Gilson Kleina, velho conhecido da torcida do Palmeiras, reencontrará o ex-clube neste sábado, às 18h30, na Ressacada, na condição de "sobrevivente" no Avaí. Em um Brasileirão que já teve 26 trocas de comando em 30 rodadas, ele é um dos três que se sustentam na mesma equipe desde o início. Os outros dois, não por acaso, dirigem o primeiro e o segundo colocados: Tite, do Corinthians, e Levir Culpi, do Atlético-MG.
- Aprendi que você tem de se preocupar em atingir o objetivo do clube. Se você tem uma equipe em condição de fazer um calendário com Libertadores, o foco é esse. Se for uma equipe para brigar pela permanência, como é o caso do Avaí, não adianta iludir a torcida - disse o treinador, ao LANCE!.
Ele não faz a mínima questão de esconder que trabalha com o objetivo de manter o Leão na Série A. Por isso, acredita estar fazendo um bom trabalho mesmo que sua equipe esteja em 16º, apenas uma posição acima da zona da degola.
Técnico do Palmeiras entre setembro de 2012 e maio de 2014, Kleina sabe que desceu um degrau ao assumir o Avaí, mas acredita que seu trabalho na Ressacada irá credenciá-lo para assumir um projeto mais ambicioso no ano que vem. Ele deve deixar o clube catarinense em dezembro, quando termina seu contrato, e é cotado para voltar à Ponte Preta – comandada pelo interino Felipe Moreira, a Macaca sonha até com vaga na Libertadores.
- Fico feliz. A Ponte é uma camisa importante do futebol brasileiro, um clube em que tive boa passagem. Se for para as coisas darem certo, ficarei muito feliz - disse.
- Penso em consolidar um objetivo aqui no Avaí. Termina o contrato em dezembro e ano que vem quero desenvolver novamente um trabalho de buscar título, já entendendo como funciona esse outro patamar - completou.
Confira um bate-bola exclusivo com Gilson Kleina:
Só você, Tite e Levir estão à frente da mesma equipe desde o início do Brasileiro. Qual é o segredo?
Acho que meu trabalho está sendo pautado por ter início, meio e fim. Aconteceu na Ponte Preta, no Palmeiras, e aqui já estamos com um tempo legal também. A permanência passa pelo dia a dia, que mostra o nosso trabalho. E entender que o objetivo do clube é permanecer na elite e ter um calendário mais ambicioso no próximo ano.
O Avaí está próximo da zona do rebaixamento. Não dava para fazer campanha melhor?
Nos últimos dois anos, o Avaí teve uma mudança de filosofia. É um clube que está começando a usar mais a base, investe em patrimônio e estrutura, está com um projeto de modernizar todos os setores... Com isso, não pode canalizar todas as forças para o futebol, embora a gente saiba que essa é a mola propulsora de tudo. O Avaí tinha a necessidade de aparar arestas, desde CT até ações trabalhistas. Estamos fazendo um campeonato dentro do investimento, um campeonato de permanência mesmo. A gente sempre tem ambição, de repente jogar a Sul-Americana, mas o objetivo primeiro é não cair.
Você avalia de forma positiva sua passagem pelo Palmeiras?
O momento que passei no Palmeiras foi de conquistas, mesmo com dificuldades financeiras. Pudemos fazer um trabalho muito competente, desde o presidente Paulo Nobre. Tivemos uma dificuldade técnica em 2013, porque no início quase não tínhamos jogadores, e mesmo assim avançamos em primeiro do grupo na Libertadores. Perdemos para o Tijuana, que era uma equipe que chamava a atenção. Em 2014, iniciamos bem e saímos do Paulista em um jogo cheio de fatalidades. O Palmeiras tinha condição de fazer a final. O saldo foi positivo, não tivemos o resultado mais atrativo para a tradição do clube, mas o último título dessa agremiação foi a Série B com a gente. Muitos não quiseram comemorar, mas era nossa realidade.
Quais foram esses erros?
Fui para a semifinal contra o Ituano tendo que improvisar o Tiago Alves como lateral-direito, sendo que tínhamos o Luis Felipe lá, mas em litígio com a diretoria. Teve a saída do Henrique também. Se a gente conseguisse fazer a cabeça dele, junto com a diretoria, poderíamos colher frutos. Poderia ter ajudado também a manter o Alan (Kardec). Como treinador, pensei que não precisava participar dessas questões e deixei para a diretoria, mas poderia ter sido mais incisivo, mostrar a eles o quanto seria importante ter esses atletas.
Gilson Kleina nos tempos de Palmeiras (FOTO: Reginaldo Castro)
Do que você se orgulha daquela passagem?
A gente estava adaptando um conceito que hoje está muito forte no futebol brasileiro. Trabalhávamos com três atacantes e conseguíamos fazer uma sustentação boa com três volantes na ausência do Valdivia. Hoje o Corinthians faz isso com Ralf, Elias e Renato Augusto. Era bem o que nós fazíamos, claro que com outra dinâmica. Classificamos o time na Libertadores com Patrick Vieira, Caio Mancha e Vinicius no ataque... Isso é fruto do trabalho!
Por que tudo desandou depois da queda no Paulista-2014 e só começou a andar nesta temporada?
É difícil mensurar, mas tenho certeza que manter a base ajudaria. Nossa equipe fez um alicerce na Série B, com Prass, Henrique, Márcio Araújo, Valdivia, Alan Kardec, Leandro... Essa base foi desmontada. De todos os nomes, hoje você vê que só ficou o Prass. Chegaram jogadores estrangeiros, com certeza mudou-se a filosofia. A gente sabe que futebol não é receita de bolo, a adaptação não acontece da noite para o dia e no Palmeiras a cobrança é forte. Talvez o tempo não tenha sido necessário para o treinador seguinte (Gareca) e os jogadores não tenham tido a adaptação necessária naquele momento.
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