Felipe Melo não tomou champanhe no banco de reservas do Mineirão, de modo que foi sóbrio, embora surreal, seu desabafo para o microfone da Sportv logo após o apito final. Não sabíamos ainda que era sua última contribuição para a narrativa do "contra tudo e contra todos", tão bem aceita entre torcidas de times grandes e tão bem manejada pelo camisa 30 desde que chegou ao clube. Não se pode dizer que Felipe Melo não está antenado com o meio em que vive, do Instagram oportuno à canopla certa da TV principal, mas será que foi o caso? O personagem se sobrepôs ao homem mesmo quando não haviam câmeras, e, sabemos agora com elementos confiáveis, o cara fez o diabo no vestiário.



No começo, tudo era um vídeo de sete segundos em um hall de hotel. "Tem que jogar, tem que ter culhão", falava um conselheiro à frente de Felipe Melo, este com as mãos para trás. Entre os dois, Alexandre Mattos, apartando. Esta diretoria comprou a briga de Felipe Melo, ainda que já na apresentação ele estivesse mais preocupado em destratar quem não comprou. Ela tentou apartar, e depois restaurar as arestas. Jogaram Bruno Henrique para falar com a imprensa sobre o nada em uma quinta-feira quente, fervente, do outro lado da porta. Ganharam um tempo precioso que se tornou inútil quando o afastamento se tornou público na sexta, dia seguinte, pouco depois da entrevista de Cuca.



Cuca falou de novo com os jornalistas no sábado. A diretoria só se pronunciou no almoço de terça. É muito tempo de diferença. Pareceu cômodo à direção deixar a versão do treinador ricochetear pela cidade, e ela sabia que era uma versão, vamos falar assim para não ofender, "adaptada" da realidade. Escrevi ontem, segunda, sobre ela, já sem crer totalmente nela. Todos já sabiam que Felipe Melo, o canastrão da história, se pronunciaria a qualquer momento, destratando alguém, envolvendo pessoas, times, essas coisas do Felipe Melo que ninguém aguenta mais. Mattos optou por ser o último do trio a se posicionar. E quando o fez, tirou, ao menos de mim, maiores dúvidas sobre a cronologia da história.



Cuca merece compreensão por ter usado os microfones para mentir sobre os motivos do afastamento, mas nos relembra que aquilo que se diz em público não deve ser necessariamente encarado como verdade, e é por isso que são importantes aqueles jornalistas chatinhos que buscam nos bastidores a notícia que ninguém tem - e geralmente são acusados de vagabundos que querem tumultuar o ambiente. Mas não tem meio-termo: a gente deixa de acreditar em fontes quando elas mentem, e deve deixar de acreditar em entrevistados quando eles fantasiam fatos e inventam uma resposta, ainda que, por mais que eu cobre de Cuca a tomada das decisões, certos anúncios sejam mesmo papel da direção, não dele.



E termina assim a história. Como em uma novela de baixa audiência, o impacto da dita cuja será pequeno, por culpa direta de seus atores, incapazes de transformar o roteiro em algo atraente. Felipe Melo é mais um que chegou e partiu sem entender nada do Palmeiras, sem ser o ídolo que gostaria, mas conectado ao grito dos que se sentem perseguidos pelo planeta. Não pode reclamar da diretoria, nem de Cuca, mas também não pode ficar na história como um mal jogador. Fez algumas boas partidas pelo clube, mas não foi suficiente para deixar saudade real. Cuca se saiu, creio, melhor do que esperava, já que não atropelou seus superiores e ao mesmo tempo mostrou poder aos comandados. Deu a sorte de seu antagonista ser um pateta que, como bem disse o amigo Conrado Giulietti, se enforcou sozinho. Mas, como jornalista, seguirei desconfiando de tudo que disser. Mattos agiu tarde, mas bem, e tem o mérito de estar lidando bem com algo que contraria suas vontades - ele acreditou em Felipe Melo.



Amanhã dois dos três personagens estacionarão seus carros nos mesmos lugares. Um deles, aquele que queria ser ídolo antes de jogar, acelerou tanto o processo natural das coisas que não cumpriu nem um terço de seu contrato. E depois de tudo isso, incrivelmente ainda precisamos vencer o Barcelona por dois gols de diferença.

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