O Palmeiras conquistou três títulos em 2020 (Paulistão, Libertadores e Copa do Brasil) e viveu a temporada mais vitoriosa desde 1993. Ao lado do sucesso, no esporte de alto nível, caminha a cobrança. Pelo menos essa é a análise interna no clube, que prevê um 2021 ainda mais complicado por conta do calendário apertado e diante da responsabilidade pelo sucesso obtido.
Para cumprir a expectativa, o Palmeiras “aumenta o sarrafo” no trabalho do dia a dia. O planejamento para um 2021 de bons resultados tem pontos importantes definidos, como contou o coordenador científico Daniel Gonçalves, em entrevista exclusiva concedida ao ge. As exigências e cuidados vão ser elevados fisicamente, taticamente e mentalmente.
– A gente tem que focar no estabelecimento de novos processos, na utilização de alguns mantras: autoconsciência coletiva tem que ser estabelecida. Estou na sala do Núcleo de Saúde e Performance e de frente já para um painel que tem um mantra: aumentar o sarrafo. Mais exigência, mais trabalho; isso vai nos levar a mais vitórias e conquistas – comentou.
– A temporada do ano passado elevou nosso sarrafo e vai exigir mais da gente. Um dos processos será a recuperação, mas treinar ainda no nível superior ao do ano passado, ter estratégias coletivas estabelecidas pelo Abel ainda superiores às do ano passado para elevarmos ainda mais o padrão do Palmeiras, conseguindo voos mais altos nas competições nacionais e internacionais –acrescentou Daniel Gonçalves.
Nas estratégias estabelecidas, o Palmeiras vai reforçar o cuidado com a saúde mental dos atletas. A Era das redes sociais e da circulação de informação em tempo real, principalmente nas páginas individuais de cada um, mudou como o jogador encara o ambiente externo. O clube, desde a chegada de Abel Ferreira, conta com a psicóloga Gisele Silva efetivada no time profissional.
– Prioritariamente, o reestabelecimento físico e emocional é fundamental para suportarmos a temporada 2021 – exemplificou Daniel Gonçalves.
As críticas aos atletas, que muitas vezes transcendem a análise esportiva e apelam para ofensas pessoais e ameaças, atingem diretamente os seres humanos envolvidos no dia a dia do futebol. Portanto, na vitória ou na derrota, todo cuidado é pouco, e o Palmeiras pretende dar ainda mais atenção a essa parte psicológica.
– Abel já diagnosticou que o futuro de um atleta de futebol de maneira integral seria com questões da autopercepção, da autoconfiança e de como lidar com a opinião externa, que circula de uma maneira ágil e muito feroz nas críticas e na elevação. O atleta tem que estar preparado para saber lidar com as críticas e com aquilo que possa ser positivo para sempre render dentro de campo – explicou Daniel Gonçalves.
– A Gisele fazia trabalhos eventuais com o Luxemburgo, que é um entusiasta também com a presença da psicologia. Com a chegada do Abel e com o que vinha sendo planejado, veio a efetivação – relatou o coordenador científico do Palmeiras.
Confira a entrevista na íntegra com Daniel Gonçalves:
Qual foi o maior desafio que tiveram diante do calendário?
– O calendário congestionado e com intervalo curto de recuperação aumenta a incidência de lesão. Mesmo sem a pandemia, sabemos que o atleta entra normalmente no jogo sem estar 100%. Isso acaba comprometendo a qualidade do espetáculo e a intensidade do jogo. A gente teve o desafio de minimizar as lesões ou calcular os riscos; sabíamos muitas vezes que nossos atletas não estavam recuperados totalmente para os jogos, mas naquele contexto da circunstância era necessário que o atleta estivesse em campo pelo sincronismo tático, pelo peso do atleta de renome numa equipe e também contra o adversário. Corremos o risco de mais lesões e ao mesmo tempo investimos em recursos tecnológicos para monitorar os atletas em tempo real para ter as informações mais úteis possíveis para Abel e comissão.
