4/6/2020 12:44
Luxemburgo questiona o que é racismo no futebol: "Atos são provocados, achava que deveriam ser deixados de lado"
Assim como outras personalidades do esporte, Vanderlei Luxemburgo lamentou a morte de George Floyd em ação policial de Minneapolis, nos Estados Unidos, chamando o ato de “brutal”, “covarde” e “racista”. Por outro lado, o treinador do Palmeiras questionou atos taxados como racistas no futebol, entendendo que, embora complexos, deveriam ser deixados de lado.
A declaração foi dada em eentrevista publicada pelo jornal “O Estado de S.Paulo” nesta quinta-feira (4). A resposta de Luxemburgo surgiu após o repórter questionar a importância de atletas e entidades se posicionarem contra o racismo.
“Essa questão aflorou muito nos Estados Unidos. É uma discussão bem doida para se chegar ao consenso. O que houve lá foi brutal, foi uma covardia. Aqui no Brasil existem algumas situações. Mas eu vejo em algumas situações que se tratam como racismo o que é totalmente desnecessário se tratar como racismo", disse o treinador.
"Isso o que aconteceu é racismo. Existiu uma ira, uma raiva. Da mesma forma como morreu, morre muito branco também de formas agressivas, de sacrificar. É complicado, muito complexo”, continuou.
“Eu discuto muito no futebol, que é a minha área. Acho que os atos de racismo no futebol são provocados e eu achava que deveriam ser deixados de lado. Dão muito prestígio, muito moral à maneira como se trata o racismo no futebol. Nada mais é do que uma bobagem, ao meu ver. Aquilo, sim, que o cara fez é racismo puro. Mas no futebol o cara brincar com o outro, gozar o outro para desestabilizar o camarada, dizer que aquilo ali é ato de racismo, não sei. Mas é uma discussão longa”.
A morte de Floyd gerou uma onda de protestos antirracistas nos Estados Unidos, migrando em seguida para outros países (como França e até Brasil), além de inspirar personalidades e esportivas a ingressarem na campanha.
Um dos primeiros a mostrar indignação com a morte brutal de Floyd (sufocado com um dos joelhos de um policial enquanto estava deitado na rua, já totalmente imbolizado e sem oferecer resistência à prisão) foi LeBron James.
O astro da NBA republicou uma foto em que usava uma camiseta com a frase:
"Eu não consigo respirar". O protesto era antigo e relembrava a morte de outro negro pela polícia americana, Eric Garner, em 2014.
A jovem estrela francesa Kylian Mbappé, do Paris Saint-Germain, também protestou, mostrando indignação e chamando à atenção para a crescente onda de intolerância no mundo. O mesmo fez Paul Pogba.
Na Alemanha, primeiro país com uma liga tradicional a retomar a prática do futebol, jogadores de vários clubes protestaram em campo contra a violência e o racismo. Alguns com gestos e outros com mensagens exibidas em seus uniformes.
Entre os brasileiros, Richarlison, do Everton, postou uma montagem com os rostos de Floyd e do garoto João Pedro, de 14 anos, morto com um tiro de fuzil no Rio de Janeiro, durante ação policial. O atacante Vinicius Jr., ex-Flamengo e hoje do Real Madrid, publicou uma imagem com personalidades negras e a mensagem “VidasNegrasImportam”.
No Palmeiras, Dudu, Lucas Esteves, Gabriel Veron e Wesley foram alguns dos jogadores que se posicionaram. Eles publicaram mensagens com a hashtag: #VidasNegrasImportam. O próprio Palmeiras, em seu perfil, mostrou-se indignado.
“Já tivemos que mudar de nome para continuarmos existindo. Somos contra o racismo e qualquer prática preconceituosa que atente contra o direito à vida e à liberdade. Nascemos das diferenças e elas nos fazem mais fortes. #BlackLivesMatter #VidasNegrasImportam #PalmeirasDeTodos”, postou o clube, na última segunda-feira.
Voltando a entrevista de Vanderlei Luxemburgo ao “Estadão”, o treinador falou também sobre a paralisação do futebol por causa da pandemia do novo coronavírus e seus efeitos. Além de se queixar dos diferentes critérios para a liberação dos treinos pelos Estados do Brasil, o que, para ele, significará vantagem lá na frente.
Treinos na quarentena
“Eles estão treinando forte. Liberamos todos para contratarem personal trainer, mas orientados pelo nosso pessoal da preparação física. O futebol não pode estar fora da pandemia. A pandemia faz parte de uma totalidade. Então, não pode um Estado liberar o futebol e o outro, não. Temos competições que exigem diversas situações diferentes e a condição física é primordial. Tem de tratar a pandemia de uma maneira geral para todos, mas aqui no Brasil cada Estado toma a uma decisão de acordo com os seus interesses, e que é diferente de outros Estados… Tem clubes treinando já há bastante tempo e nós estamos respeitando os órgãos de saúde. Eu acho que foi equivocada a liberação para alguns clubes do País treinarem e outros não. Acho que isso não é legal.”
Futebol e pressão política
“Não quero entrar na parte política. O futebol tem de voltar dentro daquilo que for feito para a sociedade. Liberou para a sociedade, libera o futebol. Não pode ser diferente. Não deixamos de ser cidadãos por sermos profissionais de futebol. Não podemos ser tratados de forma diferente de todos. O grande erro é este.”
Quando voltar?
“Você treinar em uma varanda de dez metros e em um campo é muito diferente. Acho que vai fazer uma diferença, sim. Vamos ter de antecipar etapas. Acima de tudo, estamos lidando com vidas, com seres humanos. Pessoas podem morrer. Não é uma coisa normal. A decisão tem de ser tomada em conjunto e a prevenção, feita em conjunto também.”
Luxemburgo perdeu uma boa oportunidade de ficar calado...de uns tempos pra cá ele tem falado algumas bobagem!