Arce relembra título de 1997 com Grêmio, reclama de 'torcedor das redes sociais' e explica recusa ao Palmeiras: 'Balançou muito'

24/11/2016 08:04

Arce relembra título de 1997 com Grêmio, reclama de 'torcedor das redes sociais' e explica recusa ao Palmeiras: 'Balançou muito'

Arce relembra título de 1997 com Grêmio, reclama de 'torcedor das redes sociais' e explica recusa ao Palmeiras: 'Balançou muito'



A segunda chance pode não acontecer no futebol (na vida?), e Francisco Javier Arce Rolón sabe disso. Chegou como unanimidade ao comando da seleção paraguaia em 2011, mas no ano seguinte, e após somente cinco jogos, acabou demitido.



O ex-lateral direito de Grêmio e Palmeiras, então, "recomeçou" a carreira de técnico - como ele mesmo definiu. 'Chiqui' Arce recusou deixar o Paraguai, trabalhou nos principais clubes do país, ganhou títulos, disse "não" à aproximação do time alviverde e agora está de volta ao comando da Albirroja.



Em seis jogos, Arce obteve duas vitórias e quatro derrotas - as últimas doloridas para Peru (4 a 1 em Assunção) e Bolívia (1 a 0 mesmo com um jogador a mais). O Paraguai ocupa a sétima colocação nas eliminatórias sul-americanas para a Copa de 2018 com 14 pontos, cinco atrás da Argentina, atual quinta colocada, e a sombra de perder novamente um Mundial como há dois anos paira sobre o ex-jogador.

"Resiliente", o treinador de 45 anos conta em entrevista exclusiva ao ESPN.com.br as dificuldades do atual trabalho, como é lidar com o "torcedor de redes sociais", elogia o trabalho de Cuca, lembra dos títulos da Copa do Brasil conquistados por Grêmio e Palmeiras além de explicar por que não assumiu a equipe de Palestra Itália naquele abril de 2014.



E admite que essa recusa o balançou muito.



Veja abaixo a entrevista com o técnico 'Chiqui' Arce:



ESPN.com.br - Esta é a sua segunda passagem como técnico da seleção paraguaia. Quais as diferenças em você de uma passagem para outra?

Arce - Nesses quatro anos entre a primeira e segunda aconteceram muitas coisas importantes na minha vida profissional. Foi praticamente um recomeço. Depois daquela primeira vez, voltei para o Rubio Ñú, aí fui para o Cerro, onde conquistamos um título invicto, fiquei um ano e oito meses, o que é difícil, time de exigência, muita massa. Fiquei sem trabalhar um tempo e pulei para outra vereda, o Olimpia, o que gerou um impacto muito forte aqui por causa da identificação com o Cerro e também deu certo, conquistamos um título depois de quatro ou cinco anos. Depois fui para o Guarani, onde estava fazendo uma campanha muito boa e aí chegou a ligação, a oportunidade. Estava fazendo um trabalho com muito prazer no Guarani, que é a terceira força daqui e está perto de ganhar o título. A gente fica mais maduro com isso, mais experiente, com muito mais paciência para entender como funcionam as coisas, de relacionamento, torcida, imprensa, tudo o que acontece ao redor para manejar melhor e só focalizar no trabalho. Essa é a mudança principal.



Nessa nova passagem, você sente que tanto a torcida quanto a imprensa estão menos pacientes com a seleção depois de não ter se classificado para a Copa do Mundo de 2014?

Eu acho até que tem uma diferença muito grande aqui: o torcedor das redes sociais e o torcedor normal, de rua, que você encontra cara-a-cara. Acho que tem muitas pessoas que entendem o que está acontecendo, que há uma geração muito nova, com 70 ou 75% dos jogadores que não tem mais do que sete ou oito jogos na seleção, mas que são os que melhor estão vivendo fase nos seus clubes. Está havendo uma transformação. Com certeza, pelo nosso início após a partida contra o Chile, gerou uma expectativa muito grande e depois teve muitos altos e baixos. Isso é normal que gere certa insegurança, mas acho até que se você fosse só olhar as redes sociais pareceria que está tudo mal. Ali aparece muita merda, né? Parece ser um espaço de consulta psicológica geral, né? No dia-a-dia o torcedor te encontra e dá força, tem pessoas que te consultam e te criticam de maneira construtiva. Mas de outro aspecto é muito desagradável, isso é uma tendência nova de se comunicar na vida, e também tem que ser aceita. A gente aceita, mas entendemos que tem trabalho por fazer ainda, porque entramos na sétima rodada.



Roque Santa Cruz se aposentou da seleção, e a geração mais velha está quase no mesmo caminho. Como fazer para surgir novos líderes?

