Fazia a mímica da faixa a cada gol, prevendo o término do sofrimento. Foi sentir o gosto apenas agora, no banco de reservas. Com a bola nos pés, o talentoso Renato Gaúcho levou o Grêmio ao seu auge, o título mundial em 83. Mais de três décadas depois, foi o timoneiro na conquista da Copa do Brasil. Circunstâncias que dão toque saboroso a histórias vencedoras, como costumamos ver com frequência no esporte.
Aqui termina a conciliação. Cuca e Renato são ex-jogadores que exercem o ofício de técnico há bastante tempo, mas com perfis bastante diferentes. O campeão brasileiro é um estrategista, gosta de tática e declarou ao sair do Palmeiras por questões pessoais que pretende se aperfeiçoar. O gaúcho tem um estilo boleirão, acredita mais na intuição e acha que “quem se garante não precisa estudar tanto assim”. Foi o que disse em entrevista após o título. Não existe fórmula única para o sucesso, mas não é difícil imaginar que essa mentalidade tenha mais chances de prosperar em uma competição como a Copa do Brasil, com jogos eliminatórios, que no longo Brasileirão por pontos corridos, que exige do treinador capacidade maior de usar o elenco, ter alternativas de jogo, ser superior em boa parte da competição. E ainda assim, não custa lembrar, não são poucos os analistas que veem no Grêmio de Renato as marcas de Roger, que o antecedeu e tinha cuidados mais “modernos”. Ou seja, tirou proveito dos estudos do antecessor para se garantir.
De certa forma, os dois campeões nacionais de 2016 expõem a cisão de momento no futebol brasileiro. Desde o tal ano sabático de Tite temos visto uma preocupação de alguns com atualização, absorção do que vem acontecendo na Europa. Rogério Ceni, que estreará como técnico no ano que vem, exemplifica isso. Na sua primeira coletiva, falou de conceitos de jogo, do que vem aprendendo, etc.. Outros insistem na metodologia que os alçou, mesmo que ela possa soar antiquada e, talvez, ressentida.
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