Depois do manifesto puxado por Neymar com jogadores do futebol brasileiro contra o gramado sintético, Abel Ferreira foi questionado sobre o tema na coletiva depois da vitória do Palmeiras sobre o Botafogo-SP, por 3 a 1, pelo Campeonato Paulista. E não ficou em cima do muro. Técnico do Palmeiras, que tem o campo artificial no Brasileirão, assim como Atlético-MG e Botafogo, o português disparou sobre o tema. "Já que todos deram opinião, eu também posso dar, não é? (risos). Aliás, ela está no meu livro. O que eu posso dizer é, a pergunta que vocês têm que fazer é: por que o Atlético-MG, que fez uma arena nova e colocou um gramado novo, vai trocar por sintético? Não está em lado nenhum escrito cientificamente que um gramado sintético provoca mais lesões do que um gramado natural ruim, que é o que acontece aqui. Se você conseguir me dizer quatro gramados tops aqui no Brasil, vou até além, três (gramados). Entendo o Neymar, nós já estivemos lá no Mundial e vocês também estiveram lá, quem aqui não esteve no Mundial comigo quando lá fomos? Não viram a qualidade da grama natural? Melhor do que o carpete que a minha mulher tem em casa, é melhor do que o carpete que tenho em casa.", comentou.
"Parabéns aos jogadores, adoro quando se unem por uma causa, estão falando dos gramados, tudo certo. Falem dos salários em atraso, falem do fair play financeiro, falem da profissionalização dos árbitros, falem do gramado, está certo, não tem problema nenhum. Juntem-se e falem. Eu estou no Brasil há cinco anos, já posso ser brasileiro, pedir o passaporte, pelo menos me disseram. Aqui todos falam, mas fazer, bola (zero). Quando é preciso fazer as coisas, tomar decisões e fazer alterações naquilo que tem que fazer ao futebol, zero. Em cinco anos que estou aqui, que mudanças fizeram? Zero. Vocês (imprensa) são uma parte fundamental nisso, juntamente com os jogadores que se uniram", continuou.
"Jogadores como Neymar, (Marcos) Rocha, (Raphael) Veiga, como o Thiago Silva... sim, senhor, os jogadores têm que se unir, o sindicato do jogador tem que falar, não se omitir, de tudo. Se tem salários em atraso, tem que denunciar, é assim que tem que ser. Adoro quando as pessoas se unem em volta de uma causa. Sabe qual a causa maior? O futebol brasileiro. Eu amo isso, só que nós não saímos daqui. É um tema bom, vai render cliques, todos vão falar, o treinador do Palmeiras também falou, amanhã vão fazer manchetes. Mas no fim, fazer coisas, passar para a ação, zero. É o que acontece, seguimos, assobiamos para o lado, e amanhã nada a ver do tema", finalizou Abel Ferreira.
O que foi o movimento contra o gramado sintético? Na terça-feira (18), vários atletas, entre eles alguns de grande destaque, foram às redes sociais para protestar contra o tipo de solo, que é cada vez mais utilizado no país. Jogadores como Neymar e Gil, do Santos, Lucas Moura e Calleri, do São Paulo, Alan Patrick e Bruno Henrique, do Internacional, Gabigol e Cássio, do Cruzeiro, além de Thiago Silva, do Fluminense e Philippe Coutinho, do Vasco, foram alguns dos primeiros a postarem uma mensagem conjunta.
"Preocupante ver o rumo que o futebol brasileiro está tomando. É um absurdo a gente ter que discutir gramado sintético em nossos campos. Objetivamente, com tamanho e representatividade que tem o nosso futebol, isso não deveria nem ser uma opção. A solução para um gramado ruim é fazer um gramado bom, simples assim", iniciou o texto. "Nas ligas mais respeitadas do mundo os jogadores são ouvidos e investimentos são feitos para assegurar a qualidade do gramado nos estádios. Trata-se de oferecer qualidade para quem joga e assiste. Se o Brasil deseja definitivamente estar inserido como protagonista no mercado do futebol mundial, a primeira medida deveria ser exigir qualidade do piso que os atletas jogam e treinam. FUTEBOL PROFISSIONAL NÃO SE JOGA EM GRAMADO SINTÉTICO!", encerrou o texto, que foi seguido com a tag "#NãoaoGramadoSintético".
Por outro lado, times que têm o piso se manifestaram sobre o assunto, inclusive o Palmeiras. Veja abaixo a nota do Alviverde.
Diante da publicação realizada conjuntamente por alguns jogadores contra a utilização de gramados artificiais no futebol brasileiro, a Sociedade Esportiva Palmeiras esclarece que: - O campo sintético do Allianz Parque é certificado pela Fifa, que realiza inspeções anuais desde a sua implementação, em 2020, a fim de aferir que o piso siga os mesmos parâmetros de um campo de grama natural em perfeito estado; - Não há qualquer comprovação científica de que o risco de lesão em campos artificiais seja maior do que em campos naturais. Pelo contrário: recente estudo publicado pela revista “The Lancet Discovery Science” aponta que a incidência de contusões em jogos de futebol disputados em gramados artificiais é inferior à de lesões em campos naturais; - Diferentes levantamentos realizados por veículos de imprensa mostram que o Palmeiras, ao longo dos últimos cinco anos, é o clube da Série A do Campeonato Brasileiro com menor número de lesões; - O clube respeita a opinião dos atletas que manifestaram preferência por campos de grama natural e considera urgente o debate sobre a qualidade dos gramados do futebol brasileiro; este problema, contudo, não será solucionado com críticas rasas e sem base científica. Próximos jogos do Palmeiras: Mirassol (F): 23/02, 18h30 (de Brasília) - Campeonato Paulista