O quanto as férias foram importantes para questão emocional e sequência da temporada? O time perde de alguma forma por esse descanso?
– Até complementando a anterior, o segundo desafio foi nas questões emocionais: como manter o atleta apto para a sequência de jogos em uma temporada tão exaustiva. Não é só pela quantidade de jogos, mas as restrições, as condições sanitárias, o uso da máscara, também faz ter desgaste. Tivemos uma experiência de bolha no Mundial que trouxe fadiga emocional para a equipe. Quando chega no local tão almejado, a gente ter que ficar trancado no hotel para ficar na bolha. Esse recesso será importante para resgatar psicologicamente os atletas. Os jogadores conviveram mais em grupo do que com as famílias. Do ponto de vista físico será proveitoso, pois é uma paralisação curta, não é suficiente para o atleta perder condicionamento de uma maneira significativa ao ponto de necessitar de uma nova pré-temporada.
Vem uma nova pré-temporada com a paralisação?
– O Palmeiras é um clube que vai cumprir todas as determinações estipuladas pelas autoridades. A gente acredita que o futebol, embora o vírus circule normalmente na nossa sociedade, é um dos ambientes mais seguros das atividades econômicas. Há muitos profissionais da área da saúde, cobrança de distanciamento, uso de máscara, testes periódicos para identificar vetores assintomáticos, se não tiver futebol os atletas vão ficar em casa e não conseguiríamos isolar esses vetores assintomáticos. Não há estudos comprovados que haja contágio no jogo de futebol por ser um ambiente aberto. O futebol é uma das atividades mais seguras do ponto de vista sanitário. Com a confirmação, pensamos que seria de grande valia recuperar fisicamente e psicologicamente, mesmo com dois grupos separados. Estamos em conversa e vamos respeitar as recomendações para definir as ações. Prioritariamente, o reestabelecimento físico e emocional é fundamental para suportarmos a temporada 2021.
Poderia detalhar e exemplificar esse investimento em tecnologia?
– O Palmeiras tem se notabilizado por ser um clube de vanguarda não só de estrutura física, mas como tecnologia e recursos humanos. É louvável a diretoria não demitir funcionário em pandemia e valorizar financeiramente os colaboradores com as conquistas, como um 14º salário. A gente percebe um corpo de funcionários atuante. Há reuniões periódicas interdisciplinares com o contraditório estimulado para ter condutas adequadas à realidade e união com as outras áreas, como a técnica com Abel e João Martins e análise de desempenho. Há o investimento em recursos tecnológicos para que individualizemos os processos de treinamento e investigação de fadiga dos atletas. Temos um aparelho de monitoramento em tempo real da frequência cardíaca dos atletas, que, treinando, sabemos quem está absorvendo melhor o treino e aquele que está mais fadigado. Consequentemente, conseguimos conduzir as ações no treino em tempo real, permitindo que o jogador fique ou saia da atividade mais cedo.
– Há um protocolo mais rígido com a Covid-19, mesmo que um atleta manifeste sintomas brandos e fique assintomático, esse atleta é investigado minuciosamente na parte bioquímica e hematológica, nas partes das funções vitais e etc. Quando ele volta a treinar, esse acompanhamento em tempo real da frequência cardíaca permite que a gente evolua de maneira gradativa, sem expor a saúde do atleta para que ele consiga se reestabelecer. Há também outros recursos importantes como termografia, análise bioquímica e o próprio GPS, além de ações conjugadas de fisioterapia, medicina e nutrição, e depois de avaliações de ordem mental e emocional, já que os atletas ficaram também muito impactados.
Como foi enfrentar esse problema da Covid-19, tão ruim e novo para todos?