Nesse tempo de três meses e seis jogos só tocamos temas pontuais, diretos, porque não deu muito tempo de conversar com eles. Já agora, até março, estamos querendo juntá-los quando vierem de férias para conversar mais. Os mais antigos são bem necessários para transmitir aquilo muito mais rápido, porque depende de muitas coisas, interesse, fortaleza mental, mas isso ainda dá tempo. Roque não está mais, e ainda sobram quatro ou cinco, temos que procurar mais conversas e trabalhar a parte psicológica. Até março tentaremos deixar os erros que cometemos, que propiciaram nossas derrotas, e manejar melhor essa ansiedade, principalmente quando joga em Assunção.



Aproveitando que o Grêmio está novamente na final da Copa do Brasil: o que você lembra da final de 1997 contra o Flamengo?

Os três anos do Grêmio foram muito intensos, porque a força era do grupo, a unidade, a facilidade que o Luiz Felipe (Scolari) tinha de agrupar todo mundo para a gente se entender, brigar pelo coletivo. Era o único jeito que tínhamos de competir com forças maiores como Cruzeiro, Palmeiras e Flamengo, que tinha naquela época o ataque dos sonhos. Naquela final, empatamos em Porto Alegre e já saímos com aquela ideia: ‘Será que não vai ganhar de novo?' - nós perdemos a final em 1995 para o Corinthians. E acabamos empatando num Maracanã que tinha mais de 120 mil pagantes, e foi fantástico. E nem deu tempo para comemorar, porque também naquela época um time chegava ao mesmo tempo em outras fases decisivas e lembro que fomos direto para Belo Horizonte enfrentar o Cruzeiro. Insisto que esses três anos foram muito marcantes pelo entendimento entre todos, até hoje temos comunicação com a maioria - acho que no dia 15 de dezembro estão fazendo um jogo para comemorar o título de 1996, 20 anos depois. Pessoal brinca hoje no WhatsApp como se fosse ontem.



Você estava marcando o Romário no segundo gol daquela final de 1997. Achou que ali título tinha escapado?

Romário me atropelou (risos). Não, nosso time era muito forte nisso, não era a primeira vez em que estávamos em desvantagem numa final, semifinal ou fase decisiva. A base foi se mantendo, conquistou seis títulos. Nossa maior força era a calma, a confiança no grupo, de não se entregar nunca, correr atrás de tudo, saber jogar muito com as nossas debilidades, mas também entendendo que tínhamos muita força na bola parada, na marcação, em dois ou três caras que decidiam sempre. Carlos Miguel fez o gol. Tínhamos uma base que já vinha de 1995: Danrlei, eu, Rivarola, Roger, Carlos Miguel, Goiano, João Antônio... tinham saído só Adilson, Arilson e Jardel. Nunca entramos em desespero. Nosso time sabia muito bem jogar com o regulamento: na semifinal de 1995, fizemos um gol com Jardel no Maracanã, perdemos por 2 a 1 e fomos para o aeroporto comemorando, porque sabíamos que no Olímpico, com a força da torcida, era uma fortaleza importante. Um percentual muito elevado, viramos todos os resultados jogando no Olímpico, mas naquela final foi diferente. Apesar da sensação negativa para jogar o segundo jogo, o time foi muito forte. Foi nosso último título com essa geração.



O técnico naquele título era Evaristo de Macedo, né?

Evaristo de Macedo (risos)... Figura, né? Don Evaristo. Ele tinha dias que falava comigo em espanhol, porque jogou muito tempo na Espanha. E um ex-companheiro dele no Barcelona, um grande paraguaio chamado Cayetano Ré - técnico que classificou o Paraguai para a Copa do Mundo de 1986 -, e um dia em que viemos aqui para jogar a Libertadores ele me pediu para encontra-lo. Ele estava dirigindo o Guaraní, fomos procura-lo, e eles se encontraram. Evaristo ficou muito feliz em encontrar o companheiro, um baixinho que jogava de centroavante.



E no ano seguinte você ganhou a Copa do Brasil pelo Palmeiras com aquele gol "espírita" do Oséas. Como foi?

E eu não joguei essa partida, foi a única que não joguei, porque estava junto à seleção para disputar a Copa do Mundo. Jogou Neném, ele saiu na foto (risos). Eu não estou na foto. Acompanhei o jogo, vi as imagens, ansioso... Lembro que na época estávamos rodando por Romênia, Bélgica para jogar uns amistosos, e foi mesmo o (Paulo César) Carpegiani quem ligou no quarto para falar (do título). Vimos as imagens depois, ligamos para o pessoal para parabenizá-los.



Foto do Palmeiras campeão da Copa do Brasil de 1998. Sem Arce na foto





Como você vê o Palmeiras perto de ser campeão brasileiro novamente?

