Palmeiras e as Memórias de um Olfato Infantil

7/11/2016 14:18

Palmeiras e as Memórias de um Olfato Infantil

Palmeiras e as Memórias de um Olfato Infantil

O ingresso da Final de 1994



Do dia 18 de dezembro de 1994, lembro, tirante o que revi mil vezes na TV, de umas poucas coisas. Lembro que choveu pra cacete antes do jogo e me diverti com a capa de chuva, eu e o Dedé, meu primo; que o pai dele, meu tio, estava, vejam vocês, com uma camisa preta do Manchester United, era raro camisa de time europeu, teve um palmeirense que ficou invocado, mas em geral as pessoas olhavam com curiosidade; que a Brahma estava lançando logotipo novo ou algo assim, e distribuía bonés ou abanadores, ou ambos, mas, como choveu pra cacete, foi tudo em vão; que nossa torcida cantou Gralak e Branco, em deboche aos defensores corinthianos, e eles, no tobogã, xingavam o Tonhão de "orelhudo e cabeção" em resposta; que no apito final eu estava descendo sozinho as escadas do banheiro, acho que fui alertado pelo meu tio, "não vai agora, o jogo vai acabar", mas criança apertada precisa mijar e eu fui; lembro também de um papai noel vestido de verde em cima de um carro e do Edmundo, em quem me perdia do jogo observando em sonho.



Quando saí do banheiro, Rivaldo, Clebão, Velloso e grande elenco estavam nos alambrados do Pacaembu e era dificil distingui-los de tantos jornalistas e bicões. Era fim de tarde e o céu estava confuso, nem dia nem noite, nem sol nem chuva, um pouco de tudo, um feixe de luz aqui e outro ali no meio de nuvens carregadas que já haviam deixado marcas na gente e a minha maior lembrança: o cheirinho do concreto molhado do estádio municipal.



O fim de tarde de ontem foi exatamente igual àquele de 1994. O cheirinho? O cheirinho eu não senti.



22



Devo dizer que não sou um homem bem resolvido com os anos 90. Me sobe um tipo indecifrável de sentimento quando uma música ou imagem transporta-me categoricamente a esta década. Acontece com todo mundo que não é mais criança? Sei lá, mas parece arrependimento, tem som de remorso, é como se eu tivesse feito pouco caso com Wonderwall, do Oasis, e outras catarses que me esperavam em passeios de bicicleta, tardes de várzea, festinhas sem graça, paqueras apavorantes, CDs potentes, ora, poxa, foi uma grande década.



Tudo acontecendo e eu praticamente só pensava em futebol. Só queria saber da Placar e da ESPN, e é uma pena que ambas, de certa forma, tenham abandonado a gente depois que envelhecemos, uma porque nós, trintões, compramos e bancamos pouco as revistas nas bancas, outra porque nós, trintões, não somos tão bons de twitter quanto a nova geração. Enfim. Tudo acontecendo naquela infância febril, e o Palmeiras me redimindo de ser apenas uma criança com óculos de grau vultuosos e só um assunto de interesse.



Pessoal do Fifa17 no Playstation4: em 1994, Palmeiras x Corinthians no vídeo-game era Irlanda, de verde, versus Áustria, de branco. Tinha um bonecão do Cebolinha em casa que eu punha sentado do meu lado. Ligava o Mega Drive para assistir, não jogar. Irlanda x Áustria, Palmeiras x Corinthians, e o Cebolinha era meu filho ou sobrinho, na verdade era eu mesmo enquanto emulava, com atuação impecável, meu próprio tio. Era assim e era um barato.



Não me assusta o tempo que passou, sou bem resolvido com os 32 anos e detesto essa coisa de "o ano passou rápido", passou rápido coisa nenhuma, se pensar bem um ano dura um ano, mesmo. Mas assusta que sejam 22 anos sem ser campeão dessa merda. Os anos 90 hão de me fragilizar em cada execução de Don´t Look Back In Anger, mas um de seus argumentos para me manter refém afetivo de suas memórias está perto de acabar.



Inter?



"Inter? Nem o de Limeira!", gritava preocupado e ébrio um dos nossos pela Rua Proibida, aquela em frente ao estádio do Palmeiras, saudoso de seus próprios traumas, e, olha, o palmeirense tem mesmo seus traumas de estimação e os alimenta com devoção. É a cultura do caos, ultimamente combatida com intolerância a tudo que se pareça crítica ou cobrança. O Inter de Porto Alegre encheu o nosso saco a vida inteira, de fato. O de Limeira é um vírus que corrompe nosso otimismo de tempos em tempos, mas que, se pensarmos bem, desde 12/06/1993, foi melhor assim. Eles sabem nos incomodar.



Houve até quem afirmasse ser Celso Roth um gênio defensivo, que seguraria nosso time em suas teias de quatro. Costuramos a necessidade da vitória no respeito que o receio histórico sugeria, e deixamos que a chuva fosse a moldura de um cenário dramático que, aos de fora, não é tão grave assim. Eles não entendem nada de Palmeiras, é o que digo ao meu porteiro todo dia, "Cês já ganharam essa porra", ele fala, "Você não entende nada de Palmeiras", respondo, e o elevador chega.



Que essa taça venha para 1994 descansar em nossas memórias, ou, aos mais jovens e em nome das cicatrizes mais grossas, para 2009 ser, de uma vez por todas, um rio que passou em nossa vida. Talvez tenha feito sentido manter Cleiton Xavier jogando mal o ano inteiro. O gol dele na tarde de ontem, olhando o livro de trás pra frente, tem todo nexo agora pra mim.



E eu entro pela entrada errada, no miolo da torcida organizada, mas fico um pouco ali, com a voz presa, e um sujeito muito bêbado me puxa, literalmente, a orelha, com uma força razoável. "Ei Grisalhô, não faz essa cara não, nós vamos ganhar essa porra". E me abraça feliz. Não foi a única vez no dia que acreditei em profecias alcoolizadas, mas foi a primeira vez que me puxaram a orelha com tamanha força, e também a primeira vez que me chamaram de Grisalhô.



É o tempo, Leandro. Nasce, cresce, reproduz, morre e, para quem ama um time, renasce.







3486 visitas - Fonte: ESPN FC

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Quem Escreveu Essa Msg ??? 1994 eu me Lembro chuvia pra Caraio memo,Acho que a infancia de Todo Palmeirense é meio parecida neh,principalmente daqueles que viveram s decada de 90,pow a gnt tinha que se vira pra poder assistir um jogo,porque nem todo mundo tinha tv em casa,ou a mae nao dexava assistir mesmo pra ela assistir o Silvio Santos.

Quem Escreveu Essa Msg ??? 1994 eu me Lembro chuvia pra Caraio memo,Acho que a infancia de Todo Palmeirense é meio parecida neh,principalmente daqueles que viveram s decada de 90,pow a gnt tinha que se vira pra poder assistir um jogo,porque nem todo mundo tinha tv em casa,ou a mae nao dexava assistir mesmo pra ela assistir o Silvio Santos.

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