– Apesar da doença para a comunidade científica ainda ser nova e ter aspectos desconhecidos, claro que o momento inicial veio com maior impacto, pois houve um assombramento geral por lidar com o diferente para a comunidade do futebol. À medida que novos estudos foram demonstrando que pessoas com o sistema imunológico fortalecido, e o atleta é uma pessoa fortalecida nesse quesito, teria menos possibilidade de adoecer gravemente, os jogadores ficaram mais confiantes que o retorno respeitando os protocolos seria possível.
– Quando o atleta termina um jogo, as condições de imunidade ficam em baixa, então cuidados redobrados com alimentação e descanso foram tidos, não somente para ele se reestabelecer ou para evitar adoecimento pela Covid-19. Eles estão mais adaptados, mas o recrudescimento da doença faz que a gente tenha cuidados redobrados com a rotina do CT, como distanciamento social, menor número de pessoas circulando, recomendações para a vida social. Teremos ainda uma temporada com muitos cuidados em relação à Covid-19.
Houve consequências pós-Covid percebidas pela ciência palmeirense?
– Dois momentos impactaram muito. Primeiro, a quarentena que obrigou os atletas a deixarem de treinar especificamente futebol por um período prolongado e nunca antes visto; a gente só tinha um caso semelhante na literatura esportiva que ocorreu com o lockout da NFL de 2011, e a gente sabia que teria consequências, principalmente no aumento da incidência de lesões, pois o tempo prolongado faz que o atleta perca o timing. Esses atletas foram orientados a se manterem ativos, a grande maioria até ganhou massa muscular na inatividade, fruto da alimentação, do treinamento e da pouca exigência competitiva. O treinamento de futebol é concorrente ao trabalho de força, então é um desafio para o atleta se manter no mais alto nível.
– O segundo aspecto é para quem testou positivo para a Covid-19. Primeiro, o atleta ficar recluso durante dez dias atrapalha o desempenho físico, há uma perda de condicionamento físico a nível celular e neural. Outros, com processo de combate à doença, viram o organismo ficar debilitado ao ponto de precisar de um tempo maior para se restabelecer. Todos foram criteriosamente estudados e tinham condições de retomar a prática esportiva com segurança. Dois, percebíamos perdas das capacidades cardiorrespiratória e metabólica, mas algo bem sutil. Muitas vezes tinha uma percepção de não estar condicionado, mesmo com marcadores não demonstrando, isso chamou atenção para ficarmos atentos nos novos casos.
E qual investimento na parte mental, cada vez mais importante nesse mundo moderno?
– Temos um processo de desenvolvimento há alguns anos. Já tinha sido uma questão proposta pelo Cícero Souza e pelo Anderson Barros para ampliar esses processos sobre a parte mental para 2021. Isso calhou com a vinda do Abel Ferreira, que é entusiasta dessas questões, como o João Martins. Então, novos processos foram acontecendo, como a efetivação da psicóloga Gisele Silva, que fazia trabalhos mais com os atletas da base e ocasionalmente vinha para o profissional. Ela foi incorporada no meio da temporada e novos processos foram estabelecidos. A gente visa, com a liderança do Abel e técnica da Gisele, estabelecer novos propósitos na parte emocional, um mental coaching. O Abel já diagnosticou que o futuro de um atleta de futebol de maneira integral seria com questões da autopercepção, da autoconfiança, como lidar com a opinião externa, que circula de uma maneira ágil e muito feroz nas críticas e na elevação. O atleta tem que estar preparado para saber lidar com as críticas e com aquilo que possa ser positivo para sempre render dentro de campo.
A efetivação da psicóloga veio com Abel Ferreira no comando?
– Veio com Abel Ferreira no comando.
Gabriel Veron e a sequência da temporada complicada. Como é o trabalho com ele?