A chegada do Cuca - pelo que a gente acompanha de fora ou conversa com o pessoal que ainda está aí da nossa época - deu uma estabilidade muito importante. Não o conheço pessoalmente dirigindo, lembro de tê-lo enfrentado, mas é um cara que transmite tranquilidade e uma sensação de vitória muito importante. Quando jogador já era assim, e o currículo como treinador dá muito isso. Não troca de calça (risos). E o time começou a jogar num esquema que facilitou muito as qualidades individuais. Depois apareceu estável no coletivo, tem jogadores rápidos, achou essa posição para o Gabriel Jesus, eu acho o meio muito bom. Achou depois da lesão do Fernando Prass - que era uma segurança e sem ele parecia não ter a mesma segurança -, o goleiro que atualmente está correspondendo. Merece o que está tendo, o que vai conseguir, e tem estabilidade, o que sempre procuramos nos times. E há um exemplo muito grande do Zé Roberto: se ele está correndo como agora, como os outros não vão seguir o exemplo? Acho que vai ganhar o título com merecimento.



E o que esperar do Grêmio na final da Copa do Brasil? (a entrevista foi feita antes da partida de ida)

Eu acompanhava muito falando quase que semanalmente com Roger, quando ele dirigia lá, pela amizade - ele muitas vezes vinha aqui, e eu ia visita-lo lá. Ele deixou um trabalho muito bem feito que, com a chegada do Renato, liberou algumas pressões que tinha por causa dos maus resultados. É uma briga boa, porque Atlético tem um treinador (Marcelo Oliveira) que sempre conquista títulos, que se colocou como um dos melhores do Brasil. Enfrentei-o quando ele dirigia o Cruzeiro e eu o Cerro, tem qualidade para montar times. É uma parada interessante, mas sou mais Grêmio.



Você foi demitido do Cerro Porteño e depois foi para o Olimpia. Você se vê um dia treinando Corinthians ou Internacional?

Pelo que eu me lembro daquela época de jogador, parece até mais natural... Não vejo o Luiz Felipe no Inter, por exemplo, mas houve depois muitos treinadores que mudaram (para times rivais): (Vanderlei) Luxemburgo, Celso Roth lá no Sul também. Aqui é um país muito pequeno, Assunção também, e há princípio tinha uma restrição muito grande, mas nunca chegou em sentido de ofensa, de violência. Mas foi uma parada dura de se aguentar no início. É raro, é diferente, mas eu acho que tem uma cultura futebolística muito mais avançada nesse sentido de aceitação para essas coisas aí no Brasil.



Existiu alguma chance de você treinar Grêmio ou Palmeiras?

Só no Palmeiras em maio de 2014 depois da saída de Gilson Kleina, antes da chegada do Ricardo Gareca. Falei com Omar Feitosa. Ele ligou, falei com o vice-presidente, mas eu tinha mais um ano e meio com o Cerro - renovei seis meses antes depois do título invicto -, comuniquei ao diretor de futebol daqui, e no dia seguinte agradeci o convite, para não deixar de cumprir uma obrigação. Três meses depois, me mandaram embora. Mas não me arrependi, porque não gosto de largar as coisas. Sim, me balançou muito a oportunidade, você não sabe se vai surgir de novo. Falei com alguns ex-companheiros e ex-treinadores, mas acabei não saindo daqui, mas agradecendo muito naquela oportunidade a conversa, a lembrança, porque lembro que era um momento muito difícil do time, estava muito mal naquele momento. Essa foi a única possibilidade certa de terem ligado diretamente, porque também não tenho procurador, e acabei não abrindo essa possibilidade.



Por que está a palavra Resiliente em seu perfil no WhatsApp?

Porque essa minha fase de treinador tem sido mais difícil do que a de jogador. A primeira vez que assumi um time todo mundo me falava: ‘Você tem que dirigir fora, aqui não vai conseguir impor o que você quer. Seu estilo de manejo é diferente da organização que tem aqui, seu gosto pelo futebol...' Todos acham que trago minha essência do Brasil. Isso chamou a atenção no Rubio Ñú, onde fiquei por três anos e meio, porque me falavam que era essa a única maneira de dirigir, senão me mandariam embora muito rápido. Daí me chamaram para a seleção, a unanimidade era quase total, e nessa transição, chegando uma geração nova, o certo era o que a gente estava propondo. Mas depois de cinco jogos me mandaram embora, e aí comecei de novo. E chegaram de novo para mim, amigos, familiares: ‘Vai embora, os caras aqui vão te dar no meio, você não vai aguentar'. No final, decidimos ficar para recomeçar. Mantive a convicção, a essência - eu gosto de jogo bem jogado, e nos demos bem com isso. E só isso gerou nossa volta (à seleção), é difícil ter oportunidades para os paraguaios na seleção. É isso, resiliência. Sobrevida depois da adversidade.



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