– Sobre o Veron: ele é um atleta em formação, um atleta jovem com apenas 18 anos, e está em um processo final de formação ainda sendo estabelecido. Em conversa com a Gisele, sabemos também que a formação mental e cognitiva do jogador vai até os 23 anos, de uma maneira bem significativa. Nos aspectos fisiológicos, atleta de 18 anos também é um atleta em formação com ganho de força e potência, embora o Veron seja precocemente desenvolvido e bem trabalhado nas categorias de base. Nas questões físicas, ele é um atleta muito rápido e muito forte, tendo que se adaptar às exigências de jogar entre os profissionais. Veron jogava também com atletas em formação, que ele conseguia tirar vantagem pela questão física. Hoje no profissional ele lida com atletas prontos e igualmente fortes, então ele tem que se adaptar.
– O que atrapalhou muito o Gabriel Veron foi uma lesão na intertemporada pós-quarentena. Foi uma lesão muscular grave e que custou o reestabelecimento físico durante a temporada. Como havia jogos importantes e decisivos, não fizemos o trabalho de recuperação física plena como ele necessita. Há um planejamento para o Veron, depois desse recesso merecido, fazer uma varredura nos aspectos bioquímicos, hematológicos e biomecânicos. Fazer um planejamento para ele se estabelecer no ponto de vista físico para temporada ainda mais promissora do que em 2020.
Vamos sair de uma ponta para outra. Falamos do jovem, agora do experiente. Felipe Melo, aos 37 anos, pode ser considerado um fenômeno fisicamente?
– Sim, o Felipe é um atleta completo. Ele tem inteligência emocional elevada, autoconhecimento ao ponto de conseguir acelerar o processo de uma recuperação de lesão grave. Quando ele passava essa confiança, ele fez que o NSP acreditasse também. Obvio que sofre com os efeitos do envelhecimento, como todo atleta a partir dos 30 anos. A literatura fala que de 1% a 10% de força, pelo envelhecimento muscular, a pessoa vai sentir. O Felipe não vai ter a mesma potência de 23 anos, mas vai suprir com inteligência, com liderança. Temos um proposito aqui dentro de ter um contraditório, que os atletas complementem. Ele deu a visão dele, assim como Luiz Adriano e Weverton, e formação aos jovens. Ele se destaca muito pelo conjunto da obra, tanto fisicamente, questão cognitiva e emocional. Ele é um dos destaques fisicamente. Conseguiu se estabelecer bem após as lesões. Cada atleta tem a sua característica, e ele se notabiliza pela força e tem conseguido manter os níveis mesmo com uma idade mais avançada para um jogador de futebol.
Qual o peso da estrutura na temporada histórica do Palmeiras?
– Estrutura é fundamental. O atleta vem com gosto, prolonga o tempo no clube e mais facilmente adere aos processos. Por mais que a gente cobre profissionalismo no futebol, o tempo do treino no campo não vai passar de 1h30, pois tem uma questão de densidade e especificidade. Se prolonga muito o tempo no campo, você vai acabar treinando diferente do que vai ser o jogo. Existe uma máxima que treino é jogo e jogo é treino. Tem que treinar como se joga, com treinos curtos e intensos. Se o atleta adere ao processo, ele chega 2h antes do treino e sai 3h depois do treino, ficando 6h, 7h, dentro do clube acelerando processo de recuperação, fazendo trabalho individualizado e investindo na força. Palmeiras dá todas as condições na Academia de Futebol. Aqui também proporciona ciência e tecnologia para serem implementados. Abel diz que nossa estrutura é superior a clubes europeus, e acreditamos que estamos similares a grandes clubes europeus, mesmo sabendo das condições econômicas que o país atravessa.
Palmeiras, Entrevista, Coordenador Científico
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Joao Gonçalves chato do caralho ... foi do Rony o cruzamento do gol do Breno Lopes na Libertadores... cala sua boca e vai torcer pra outro time corneta de merda
Aproveita pra treinar muito: cruzamentos dos laterais, finalização principalmente o Rony, pênaltis, passes, e batida de escanteio